sexta-feira, 25 de abril de 2014

Os "sem-teto da Oi" invadem a Catedral

GOLPE DE MESTRE
Segundo notícias veiculadas nos jornais, a invasão do terreno da Oi, no Rio de Janeiro, havia sido planejada, fato que me parece bastante plausível, dada a rapidez com que as pessoas construíam barracos e alojavam seus pertences. O Prefeito declarou que aquela multidão não representava a população pobre da cidade, nem os sem teto, simplesmente se tratava de arruaceiros.

 Como era de se esperar, a Oi acionou a justiça, pois uma propriedade particular estava sendo tomada por um bom número de pessoas que se intitulavam “sem teto” e resolveram se apossar de um.

A chegada dos policiais não intimidaram os acampados, ao contrário, trataram de se defender  jogando pedras nos policiais, a moda dos garotos árabes na faixa de Gaza, achando-se como sempre acontece nas invasões, em pleno exercício de defesa dos direito humanos.

 Após um bom tempo, foi sugerido que se procedesse a um cadastramento, pois era importante saber as reais necessidades daquelas pessoas, com o intuito de se viabilizar a ajuda, caso necessária. A proposta não foi aceita pela maioria que acabou por se dispersar, sendo que cerca de duzentas pessoas optaram por se prostrar à porta da prefeitura. Através de um representante do governo buscava-se um entendimento. Como os invasores não encontraram o que realmente buscavam, muitos desistiram e debandaram.

Entretanto, cerca de oitenta remanescentes dessa desordem que se instalou na cidade, capitaneados por um líder, dirigiram-se para a Catedral e, num verdadeiro golpe de mestre, acamparam na parte destinada ao estacionamento. Posso imaginar a saia justa em que a Igreja foi colocada, pois ao mesmo tempo em que se coloca ao lado dos pobres, não costuma se aliar a arruaceiro. O representante da Igreja declarou que nada poderia fazer porque se tratava de um problema da alçada do governo, estadual ou municipal. É importante notar que de novo invadiam uma propriedade. A agenda da Catedral precisou ser modificada.

Os banheiros da Catedral ficaram abertos por motivos óbvios e as pessoas ali se instalaram. Coube ao líder do movimento a declaração de que estavam sendo alimentados todos os dias, havia almoço e jantar. Os doadores foram Ongs, monges, freiras, pastores e, como não podia deixar de ser, os black blocs. Havia água, suco, cestas básicas e distribuição de ovos de páscoa para as crianças. Quem será que se habilitaria a sair desse local?

Não sou contra ao exercício da caridade, muito pelo contrário, sou contra grupos orquestrados principalmente por maus políticos que provocam tumulto e desordem, e não estão nem um pouco preocupados coma população. Em ano de eleição, sempre surgem esses paladinos das causas sociais, tentando aparecer a qualquer custo.

 Nada se sabe a respeito dessas pessoas, se exercem algum tipo de trabalho, se estão desalojados de suas moradias, se estão impossibilitados de executar alguma atividade por doença física ou mental ou qualquer outro motivo. Ou será que fazem parte do grupo dos nem-nem (nem estudam, nem procuram emprego e nem trabalham). Simplesmente a generosidade inconsequente do carioca tratou de ser bem eficiente.

Será que os trabalhadores que passaram a pertencer à famosa classe média que anda impulsionando a economia do país, como dizem e, que recebem R$1500.00 ou pouco mais por mês, estão achando alguma graça nessa cena ridícula? Será que puderam oferecer chocolate à seus filhos? No Brasil, se ferra quem trabalha sério, duro, acorda cedo, pegando trem, trânsito e etc, já aqueles que são posseiros, grileiros e arruaceiros, sempre se dão bem. Não somos um país sério.

Constantemente tenho me referido aos salários baixos, às discrepâncias entre o custo de vida do Rio e o que se recebe por mês, ao gigantismo dos impostos que vão para o bolso de políticos marginais que estão à beira de destruir o desenvolvimento do país, ao pouco atendimento que os governantes oferecem aos cidadãos etc. etc.

Constantemente cito o meu bairro, Leblon, onde resido há anos, entrando em decadência vertiginosa e acho que não devemos e nem podemos ficar passivos. Sou inteiramente a favor de lutar, mas de forma pacífica, jamais usando qualquer tipo de violência. Não existe nada mais perigoso e ameaçador para qualquer político do que a população nas ruas, mas de forma  pacífica. 
Eles, os políticos desonestos, vibram quando os Black Blocs chegam, sentem-se tranquilos, porém enchem a Assembleia quando a passeata é pacífica.


Precisamos lutar pelo nosso país sim, pela nossa cidade, pelo direito de nos apossarmos de nossa cidadania perdida, porém de uma maneira civilizada, evitando qualquer atitude que coloque em risco o patrimônio público ou privado, respeitando a imprensa em vez de promover arruaças ou se comportar de modo ridículo, fazendo papel de palhaço.   

sexta-feira, 11 de abril de 2014

O aviltamento do espaço público

Caos no Leblon (foto:Portal do Leblon)
“Não são os negócios que são feitos na cidade, é o uso da cidade como negócio”. Essa magnífica frase foi proferida por Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, professor do Instituto de Planejamento Urbano e Regional da UFRJ a respeito do atual momento que se vive no Rio de Janeiro.

Esse assunto remeteu-me há alguns anos atrás onde havia certa preocupação com a parte urbanística da cidade. Do Prefeito Saturnino Braga tivemos a redução do gabarito das edificações do Leblon, de César Maia em seu primeiro governo trouxe-nos a APAC, um modelo destinado a conter a especulação imobiliária. É do conhecimento dos cariocas que os empresários, em sua grande maioria, sempre revelaram uma notável despreocupação com a parte urbanística do entorno. Igualmente um olhar para as comunidades, através do projeto favela bairro, mereceu a atenção de Cesar Maia.

O Rio também apresentava uma divisão em zonas residenciais e zonas comerciais, o que nos transmitia a ideia de que alguma tentativa de organizar a cidade se fazia presente. A cidade era pensada e a população que aqui residia sentia-se integrada ao ambiente.

De poucos anos para cá muitas mudanças se processaram e a cidade passou por uma grande reviravolta, porém o que se desenrolava me dava a impressão de algo atabalhoado, sem um planejamento urbanístico, por conseguinte, alijando a população do contexto geral.

Há muitos fatores envolvidos nessa triste trajetória, mas creio que o fator econômico eclipsou valores da mais alta importância. Acredito que a remuneração do nosso trabalho foi a protagonista desta nova realidade. Tomo como exemplo, os salários; pessoas graduadas e até com doutorado recebem mensalmente uma quantia incompatível com o custo Rio de vida,  desestimulando o emprego formal. Profissionais de nível médio, além de terem uma qualificação que deixa muito a desejar, também não se motivam muito a cumprir as exigências de seus patrões. É conhecida a defasagem de funcionários de hotelaria, restaurantes, lojas etc. A classe que recebe bolsa família também está há léguas de distância de qualquer emprego com carteira assinada.

Com a necessidade de busca por subsistência, houve uma maior demanda por espaços comerciais na cidade, algo que a prefeitura não soube administrar. Os alvarás são concedidos de forma irresponsável, sem preocupação com seu impacto ambiental, com o trânsito e etc. O absurdo é tamanho que me questiono sobre a idoneidade do órgão e dos fiscalizadores públicos. O desenvolvimento econômico, que é algo deveria ser uma benção, se tornou um problema, gerando desordem e caos nas ruas da cidade.

Os bairros passaram a ser invadidos, tomo como exemplo o Leblon. Os pequenos edifícios, com seus apartamentos de minúsculos quartos foram transformados em lojas de decoração e até boutiques em ruas residenciais. Alguns desses prédios são mistos, doublê de residências e comércio. Outros se fantasiaram de hostels utilizando toda uma dinâmica de infraestrutura que necessitam, sobrecarregando as já frágeis ruas do bairro.

As empresas foram surgindo e se estabelecendo, adentrando as ruas, sem nenhuma preocupação, todas funcionando com o aval da Prefeitura, respeitando, segundo elas, as leis. Afinal, a inexistência de terrenos disponíveis para o estabelecimento de empresas faz com que elas passem a funcionar em qualquer local, independente do transtorno que possam causar.

Exatamente essa é a situação de bares e restaurantes, invadindo espaços exíguos, sempre de portas abertas se expandindo de forma abusiva, tomando calçadas e ruas traumatizando os cidadãos que tiveram a desventura de residirem acima deles e também revoltando a redondeza. Pessoal, duro é passar perto desses templos de balbúrdia e desordem e ainda sentir o odor de gordura usada nos alimentos, se espalhando no ar, invadindo apartamentos. Podem também me chamar de bairrista, não vou me importar. Se ser bairrista é não apreciar uma população de visitantes que não se importa de fazer bagunça na seara dos outros, desde que a sua esteja limpa, então sou bairrista.

E a nossa praia? Ai meu Deus, nem gosto de olhar. Filiais de restaurantes tomaram de assalto a orla, a cerveja Itaipava patrocinou, sem o menor pudor, dezenas de barracas, completamente nojentas, com seus imundos isopores, disputando lugar com os banhistas que vieram para se divertir, além de espoliá-los com exorbitantes preços. E os ambulantes? Estes vendem de tudo, até do que é proibido, incluindo o matte com água de esgoto.  A visão que se descortinava do mar? Parece que, diante do fator econômico, tudo virou bobagem. Não podemos nos esquecer que a areia da praia também está à disposição de professores de educação física que estabeleceram suas escolinhas de vôlei no espaço público.

Como consequência dessa tomada do bairro para uso comercial desenfreado, sofremos um verdadeiro assalto, um bairro outrora calmo, simples e por isso mesmo encantador, nos fora roubado. Ninguém é dono de um bairro, mas essa transformação, ou melhor, essa transfiguração que matou o carisma do Leblon, alterou dramaticamente a vida dos moradores.

Passamos a ter um fluxo excessivo de automóveis, de caminhões que descarregam mercadorias, de vans de turismo que estacionam em nossas ruas e de vans escolares, estas, aliás, pioneiras na arte de usurpar o espaço público gratuitamente. O aumento do lixo lançado nas ruas, de objetos e até de colchões passou a fazer parte do nosso cenário.

O número de reclamações e queixas é assustador, porém o mais doloroso é a minha crença de que essa transformação social e cultural a qual a cidade, de um modo geral, vem sendo submetida, levando-nos a uma crescente desordem urbana, dificilmente será revertida. Precisaríamos de uma boa movimentação, um confronto com o poder público que, com a sua omissão, comporta-se de modo deplorável, vendo toda a cidade se transformar em um grande camelódromo. Como sou do tipo que não desiste, vi no isoporzinho, uma pequena iniciativa, que, se seguida, poderá se reverter em bons frutos.


Podemos ver nessas transformações sinais de progresso ou tremendo atraso?

sexta-feira, 4 de abril de 2014

A enganação da vez: O Lixo

Removendo toneladas de lixo com conchinhas
Há algum tempo atrás, quando a UPP da Rocinha ainda não havia sido instalada e o ambiente nessa comunidade fervia, um grupo de senhoras do high society resolveu oferecer rosas às senhoras que ali residiam, em uma atitude que me pretendia ser conciliadora. Entretanto não me surpreendeu nem um pouco quando as referidas moradoras denotaram certa repulsa pelo ato, afinal aquilo era completamente desconexo com o momento que elas viviam.

Nessa mesma linha de pensamento lembrei-me que uma quadra de tênis fora inaugurada no mesmo local por um campeão de tênis e, tempos depois um mini campo de golfe. É preciso não esquecer que há milhares de crianças nas favelas e mesmo assim, em outra foto, não havia ninguém na quadra de tênis. Também poderia nomear a farra dos teleféricos, úteis, mas não os primeiros na linha de necessidades urgentes.

Tenho chamado a atenção, em muitas postagens anteriores, da falta de diálogo entre o poder público e a população quer seja do asfalto ou das favelas. Será que aquilo que as pessoas desejam é o que está na cabeça dos secretários de estado e do prefeito? Claro que não, porém o que deveria fazer parte de um planejamento sério, observando-se as necessidades de uma melhor qualidade de vida, certamente dá trabalho. Levando-se em conta o atraso do corpo político, que ainda é muito alto, prefere-se apostar no assistencialismo barato e nas mais diversas formas de enganação, ávidos pela suposta manutenção da popularidade.

Posso tomar como exemplo o lixo, que no meu modo de entender é um dos problemas mais sérios das comunidades. A COMLURB, que pelo visto é mágica, pois está se propondo a limpar essa área, vai fazê-lo de que modo? Os caminhões, na impossibilidade de se embrenharem  pelas ruelas, cederão o lugar para a utilização de carrinhos-de-mão conduzidos por garis que subirão os morros para recolher o lixo? Não vejo alternativa, e esta redundaria em mais uma proposta indecente, devido a inviabilidade e ao alto custo por tonelada de lixo.

Nós temos um grande Secretário de Segurança que é o Dr. Beltrame. Não lhe falta discernimento, coragem e capacidade de trabalho e, no entanto, ele mesmo percebe que todo o seu trabalho poderá vir por água abaixo se a política de enganação continuar. O secretário também não é a favor de uma política de militarização, salvo em casos excepcionais. Não podemos deixar de dar crédito a um homem cuja dimensão elegeu um governador pela segunda vez. 

Manoel Carlos esqueceu de
mostrar esta vergonha no Leblon
Creio que o que precisaria ser feito mesmo é a relocação de moradores para que algumas ruas fossem abertas e com isso, tanto o recolhimento de lixo, quanto o saneamento pudessem ser atendidos.

Essa seria a solução definitiva, porém precisaríamos de dois Beltrames, um para a secretaria de segurança e outro para ser governador, pois esbarraria numa atitude impopular que exige pulso, coisa que o então governador Sérgio Cabral não tinha... Essa medida não é agressiva, no meu modo de entender, pois atenderia a uma necessidade básica e urgente da comunidade.

Na ausência de outro Beltrame, há linhas de conduta que poderiam auxiliar na questão do lixo que é o envolvimento da comunidade nesse problemão. A minha observação é que as pessoas, quer do asfalto, quer da favela, se habituaram a conviver com a desordem e a imundície. Creio que uma campanha ininterrupta sobre o desconforto que é viver em uma cidade suja, as doenças advindas daí, a agressão ambiental e também o entrave ao turismo deva ser conduzida em rede de televisão. Essa campanha necessita ser desenvolvida pelos moradores dos bairros, das comunidades, pessoas de nossa vida cotidiana. Algo próximo a todos, sem a necessidade de estrelas da televisão.

Lixo na rua não é exclusividade da favela.
Praça Baden Powel, no Leblon 
Também é possível traçar estratégias, centradas em grupos de moradores que escolheriam locais para se congregar o lixo de modo a facilitar o trabalho dos garis. Isto se faz necessário, pois o lixo também é responsabilidade da população. Não adianta só culpar o estado e ficarmos esperando que uma solução mágica caia dos céus.
A sociedade precisa se envolver, fazer-se ouvir, sugerir ações construtivas e principalmente atuar de modo mais civilizado. Moro no Leblon, área de proteção do ambiente cultural, e até hoje tenho vontade de chorar quando encontro móveis, resíduos de construções e colchões nas esquinas.

Para ilustrar o problema da ineficiência do poder público e do abandono, uma pesquisa realizada pelo IBPT aponta que somos o país, dos 30 pesquisados, que menos dá retorno em qualidade de vida pelo volume de imposto recolhido. Ou seja, pagamos MUITO e recebemos NADA em troca.