sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Assim faltará água até para as Lágrimas!

"Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça"
Hoje me aconteceu um fato inusitado. Telefonei para o consultório do meu oftalmologista que voltava de férias para marcar uma consulta. A secretária me informou que só disporia de horário para o dia 20 de fevereiro. Sem eu pedir nada, disse-me que estava confirmando os horários das consultas do dia seguinte, e tentaria me encaixar no lugar de alguma desistência. Algum tempo depois, ela mesma me retorna comunicando que havia um horário disponível para mim. Por sorte foi perfeito, já que trabalho e tenho um tempo muito limitado.

Estupefata com tanta consideração, iniciativa e profissionalismo disse-lhe que ela fora muito gentil comigo e que eu estava muito grata. Ela de forma angustiada me respondeu: “Deseje-me saúde”.

O recado caiu como uma luva, pois venho pensando o quão insalubre as nossas vidas andam. Um calor senegalês, ameaças de todos os lados, falta de água, de luz, os preços subindo de forma anormal, principalmente em relação à luz. Uma situação política vergonhosa onde se mendigam ministérios, cargos nos principais escalões, e a visão eterna e ilegal da prática de nepotismo.  O grande golpe dado na Petrobrás, nosso  ex-orgulho, e o empobrecimento da economia contribuem para as angústias da população.

É muito triste assistirmos ao fechamento de lojas, a queda da indústria, milhares de pessoas perdendo os empregos e, por último a mais grave de todas, acho eu: a falta de preparo dos nossos governantes para eventuais tormentos da natureza.

A inexistência de plano de ação a longo, médio e imediato prazo é flagrante. Acostumados ao improviso, se esqueceram que existem prevenção.  Além desses fatos, ainda temos de suportar o medo que a classe política e governamental sente de falar a verdade.

O que estamos passando é uma tragédia há muito anunciada, onde as obras das hidroelétricas estão no maternal. Desconhecem a existência da matemática, gasta-se a rodo. A opção pelo exagero do número de estádios de futebol a preços altos, encobrindo possivelmente os malfeitos, foi triste. O país se transformou em um grande canteiro de obras, sugando a economia.

Os poderes legislativos e judiciários que legislam em causa própria, elevam seus salários e agregam aditivos que os profissionais comuns não possuem, esquecem de que esse dinheiro é do contribuinte, não é deles, nem do governo. É impressionante que não se sintam constrangidos, funcionam como sempre detentores de todos os direitos.

Está mais do que na hora de falar a verdade e fazer maciça e rigorosa campanha para que se economize água e luz, não só devido à grave situação como também ao ônus que temos de suportar com contas estratosféricas. Há milhões de gatos que são feitos nas favelas e no asfalto. Gasta-se uma quantidade de energia brutal, despreocupados que estão com o custo zero e alheios à gravidade da vazante dos reservatórios  e às dificuldades das usinas.  Não podemos esquecer que os moradores honestos, que possuem contas nas comunidades, dispendem uma quantia irrisória, no pagamento das mesmas, o que se torna um ótimo convite ao desperdício. A conta chega para nós, contribuintes, é claro, já sufocados com o alta do custo de vida.

O exposto acima gera na população e no contribuinte um sentimento de orfandade, devido à nossa condição de cidadão não ser levado em conta, totalmente restringida, cedendo o lugar a uma avidez pelo poder e a uma corrupção nunca vistas. O sentimento predominante é o de revolta, estamos envergonhados de pertencer a um país que não é do presente, estamos sempre à espera de um futuro que não é para nós. Fantasiamos que será pera nossos filhos, depois esperamos que seja para os netos e por aí vai. Assistimos impotentes ao fracasso em áreas sociais. No embalo da mentira nos tornamos céticos.

A secretária do médico está sofrendo, nós estamos sofrendo e a saúde física e emocional certamente é abalada, principalmente quando tudo isso fica dentro de nós germinando silenciosamente.

Não sou a favor de violência, muito menos de golpes, mas a sociedade brasileira está atolada na inércia, esperando talvez o Carnaval para afogar as mágoas. O prefeito tratou de vestir os canteiros, um mês antes do Carnaval, de horrendas telas, incentivando a folia e o alheamento.

Sou a favor de mobilização da população, totalmente pacífica, mas que tem uma eficácia poderosa sobre a classe política e governamental. É importante manifestar que estamos vivos e não concordamos com os desmandos que afloram em nossa sociedade.


Chicô Gouveia tem razão quando  pede a suspensão do Carnaval de rua devido à escassez de água.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

“Belmonte lá é coisa de favela?”

“Belmonte lá é coisa de favela?” Pergunta feita pela Professora Bárbara Nascimento, cursando mestrado na UFRJ, em sua entrevista ao O Globo em 5/01/2015, questionando sobre as mudanças que se se processam no Vidigal.  No meu modo de entender esta aberração, que se chama Belmonte, não deveria existir em lugar algum devido ao tremendo incômodo que traz à vizinhança. Ela, residente no Vidigal, tem várias reclamações, trazendo problemas relacionados às modificações que vem surgindo na favela.

A professora se queixa que, com a chegada de estrangeiros e também brasileiros mais abastados, os preços das moradias se tornaram exorbitantes e a população acaba por vender as suas casas, cedendo a vez ao poder econômico e ao maravilhoso visual que de lá se descortina. Hotéis, bares, novos moradores e muita gente de salto alto subindo a favela, ávidos por novos points, puro processo de gentrificação.  

O Vidigal mudou a sua feição, símbolo do que consideram evolução, perdeu aquela intimidade,  cumplicidade solidariedade existente na favela. O projeto fracassou, junto com o sonho dos urbanistas de integração da favela ao asfalto. Assim surgiu a Comunidade do Vidigal, nome que ela mesma questiona.

Segundo a professora, favela além de ser um nome bonito, tem uma história e realmente desde 1893 quando se iniciou o processo de favelização o nome era este mesmo, porque então, chamar de Comunidade?

“Onde está o samba que fez parte de toda sua vida, da meninice à idade adulta e que foi trocado pelo chope do Belmonte?”- Pergunta a jovem que também se queixa dos jeeps que invadem a favela, trazendo turistas, invadindo a privacidade das pessoas, tirando fotos. Eu não posso deixar de concordar com a professora, pois sempre considerei esse passeio uma violação aos direitos humanos. Na minha mente surge o Simba Safari, existente em São Paulo, só que nesse caso, os bichos somos nós. A favela possui toda uma conjuntura habitacional dentro de vielas, muito estreitas, e que permite uma exposição de suas vidas muito maior, é preciso ter cuidado.

Há muito que se pensar a respeito do que expus acima. Em uma pesquisa realizada 97% das pessoas entrevistadas responderam que adoram morar em favela e não desejam se mudar, mesmo com as dificuldades existentes em sua infraestrutura.

Será que Belmonte, hotéis ou casas mais bonitas estão tornando os moradores mais felizes ou é o fator econômico, passando como um trator sobre as pessoas? Creio que vidigalenses estão em rota de colisão com os novos residentes. Parece que eles se sentem ameaçados de perder as suas identidades, a cultura própria da favela, os seus points de encontro e não estão se integrando aos novos moradores nem aos novos entretenimentos.

Há um sentimento de marginalização por parte dos moradores que se sentem perturbados na sua vida cotidiana e não estão com a menor vontade de participar dessa nova conjuntura.

A queixa da professora é a mesma dos moradores do Leblon que deixou de ser um bairro pacato e elegante, invadido de forma arbitrária, sem respaldo legal, pois até hoje os bares e restaurantes contrariam o plano diretor que não permitia esse abuso e que vem arrasando literalmente o quarteirão, como é o caso do Belmonte. Nós, moradores, vivemos, em sua maior parte, não participando dessa balburdia trazida por quem vem de fora e que nos segrega, já que nos perturbam bastante

Não sei se podemos olhar essa invasão no Leblon como uma evolução. Não se preocuparam nem com nosso sagrado direito de caminhar pelas calçadas e dormir sossegado. Evolução ou vandalismo? Gentrificação é progresso e bem-vindo, desde que as regras existentes sejam obedecidas, o que infelizmente não acontece. O respeito à ordem pública não pode ser violado, independente do poder econômico.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Vidas Interrompidas

EU sou completamente adepta da paz, tenho muita dificuldade em aceitar qualquer tipo de violência. A chacina em Paris da equipe de jornalistas do Charlie Hebdo, acrescida de quatro judeus, feito reféns e mortos por terroristas islâmicos, chocou-me intensamente, trazendo na sua magnitude profunda inquietação e tristeza, frutos de atos inomináveis.

Os jornalistas do Charlie usam como material de trabalho charges. A força da imagem é extremamente poderosa, dotada de um vigor que atinge nossos sentidos, penetrando nos nossos corações e mentes, de modo muito mais eficaz do que a palavra grafada ou verbalizada.  As imagens povoam nosso ser desde os primórdios da vida, por conseguinte, ocupam na escala linguística papel de suma importância e, infelizmente, essas imagens  desencadearam uma tragédia sem precedentes, um ataque à liberdade de expressão.

Esse doloroso e cruel atentado aos chargistas tem sido comentado como sendo resultante de um tremendo fanatismo religioso que tentaria impor ao mundo ocidental seus valores, ideias e modos de existir. Penso que a fúria expressa nesse massacre precisa ser examinada de uma forma mais ampla, pois foi inserido em um contexto, no mundo ocidental, mais precisamente em Paris, há muito fervilhante. O extremismo religioso, de um lado e a liberdade de expressão dos chargistas serviram de mais material explosivo a um contexto social e político de grande turbulência.

O Oriente Médio vem passando por grande desintegração. O Iraque destruído tornou-se presa fácil do fundamentalismo do Estado Islâmico, o mesmo acontecendo com a Síria. Guerras e mais guerras se sucedem, onde o povo passa agruras incríveis, tentando de qualquer maneira imigrar, buscando países já com boa densidade de imigrantes.

Temos assistido na Europa grandes campanhas contra os imigrantes. A chanceler Angela Merkel vem denunciando, com frequência, o ódio e a intolerância que marcam essas manifestações. Em Paris, a direita, comandada por Marie Le Pen e outros, instiga uma xenofobia marcante que nesse momento acaba sendo justificada.

A imprensa precisa ser livre, qualquer ameaça a ela me causa repulsa e pavor. Nós sabemos o quanto governos autoritários odeiam tudo aquilo que não lhes diga amém. Ansiamos pela liberdade quer seja de culto, de expressão, de opiniões divergentes, de culturas diversas, mas infelizmente não é tão fácil viver na diversidade. Os espaços acabam sendo disputados até no mercado de trabalho, há choques culturais com diferentes modos de existir.

O ambiente geográfico e social não é nada acolhedor para os muçulmanos que vivem em guetos, se amontoando nas periferias, sabendo que são odiados, detestados e ridiculizados pelas suas roupas, religião, modos de viver, enfim pela sua cultura. Acresce ainda a dificuldade dos muçulmanos de se inserirem na cultura ocidental intensificando a separação. Adeptos da religião islâmica são facilmente confundidos com terroristas e extremistas o que têm sido motivo de grande desgosto por parte da população religiosa, assim sendo o clima é de muita hostilidade.

Os dois lados dessa tragédia precisam ser olhados: a violência monstruosa dos terroristas que possuem motivações que vão além de um ataque religioso, nem por isso aceitáveis, e as charges do Charlie Hebdo, já conhecidas pelo peso que elas engendram, e que acabaram, em minha opinião, servindo de alvo. O excesso de irreverência nem sempre é aceito com facilidade.


Eu estou padecendo de mais uma dor: além da barbárie em Paris, Alex, um jovem brasileiro, brilhante aluno da UFRJ, que arduamente se preparava para contribuir para o mundo científico, perdeu a vida em um assalto em Botafogo, às portas da Universidade. Foi-lhe tirada a sagrada liberdade de ir e vir. Mais um jovem que sucumbe vítima da violência.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Uma receita para 2015

Gostaria que os homens públicos desse país deixassem de frequentar as páginas policiais e passassem a figurar entre os escolhidos como Personalidades do Ano. Não podemos mais aceitar que para se nomear as autoridades que terão nosso futuro nas mãos, a presidente necessite consultar o Ministério Público.

Desejo intensamente que os juízes se comportem de forma cuidadosa e elegante, com o devido cuidado que o cargo exige, não só nos tribunais, mas também na vida cotidiana.

Ficaria muito feliz se os transportes públicos fossem de qualidade e que seu traçado resultasse de um projeto mais elaborado, de modo que a população possa se abster do uso de seus automóveis.  O trânsito no Rio de Janeiro está virando caso de saúde pública. Não é possível que nossas autoridades não estejam percebendo que levar três ou mais horas para se chegar ao trabalho adoece física e mentalmente a população.

Seria um presente para o Rio, cidade Patrimônio da Humanidade, que fosse dado ênfase ao meio ambiente. Lagoas, baía, praias apresentam um nível de poluição chocante. A preocupação com o meio ambiente deve ser constante e não só para evitar a vergonha diante das Olimpíadas.

Pediria encarecidamente ao Prefeito que todas as áreas tombadas pelo Patrimônio fossem preservadas. As ameaças ao destombamento são diárias e vão da Marina da Glória à Lagoa de Marapendi, do cinema Leblon ao aumento dos gabaritos.
Ainda no item ambiente, as ruas e calçadas precisam ser preservadas. Calçada é de uso dos pedestres e as empresas não poderiam utilizar as ruas para o estacionamento de vans de transporte, assim como de caminhões e fretes. O prazer de caminhar pelas ruas ainda existe e não é aceitável que ele seja vilipendiado.

Gostaria que houvesse uma mudança radical na educação, a começar pelos currículos exaustivos e inadequados para um país desse tamanho. Os professores precisam se preparar para as mudanças e não exercerão com satisfação o seu trabalho se os salários aviltantes continuarem.

Novas escolas precisam ser construídas e as que existem devem passar por manutenção para que não ocorram desabamentos. O ENEM, que considero uma aberração, pode ser útil para se avaliar escolas e até acompanhar a involução ou evolução dos alunos, mas nunca servir como único método para o ingresso à universidade.

Quanto ao atendimento dado à saúde deixei por último porque entro em choque só de olhar a situação física dos hospitais, e isso quando eles existem porque o número de cidades sem hospital é muito grande. As condições em que os profissionais trabalham, quer seja por aparelhos que se estragam nas caixas sem serem entregues, quer por falta de recursos financeiros mesmo, é alarmante.


Todos os meus sonhos e desejos poderão ser realizados se os detentores do Poder forem escolhidos pela excelência e não pelo aprisionamento aos partidos políticos. Também cabe à população fiscalizar e lembrar que nossas vidas estão em jogo. É muito fácil se distanciar da vida política, também são tantos escândalos que desistimos de participar. No entanto, é justamente por isso que não podemos deixar de nos indignar com os desmandos que ocorrem, e devemos cobrar decência, impugnando a corrupção.