sexta-feira, 12 de julho de 2013

De Paul Goldberg à Hélio Pelegrino

 Olhem quantas infrações!
Calçada obstruída, árvore como banco de espera,
garçom servindo na calçada. Resultado:
gente tendo que atravessar no meio da rua. 
Os bairros existem para delimitarem partes da cidade. São onde nós vivemos, conhecemos todos os recantos, apreciamos a arquitetura, o paisagismo, entramos em contato com pessoas, fazemos nossas compras etc., portanto, deveríamos ter grande zelo por eles.

O bairro não é propriedade de quem nele reside, embora, sejam os moradores os que contribuem para o IPTU. Recebemos muitos visitantes, aqui no Leblon, que serão sempre bem-vindos, desde que respeitem o meio ambiente e não funcionem como agentes de degradação.

E por falar em bairro, meio ambiente e urbanismo, o respeitado crítico de arquitetura Paul Goldberg, ganhador do prêmio Pulitzer, em sua excelente entrevista ao O Globo nos brinda com maravilhosos comentários sobre a arquitetura da cidade, já bastante privilegiada devido à nossa fantástica natureza, situada entre o mar e a montanha. Ele não só discute a relação da arquitetura com o lugar, mas também a conversa que ela mantem com a rua, formando o que ele denomina de tecido urbano. O contato dele com a nossa cidade, o encantamento com os jardins de Burle Marx, o tom humanístico que emprega ao falar de meio ambiente, nos ensina que o seu conceito de cidade privilegia a estética, a ética e o planejamento.

Torna-se para mim impossível deixar de comparar esta esplendida visão com a visão de urbanismo que o arquiteto Hélio Pelegrino demonstrou possuir na reconstrução do Boteco Belmonte, na rua Gal. Venâncio Flores, no Leblon. Sem levar em conta o bucólico local, ele, depois de avançar bastante na calçada, reduto intransferível dos pedestres, resolve construir, também na calçada, um armário embutido com o intuito de guardar objetos e barris de chope.  

Imaginávamos que todas as aberrações já houvessem terminado, mas sempre nos surpreendendo com a elevada falta de consideração aos moradores do bairro e ao meio ambiente, ele retira de seu vasto repertório mais uma: à volta das árvores foram colocados bancos para os fregueses sentarem. Espaço para transeuntes? Nenhum, só muito tecido urbano esgarçado. Gostaria de saber a opinião de Paul Goldberg sobre isso...

A sua entrevista confirma o meu pensamento, embora eu não seja arquiteta nem urbanista, mas completamente apaixonada pelas causas ambientais, consideramos que o tratamento dispensado às ruas é da maior importância. Por mais que, do ponto de vista arquitetônico, tenhamos belíssimos prédios em ruas com o calçamento irregular, o asfalto de péssima qualidade e, ainda por cima, entulhada de veículos, o ambiente se torna desarmonioso, perde o seu encantamento e caminhar nestes locais passa a ser um enorme desprazer. 

Justamente o que chamou a atenção do arquiteto americano foram as ruas internas do Leblon e Ipanema, pela franca harmonia entre prédios e ruas, onde se tem maior sensação de leveza e amplitude. Que maravilha essa sensibilidade para enxergar a beleza e o encantamento, além da nossa orla. Às vezes, precisamos que um estrangeiro venha evidenciar o valor da simplicidade e do intimismo que nós muitas vezes vendemos em troca de um projeto faraônico e isolacionista.


Temos ai a diferença entre a arquitetura e o urbanismo. O Sr. Hélio Pelegrino só se preocupou em atender às necessidades comerciais do seu cliente, negligenciou em seu projeto o entorno e agrediu o tecido urbano ao negar o espaço da calçada, violentando o direito dos transeuntes. Choca-me a insensibilidade com que um arquiteto, que se diz sustentável e preocupado com o meio ambiente, se apropria de forma ilegal do espaço público. Se seu projeto tem aprovação da prefeitura, uma aberração possível num governo onde tudo parece ter seu preço, mesmo assim ele é IMORAL. Não se pode negar a passagem aos cidadãos, obrigando-os a andarem pela rua onde passam os carros para desviar dos clientes que se amontoam no boteco.

sábado, 6 de julho de 2013

Ocupa Delfim

Agência "O Dia"
Hoje, excelentíssimo Governador a população chega à sua residência. Creio que a presença destes jovens acampados lhe seja profundamente desagradável. É, no entanto, uma poderosa mensagem que o povo dessa cidade está lhe trazendo e que, por isso, não pode ser ignorada.

Qualquer cobrança é, de um modo geral, vista com desagrado e a primeira tentativa é de se livrar dela. Entretanto, ela traz em seu bojo uma perigosa situação. Foi o caso da PM ao tentar desalojar os jovens da esquina da Delfim Moreira  com Aristides Espínola. O primeiro impulso foi repeli-los em vez de ouvir, pensar e refletir sobre o que a população está lhe dizendo.

Agência "O Dia"
O povo sabe que vossa excelência fez um grande esforço para trazer as Olimpíadas, a Copa das Confederações e a Copa do Mundo para nossa cidade.

Eu particularmente, ao ouvir o anúncio tão festejado destes eventos, senti grande inquietação, pois os riscos de que o  saldo seja positivo são bem remotos, tanto nos retorno dos recursos gastos, quanto na utilidade de muitas destas obras, além de não privilegiar obras de grande necessidade para a cidade.

Também é perturbador que sempre as mesmas empreiteiras ganhem as licitações apresentando orçamentos baixos e acabem por se comportar do mesmo jeito de sempre, ou seja: uma enorme defasagem entre a previsão dos gastos e os gastos reais. Esse fato levanta suspeita de que não houve um planejamento e um detalhamento sério das obras, mas um "vai levando e pedindo cada vez mais dinheiro" que faz com que o orçamento inicial seja apenas uma fração do valor final que nós pagamos.

Todos questionam sua relação com o dono da construtora Delta, que deveria ser profissional e não social, de modo a não permitir que se levante suspeitas sobre a lisura das obras.

É isso que os jovens estão lhe falando, estão chocados com o excesso de suas viagens ao exterior durante a sua administração, os jantares em restaurantes caríssimos (lá em cá), enquanto a população chafurda na miséria sem esgoto.

Causou também grande insatisfação o tratamento dado a Cia do Metrô, que só visando lucros, insistiu na linha única até a Barra da Tijuca. Não foram ouvidos protestos de Ipanema e Leblon que anteviram grandes congestionamentos nos trens. Mais uma vez a população será penalizada.

Mais impressionante, em termos da falta  de diálogo, pode-se mencionar que nem a mudança do acesso a metrô de Ipanema pode ser reavaliado, retratando o clima de autoritarismo que impera, beneficiando o Metrô.

Um verdadeiro governante precisa se identificar com o povo que o elegeu como chefe do governo do nosso estado. É preciso imaginar o que é viajar, uma grande extensão, espremido até a alma. É bem diferente do seu deslocamento feito por helicóptero.

No Brasil, os políticos se apossam de seus cargos como se fossem outorgados para sempre, numa espetacular inversão de papéis. É preciso lembrar governador que nós o colocamos nesse posto e pagamos o seu salário para que seu trabalho reverta em benefício da população.

O Ocupa Delfim é o resultado do cansaço que nos invade sobre o exposto acima.

A tentativa destes jovens é sinalizar que nós existimos e que essa enorme distância entre governo e população é inoperante e desastrosa. Concluímos que esse movimento não deva ser repelido a custa de bala de borracha e gás lacrimogênio, e sim que todas as tentativas de diálogo sejam preservadas.