sexta-feira, 25 de julho de 2014

Queima de Estoque do Porto Maravilha

Finalmente conquistamos um primeiro lugar! Desta vez,  em um item de real relevância, pois acabamos de receber uma “honrosa” classificação dada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Somos o primeiro lugar em bagunça na sala de aula. Os professores perdem vinte por cento do seu tempo disponível em classe para combater a indisciplina. São destinadas às atividades pedagógicas sessenta e sete por cento do horário escolar. Há muitos e muitos fatores que dão origem a esse gravíssimo problema, mas não posso deixar de mencionar que a bagunça é algo institucionalizado em nosso país.

A minha preocupação da vez é a bagunça ambiental. De algumas décadas para cá, a população das cidades cresceu de 15 milhões para 180 milhões de habitantes. Formaram-se metrópoles e duas megacidades, tudo na base do famoso e detestável arranjo “vamos fazer, depois a gente vê como fica”, fruto de um imediatismo infantil, onde nem o momento atual é observado, quanto mais a preocupação com um verdadeiro planejamento que permitirá ampliações futuras de modo a atender demandas populacionais.

O espaço público é quase sempre bombardeado com o intuito de favorecer algum segmento da sociedade. Planejamentos voltados para o bem da população, de modo a oferecer qualidade de vida são raríssimos. Atropelam-se as leis que regem proteção ambiental, assim como a preservação estética e ética da cidade.

Atualmente, há propostas de elevação do gabarito em várias zonas da cidade. A Câmara dos vereadores do Rio aprovou projeto de lei que estabelece incentivos para a construção de centros de convenções no andar térreo dos futuros edifícios destinados à hotéis. Vinte e dois parlamentares tiveram a coragem de assinar o projeto de lei complementar 79A /2014 que certamente contribuirá para o adensamento urbano.

Que esse projeto tenha sido idealizado pela associação Brasileira da Indústria de Hotéis não é nenhum fato surpreendente, inclusive há uma indicação para que se destine até seis pavimentos para exposições e eventos. O que eu considero uma tristeza, para não dizer um escárnio, é a falta de atenção ao Plano Diretor da Cidade que traça as linhas para uma política de desenvolvimento urbano. O planejamento do município não pode ser alheio ao uso e ocupação do solo que estão bem delineados no Plano Diretor.

O Instituto dos Arquitetos do Brasil se posicionou de modo bastante crítico e veemente ao projeto que exibe diretrizes em desacordo ao Plano Diretor. Tenho assistido, com grande incredulidade, às mudanças que se processam na cidade e que inutilizam as comunidades dos arquitetos e urbanistas, que deveriam constituir os pilares para modificações necessárias, visto que o adensamento populacional é uma realidade.

A verticalização das ações desses parlamentares é impressionante. Parece-me que legislam para o vácuo, além de desconsiderar os profissionais que entendem do assunto, nem por um instante se cogitou de submeter o projeto à audiência Pública com a participação da população e das associações que representam a sociedade, afinal somos nós que vamos arcar com as consequências.

O Porto Maravilha como um todo me preocupa. Sei que está difícil o desenvolvimento do poder construtivo desse local, parece-me que o Porto não obteve o sucesso esperado. Há muitas propostas para este local, como incentivos fiscais para a construção de prédios. Estes possuirão torres altíssimas e os diferenciais bastante tenebrosos como a possibilidade de flexibilização quanto à existência de garagens. Outro fantasma é o discutível sala e quarto, conhecidos também como “já vi tudo” ou JK (janela e quitinete).

Qualquer local, por mais bonito que seja, infestado de automóveis e veículos de serviço está fadado à falência estética. Todos sabemos que, hoje em dia, o automóvel é o objeto de desejo mais almejado da população. Pode faltar tudo, menos o automóvel. Creio que a minha preocupação é pertinente.


Nós vivemos mergulhados nas desordens institucionais, as leis não são para todos, parece que alguns são atendidos até no que é absurdo e outros são tão vilipendiados que chegam a desconhecer o significado da palavra cidadania. A falta de observância às leis e regras, tão comuns na nossa vida cotidiana, parecem absolutamente inofensivas, no entanto nos remetem aos primórdios da vida, às leis taleônicas,  às” Terras de Marlboro”, ao salve-se quem puder, ao que não me importa o outro.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

A Copa vista e a Copa que aconteceu

SOS: Mais realidade, menos corrupção, mais planejamento
Vimos na TV a Copa do Brasil 2014 sendo maravilhosa. Um show de futebol, organização, alegria e drama, tudo o que uma partida de futebol pode ser. As grandes surpresas foram as seleções “menores” disputando com igual vigor, muitas vezes roubando a cena das tradicionais outrora potências do futebol mundial. Um belo espetáculo!

A Copa vista na TV é um pouco diferente da Copa que aconteceu nas ruas do Brasil. Houve uma criteriosa seleção de notícias nas últimas semanas com o objetivo de manter a animação e o espírito positivo durante os jogos, entretanto para que o circo da Copa acontecesse, diversas concessões foram feitas com enorme impacto na ordem e na economia.

Os aeroportos ficaram quase prontos e conseguiram atender um grande fluxo de passageiros sem grandes tumultos, o sistema de transporte permitiu uma mobilidade bem diferente da que nós moradores conhecemos. Parece milagre, mas, na verdade, foi graças aos feriados impostos pelos municípios que ordenaram o fechamento das escolas e repartições públicas. A cidade parou por mais de um mês para realizarmos esse custoso evento.

O cenário artificial criado com as férias extemporâneas prejudicou o exercício de nossas profissões, com empresários de porte médio em dificuldades com suas folhas de pagamento. O tão propalado lucro, de cuja existência eu até duvido, deu-se na área de bares, restaurantes, hotéis e lojas de pequenos objetos Os eventos necessitam caber no calendário do nosso povo.

As Forças Armadas, Exército, Marinha e Aeronáutica cumpriram os seus papéis, auxiliados pela Polícia Civil, Militar e Guarda Municipal garantindo a segurança do evento. Fazia tempo que não nos sentíamos tão seguros, devido ao gigantesco efetivo temporário, as ruas foram inundadas de policiais. Pena que não é assim todo dia, com o fim do evento, voltamos à nossa barbárie diária. Às treze horas do dia 17 de julho, no bairro da Gávea, a nossa querida Cristina Mascarenhas foi assassinada num assalto ao sacar dinheiro para pagar seus funcionários. A dor ainda é enorme, mas esse é o Rio que conhecemos.

Outra notícia pouco divulgada foram os abusos da PM do Rio de Janeiro, velha conhecida nossa, que nos moldes da ditatura, reprimiu de forma covarde uma manifestação pacífica na Tijuca. As imagens são aterradoras e falam por si só, manifestantes e jornalistas sendo agredidos gratuitamente.

Como sempre, também batemos os últimos pregos cinco minutos antes dos jogos. Considerei como uma falha importante das nossas fronteiras, não terem obtido informações dos nossos visitantes sobre o tempo de permanência na cidade, os recursos disponíveis para essa estada e onde se acomodariam, prática comum nas fronteiras de qualquer país. Como legado, palavra tão em voga, ganhamos milhares de imigrantes ilegais, refugiados e outros que aproveitaram a copa para mudar de país. Parece que adotamos a política do “quanto mais gente, melhor”.

Para compensar o despreparo e a falta de planejamento, mais concessões e uma postura leniente foi adotada em uma cidade que é Patrimônio da Humanidade. As autoridades curvaram-se diante da invasão dos hermanos que se acastelaram nas praias, usando-as como dormitórios e banheiros. Sob pressão dos moradores, o Terreirão e o Sambódromo foram cedidos como área de estacionamento e camping, já que estavam também nas praias.

Nenhum país sério daria permissão para tanto abuso como nós demos. A isenção de impostos do faturamento da Copa, que permitiu que bilhões de reais que fossem embora, é um verdadeiro ultraje. Basta se olhar as próximas sedes (Rússia e Qatar?), nenhum país minimamente responsável aceitaria os termos impostos pela FIFA.

A privilegiada posição geopolítica que a Alemanha ocupa no continente europeu, o que também nos foi apresentada no futebol, deve-se a um minucioso planejamento, à logística, à ação calcada em orçamentos prévios. O trabalho com afinco é, desde cedo, levado a sério, enquanto aqui é vista como coisa de otário.

Frequentemente acompanho entrevistas de arquitetos e urbanistas renomados que pensam a cidade, que ficam atentos à nossa geografia, ao nosso ambiente, à população que nela se insere, de modo a que seja possível uma vida com qualidade. Inúmeras vezes eles mostraram a inviabilidade da execução de obras sem planejamento, sem logística, gastando-se um dinheirão, sempre fazendo e desfazendo a obra, dilatando-se prazos e encarecendo o trabalho. Tudo foi denunciado e caiu no vazio.

Aprender deve ser um exercício diário nas nossas vidas. Penso que nossas autoridades podem tirar proveito do que deu certo, pensando no que a Alemanha nos ofereceu, e abolir definitivamente o jeitinho que damos nas nossas soluções. Precisamos ser um país sério, para finalmente conseguir exportar uma imagem real, sem maquiagens. Fazendo da Copa vista na TV e a que aconteceu uma só.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

A Queda dos Onze “Atlas”

O país vivia uma convulsão social, as perdas econômicas, o superfaturamento e atrasos das obras, operários mortos em serviço e viadutos despencando. O desconforto com as exigências da FIFA e com nossos cartolas configuravam um quadro desalentador. O mau humor imperava no Brasil, indicando um aspecto psicológico eivado de perdas, uma espécie de luto.

A cidade como sempre não foi preparada, no que se refere à infraestrutura, nem para receber a população da própria cidade no âmbito dos transportes, quanto mais para acolher um contingente de turistas. A solução é sempre a mesma, por sinal no meu modo de entender chocante, paramos por praticamente trinta dias e o nosso povo entregou-se de corpo e alma às festas numa euforia indizível. Esse superficial desprendimento pode ter encantado os nossos visitantes que não conhecem a fundo a nossa real situação.

Praticamente tudo foi permitido: nossas praias viraram dormitórios e banheiros, mesmo assim o clima era feérico.

O Time: considero uma grande dificuldade não termos jogadores que disputem o campeonato nacional, devida às transações comerciais que acontecem cada vez mais cedo na vida destes atletas. A ida tão prematura destes jogadores para o exterior pode ser benéfica a nível individual, porém o prejuízo é grande quando consideramos o rebaixamento do nível técnico do nosso campeonato. O desenvolvimento dos outros jogadores é prejudicado quando nossos melhores atletas partem para outros países.

Psicologicamente inseguros, pelo excessivo peso que o Brasil dá ao futebol, nossos atletas tiveram um desempenho inferior ao que costumam apresentar em seus times. O medo de perder era tão grande que em face ao primeiro gol o time desmoronava, sendo que contra a Alemanha houve uma desagregação total a ponto de deixarmos o campo aberto por cinco minutos. Colocamos nos pés de onze jovens a salvação do Brasil o que ficou evidente no discurso de David Luiz: “Eu só queria dar alegria para o meu povo que sofre tanto”. Além de ganhar o jogo, eles precisavam carregar pátria nos ombros, um peso excessivo para se levar para dentro de um campo.

No intuito de promover uma adesão maior, o técnico talvez tenha infantilizado o time com a tal “família Scolari”. O Felipão tentou reproduzir o time de 2002 em 2014, mas acabamos por repetir 1998. Mais uma vez nossas maiores estrelas, Ronaldo e agora Neymar, sofreram problemas e a seleção viveu um apagão total graças a enorme dependência a estes jogadores estelares.

O resultado de tudo isso foi catastrófico para os brasileiros, a humilhação e a vergonha na nossa própria casa diante da goleada tomou conta dos nossos corações e mentes. Da esperança da redenção do Brasil dos seus problemas cotidianos e diante da euforia que vivemos nesses dias, nos espatifamos no chão da nossa realidade. Sofrer uma derrota é sempre muito difícil, porém ela se tornou titânica porque somente a vitória colocaria o Brasil no patamar de orgulho necessitado pelos brasileiros.

Parece que tornamos a vivenciar o complexo de vira-lata: ou somos os melhores em tudo ou os piores. Não é nem preciso mencionar que essa visão é míope e mistura nossos feitos esportivos com a realidade social política brasileira. Houve um exagero do excelente jornalista Nelson Motta, comparar o 7x1 ao 11/9 é no mínimo insensível, mesmo que seja num nível metafórico. Afinal perdemos um jogo, mas nossas vidas estão ai e precisamos mais do que nunca lutar por elas. “Vambora”!