sexta-feira, 14 de julho de 2017

Sob o Julgo da Violência

Que cidade é essa em que um bebê, antes mesmo de nascer, é atingido no útero e submetido a inúmeros procedimentos médicos, com o objetivo de salvar a sua vida e evitar uma paralisação de seus membros? Esse bebê não é só um corpo, há todo um início de vida já marcado por sofrimentos profundos que certamente terão influência no seu desenvolvimento emocional.

Quantas crianças e adolescentes são mortos na inútil guerra contra o tráfico? O que uma comunidade, repleta de pessoas, pode esperar dos tiroteios a céu aberto, que não a morte? As balas perdidas que dançam no ar só podem aterrissar nos corpos de inocentes.

Quanto tormento essas famílias sofrem, perdendo seus filhos e o carioca parece entorpecido diante dessa brutalidade, sem saber o que fazer.

Os próprios policiais também são vítimas dessa violência, com elevado número de mortes.

Assim estamos vivendo nessa cidade, dita maravilhosa. A violência no Rio está disseminada, das comunidades ao asfalto. Nos túneis, nas ruas, nos restaurantes, nas praias. A cada uma hora um turista é assaltado e ainda se dá graças a Deus se sair vivo.

Mata-se por tudo e por nada, briga no trânsito, pequenos furtos, por qualquer reação do assaltado e por qualquer objeto que pertença ao outro. Um revólver nas mãos de um jovem e as instruções da polícia para que não haja reação, conferem ao assaltante um poder glorioso. Toda a humilhação e trauma sofridos na infância desvalida podem se reverter em gozo, no momento em que o assaltado humilhado implora por sua vida.

Essa insegurança em que vivemos têm muitas origens, vou citar algumas: cobre o país um ar de criminalidade. Os poderosos do governo estão não só nos assaltando, como também nos humilhando com toda sorte de atos imorais, com provas documentadas e defesas patéticas que ofendem nossa inteligência.

A pirâmide social é tenebrosa, com desvios escandalosos, onde poucos têm muito e muitos não possuem nada.

A educação é bem ruim e não atraem as crianças. Grande contingente de alunos abandonam as escolas e muitos vão para as ruas. Onde falta a educação, sobram crimes e criminosos.

Outra causa é a situação pavorosa das penitenciárias, saturadas e desumanas. Nem lugar para se prender existe. Os jovens delinquentes são impedidos de permanecer em unidades socioeducativas porque o número delas no Rio é mínimo, assim o crime vira um meio de vida.

Não temos uma Secretaria de Segurança, nem estadual e nem municipal, capaz de dar conta da selvageria que tomou conta da cidade. Não planejam juntas e a falta de logística é gritante.

Para começar há milhares de policiais deslocados de suas funções para outros locais, inclusive funcionando como segurança de políticos.

O emblemático caso do bebê, vítima pré-natal, acende uma luz sobre o drama da violência da nossa cidade. Corremos o risco de banalizar mais um caso que se acumula sobre tantos outros na mesma semana.

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