sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A realidade bate à porta do Palácio do Planalto

Toda a campanha do PT se baseou na crítica exacerbada ao candidato da oposição, Aécio, e ao seu futuro Ministro da Fazenda Armínio Fraga. Destilou-se terror, nas camadas sociais mais pobres, com argumentos diabólicos sobre o futuro negro que se abateria sobre eles, do tipo “vai faltar comida na mesa do pobre”.

O que fez nossa presidente agora?  Apelou para o economista Joaquim Levy, pessoa de inegável competência, colaborador de Armínio Fraga na elaboração do programa econômico do candidato Aécio. Nada demais, em um país democrático, que pessoas competentes possam pertencer aos quadros de outros partidos e sejam convidados para compor os Ministérios, alias é o recomendado, sempre que a preocupação com o povo ultrapasse qualquer pretensão de poder. Pena que este caso é a exceção e não a regra.

O que é constrangedor nessa história é o comportamento da Presidente. Ao tentar a reeleição fez a apologia da grande gestora que fora, exibiu a sucateada Petrobrás como uma maravilha brasileira, promoveu verdadeiros contorcionismos na matemática para encontrar um superávit positivo. Apesar de toda a construção ilusória de um modelo de governo que não ocorreu, ela sabia que um perigoso monstro a ameaçava: o escandaloso esquema de corrupção. Precavida, foi avisando que faria o diabo para vencer.

Ao se deparar com a verdadeira realidade do país e faltando-lhe o preparo teórico e técnico como economista, sem estratégias que pudessem fortalecer a economia diante da grave crise que se instalou na indústria, no comércio nacional e exterior, acabou engessada em um labirinto sem saída. Sua onipotência cedeu diante da constatação que vários companheiros de chapa, após doze anos de doutorado em corrupção, não possuíam as necessárias credenciais para ocupar o cargo de Ministro da Economia.

Alguns intelectuais do PT se manifestaram contra essa indicação temendo um retrocesso e um aperto nas políticas sociais. Entendem que Joaquim Levy não gosta de jogar nem dinheiro, nem conversa fora, fazendo demagogia e que fará tudo que for preciso para sairmos do atoleiro em que nos encontramos.

Parece que nossos intelectuais desconhecem que a inclusão social depende da economia que gera recursos para que o país se desenvolva como um todo. A preocupação com o fator econômico virou crime para os militantes do PT. Matemática não é o forte dessas pessoas, pois quem dispõe de zero não pode distribuir nada. Quando os recursos vão escasseando, como é nosso caso, até a bolsa família entrará em colapso.

A população brasileira necessita muito mais do que alimento na mesa dos pobres. O atraso em infraestrutura, no meu modo de entender, é arrepiante e relega grande parte da população a viver assoberbada sob tremendo estresse sem condições de alcançar uma vida digna. O povo brasileiro não merece essa indigência.

Apesar das recentes boas escolhas de Ministros, sempre temo que novos pacotes de “maldade”surjam, como por exemplo a flexibilização da lei de responsabilidade fiscal.

Difícil é ser um "militonto" neste momento em que a Presidente contradiz tudo que foi dito na campanha a respeito da política econômica. Haja criatividade e dissonância cognitiva.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Preconceito: Um Atalho para o Ódio

“A classe média é uma abominação política porque é fascista, é uma aberração ética porque é violenta, é uma aberração cognitiva porque é ignorante.” Este preconceito foi externalizado por uma professora de filosofia e, certamente, não pertence à esfera do racional. No caso, a intelectual se dirigia às pessoas da classe média que, através de seu grupo social, econômico, suas crenças, sua ideologia, se organizam para viver em sociedade.

Apesar de ser uma característica dos filósofos o pensamento racional, a filósofa sucumbiu ao identificar, na classe média, a expressão de comportamentos diferentes dos dela colocando em risco os seus paradigmas, desequilibrando-a, permitindo uma explosão emocional desconcertante o que nos indica a dificuldade da professora tolerar suas próprias frustrações.

O preconceito é proveniente das características pessoais do indivíduo entremeadas pelo meio familiar, completada pela cultura e tem na sua essência a agressividade que varia da sutileza a uma fúria incontrolável. Não existe preconceito gentil.

Nós vivemos em um país onde há tremenda diversidade de modo que o preconceito tem ao seu dispor miríades de possibilidades que lhe permite ser expresso em situações banais. É do universo social o funcionamento discriminatório, e se aloca até nas trivialidades da vida cotidiana.

Encontramos essa discriminação nas escolas onde o “bullying” fere os corações, estigmatizam crianças causando profundas mágoas e rancores, comprometendo a vida emocional das crianças e adolescentes, que chegam à vida adulta, muitas vezes, marcados por dores inesquecíveis.

Quando a discriminação é exercida de forma muito intensa, como em assassinatos a homossexuais ou “bullying” muito violento, nos revelam que autores desses atos macabros possuem uma mente extremamente doentia.

Geralmente são pessoas com transtornos de personalidade bem graves, onde a fúria e a violência imperam, e que possivelmente foram submetidos a situações traumáticas de vida. Nestes casos, o descontentamento com seu infortúnio, o se sentir diferente, as dificuldades de inserção no grupo social são vivências intoleráveis. A população gay, muitas vezes maltratada, surge como um alvo fácil para o exercício de uma verdadeira catarse emocional de mentes perigosas.  

Por outro lado, no combate ao preconceito, há de se ter cuidado para não gerar situações de desigualdade e por consequência se apelar para outra discriminação, como as cotas nas Universidades. Os afrodescendentes têm preferências nas classificações porque são pretos, pobres ou não, e não porque não tiveram acesso às escolas de bom nível. Para os preconceituosos são considerados inferiores.

O preconceito parece, também, estar a serviço de um atalho cognitivo que nos permite resolver situações rapidamente, sem utilização de maiores recursos mentais. Em seu livro mais recente, Daniel Kahneman fala dos dois sistemas que usamos: o Rápido e o Devagar, o primeiro sendo automático de pouco custo mental e o segundo mais demorado e demandante das nossas capacidades.


Precisamos trazer a discussão do preconceito para o sistema “Devagar”, para repensarmos nossas posições e evitarmos conclusões automáticas. 

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

"A Beleza do Brasileiro não tem Espelho na Feiura das Cidades"

Mais uma bela rua enfeiada pela desordem urbana.
Os aviões saem lotados do Brasil transportando milhões de brasileiros rumo ao primeiro mundo. Lá se encantam com cidades onde o tratamento urbanístico contempla os nossos olhos com uma beleza contagiante. O transporte é confortável quer seja de trens, metrô, ou ônibus. Também podemos usufruir dessa maravilha que é andar a pé sem levar tombos incríveis ou romper ligamentos. O ambiente também é protegido desse horror que se chama transporte individual que polui a cidade e esgarça nosso sistema nervoso com horas de engarrafamentos. Pelo visto, os brasileiros gostam de conforto e beleza e organização.

Entretanto chama a minha atenção, nas conversas com vários amigos, quer sejam da classe intelectual ou não, mais abastados ou menos, a inexistência de questionamentos sobre urbanismo ou melhor, a falta dele nas nossas cidades. Acabo sempre me sentindo solitária nas reflexões que costumo fazer sobre o grave problema urbanístico que encontramos no Rio.

O que me incentivou a escrever sobre esse assunto é que arquitetos e urbanistas, através de artigos nos jornais, vêm alertando as autoridades e a nós os descaminhos que estão sendo traçados em nossas cidades carecendo de uma visão científica que possa dar guarida a uma população urbana, beirando os quarenta ou cinquenta milhões de pessoas.

O último desses artigos, o do Dr. Washington Fajardo no O Globo, me emocionou de tão real, iluminando os aspectos negativos que encontramos nessa cidade que, ao que me parece, não estão nas preocupações nem das autoridades nem dos moradores.

As pessoas buscam freneticamente a beleza e as indústrias de cosméticos movimentam bilhões, mas em relação à cidade em que vivemos a opção é pela desordem urbana. A natureza majestosa dessa cidade não está resistindo aos maus tratos da mão humana e está se tornando feia. As praias repletas de quiosques e barracas pavorosas, além do estacionamento de vans, é um monumento ao desencanto.

No Leblon, por exemplo, determinadas ruas internas tem sua arborização doente e desabando e o que era antes uma maravilhosa harmonia se tornou uma opressora muralha de carros, caminhões, fretes e vans com a conivência da Guarda Municipal.

As calçadas são tomadas por mesas, cadeiras, muito salgadinho e bebidas. Não há lugar para os residentes do bairro. São palavras do Dr. Washington entre muitas advertências: “a beleza do brasileiro não tem espelho na feiura das cidades, precisamos revitalizar, reciclar edifícios, criar e inovar”.

É impressionante como, ao deixar o bairro ou a ruas, sufocantes, sujos, desorganizados e desconvidativos a opção é ficar mais em casa. O ambiente hostil desencadeia processos internos de mudança que podem ser observados na forma como decoram seus pequenos ou enormes apartamentos. Qualquer cantinho funciona como jardim, a parte de lazer recebe televisões gigantescas, na varandinha ou no varandão surge uma churrasqueira, tudo arranjadinho para se fugir da desordem praticada por nós mesmos. Ainda existe, para os de maior poder aquisitivo, quatro ou cinco viagens ao ano curtindo a vida ao ar livre.


Eu gostaria que a consciência ambiental brilhasse na cabeça dos cidadãos da nossa cidade para que pudéssemos ser mais felizes aqui também, afinal é aqui que passamos a maior parte das nossas vidas. Conviver com o agradável, com a beleza da natureza e a harmonia ambiental não deve ser primazia dos ricos, mas uma exigência de todos.