sexta-feira, 28 de junho de 2013

A Classe Média - O Grande Medo de Marilena Chaui


Segundo Merval Pereira, nosso ótimo jornalista, nas comemorações dos dez anos do PT, Marilena Chaui mostrou sua versão sobre o que é a classe média, na presença do ex. Presidente Lula: “A classe média é o atraso de vida, (...) é estupidez. É o que tem de reacionário, ignorante, conservador, petulante, arrogante, terrorista (...) a classe média é uma abominação ética, porque ela é violenta, é uma abominação cognitiva, porque é ignorante”.

Com a eleição do Presidente Lula, uma nova religião se instalou no país. Os deuses chegaram com seus poderes, dogmas e uma doutrina incontestável. São seguidos por milhões de pessoas tanto da classe média, incluindo muitos intelectuais, como os da classe menos favorecidas, todos marcados por uma fé inabalável.

Travestidos de protetores dos pobres e oprimidos, adotaram um discurso político que tinha como meta salvar o Brasil das mãos de políticos incompetentes e comprometidos com as elites. Segundo José Dirceu, eles trilhariam um caminho desértico como fez Moisés e para isso ficariam 40 anos no poder. Precisariam reinventar o Brasil.

Atraída por poderes tão mágicos, nossa população, que em sua grande maioria ama um Salvador, com verdadeira devoção, não hesitou em dizer amem a qualquer coisa que os deuses ordenassem, visto que a menor contestação seria um verdadeiro vitupério.

Poucos escaparam dessa visão quase messiânica que assolava o país. O que mais me chamou a atenção foi classe artística, sempre tão participativa, não ousou esboçar uma palavra sequer, mesmo diante do ataque aos cofres públicos, diante do mensalão e do descaso à Lei da Ficha Limpa, nada aconteceu.

Revelar que coisas graves estão ocorrendo não significa que nada presta, é um dever dar aos governantes um sinal do que a população vislumbra como perigoso para o desenvolvimento do país e as consequências danosas para a população, mas optaram por continuar a reverenciar os deuses. E assim deu-se autorização para que o reinado continuasse.

Este modo de governar é um grande ataque ao pensamento da população, porque paralisa, inebria, tanto que uma onda de perplexidade permeou a mente dos políticos. Ninguém imaginava que a classe média vivendo num país de clima messiânico onde tudo é maravilhoso, onde todos são alegres e felizes, invejados por americanos e europeus, passasse a reivindicar a diminuição do abismo entre os deuses e a população, e mostrasse a sua inquietude com os rumos do Brasil.

O grande medo da Marilena Chaui que justificasse tantos insultos à classe média se materializou com os protestos vindos das ruas de todas as pessoas que se sentem espoliadas.  Seu ataque peçonhento é diretamente proporcional às mudanças que poderão advir de uma classe que pensa e não é comprometida com o poder. O Brasil não quer mais, quer o que há muito tempo não existe: qualidade de vida.

Não suporto mais ver hospitais degradados, o povo em pé nos transportes sem poder se mexer, os professores adoecendo devido à violência, além de salários perversos, o loteamento de cargos técnicos ocupados por políticos incompetentes, que ama
m se locupletar e tem sede de poder.


Portanto está na hora dos nossos políticos governarem com mais responsabilidade e menos com os marqueteiros. É preciso, também, retirarem o manto da divindade e a coroa e se tornarem homens e mulheres como nós, lutando para que esse gigante que é o Brasil tenha índices nas áreas sociais compatíveis com a sua arrecadação tributária gigantesca. 

sexta-feira, 21 de junho de 2013

A Revolta do Outono Carioca

A mocidade viva na ruas
Nossos jovens acordaram, deixaram o futebol, a Copa das Confederações, o barzinho, o chope gelado e partiram para as ruas, em grande número, com o objetivo de cobrarem das autoridades deste país os trilhões arrecadados em impostos e que, de modo algum, puderam ser revestidos para uma qualidade de vida satisfatória.

Acordaram para um custo de vida altíssimo que sobe sem parar, sempre acima da inflação, para uma economia sem rumo e para seus parcos salários, totalmente incompatíveis com a carestia que ora se apresenta.

Como é possível que médicos e professores recebam R$1580.00 por mês? Tratam-se de profissionais que lidam com a saúde da população e com o difícil encargo de educarem crianças. A que se deve esse despropósito? Na passeata dos jovens, havia um cartaz com a seguinte frase: “Quero que o professor ganhe como um deputado e que as escolas tenham os moldes da FIFA.”.

Acordaram para protestar contra a maioria dos políticos que abandonaram o povo, deixando a nossa cidadania comprometida. Suas mentes são ocupadas com conchavos e com blindagens que deverão protegê-los de punições advindas dos meandros da corrupção. Realmente conseguiram conquistar nossa ojeriza e repúdio.

Vivemos em uma estranha democracia. É claro que o Executivo necessita de apoio parlamentar para governar, entretanto os 39 ministérios, os 20 mil de cargos em comissão, o mensalão, são moedas de troca para que se instale uma base política que garanta a aprovação de leis que nem sempre tem apoio da população.

Exemplo disso é a PEC-37 que retira do Ministério Público, incansável na sua luta contra a corrupção, o direito de investigar crimes que lesem o patrimônio da união. Isto significa que estão pretendendo escancarar as portas para que a volumosa corrupção engorde mais ainda e que todos os malfeitos sejam imunes à punição.

E por falar em corrupção, nunca se viu no Brasil um monstro tão gigantesco como esse que se instalou em todos os poderes, em todas as instituições e que trouxe gravíssimas consequências para o país. Ela é impeditiva ao desenvolvimento do país, ao atendimento da saúde, educação, transporte, moradia, infraestrutura e planejamento, enfim a tudo que possa contribuir para que a população tenha um IDH que dignifique o ser humano.

Corrupção é a imagem da destruição, do desamor, do desrespeito à sociedade, da falta vergonha, da traição. O desvio do dinheiro público poderia muito bem ser considerado hediondo, com severa punição.

Incensados pelos resultados dos institutos de pesquisa que indicam popularidade em alta, os dirigentes brasileiros entram em clima maníaco, ou seja, com a falsa ideia de que são maravilhosos e que estão agradando em cheio, podem subir nos seus saltos altos à vontade.

Tão envaidecidos estavam que não perceberam o desconforto na vida e na alma da nossa gente. Há políticos que até agora não perceberam a dimensão desse movimento e eu assisti pela TV declarações incríveis, como por exemplo, alguns mencionarem que não estavam entendendo o teor desse movimento (como passam a vida pensando neles não podem entender o mundo da realidade) e não estavam se fazendo de bobos, não entendiam mesmo.
O abuso do poder é outro inimigo da democracia: a sociedade não é ouvida, somos apenas participados de que se gastou no Rio de Janeiro uma fabulosa quantia na construção do nosso Taj Mahal (Maracanã) enquanto que a população gostaria mesmo é de ter uma qualidade de vida melhor.
Não são só os 20 centavos que estão nos irritando, estes foram a gota d´água de um copo bem cheio. Poderosas empresas dirigem o nosso sistema de transporte de modo aviltante e com o beneplácito das autoridades. Trens, ônibus, metro, barcas, sempre lotados com a população no seu ir e vir enfrentando longas distancias e engarrafamentos. Incomoda a insensibilidade do poder público que não torna obrigatório o ar condicionado e ainda por cima unifica as passagens, de modo que os que têm ar condicionado vão retirá-los. Quanto ao metro, sempre chegarão novos trens daqui a dois anos, só que com menos assentos, de modo a caber mais sardinhas nas latas.
Nós precisamos de uma classe política e de governantes comprometidos com o povo, cumprindo o seu dever durante o mandato com dignidade, tendo como meta a melhoria das condições de vida da população, respeitando o sacrificante pagamento dos impostos.
Não podemos esquecer que a classe política funciona como modelo para nossos jovens e hoje, convivemos com a nefasta influência dos maus políticos. Nunca se viu tamanho desrespeito às regras sociais, a agressividade impera, é só olhar o tenebroso espancamento dos professores, a cordialidade tornou-se rara e a solidariedade, nem pensar.
Mas...
"Ontem começamos a escrever um capítulo na história do Brasil. É com fé que vamos continuar nessa batalha pela construção de um lugar melhor. Chega de violência, de abuso de poder. Saudemos os corajosos que representam todo o país."

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Bolsa Família – peixe ou pescaria?

Um colunista do jornal O Globo publicou uma matéria sobre a péssima qualidade dos serviços em geral.
Realmente, ele tem toda razão. É dificílimo encontrarmos mão de obra qualificada que execute as tarefas com esmero.

Normalmente, o que se encontra são profissionais que não dominam as técnicas necessárias para os seus ofícios, também fica claro que não possuem a desenvoltura daqueles que sabem o que estão fazendo. Parecem aprendizes, aprendem com o olhar, observando alguém que sabe fazer e copiam.

O problema é de uma complexidade extrema e não é minha intenção esgotar o assunto, porem vou me permitir levantar algumas hipóteses:

O problema da educação. Esses profissionais pouco aprenderam no ensino fundamental , não foram incentivados a frequentar cursos profissionalizantes, até porque só atualmente apareceram novas escolas técnicas, embora o número delas seja insuficiente. Quando se aventuram nesses cursos, seu despreparo é tão grande que não conseguem acompanhar o currículo e acabam por desistir.

Salários não muito convidativos, assim a lógica de oferta e demanda do mercado explica o comportamento observado. As remunerações oferecidas não são atraentes. O trabalho parece castigo, talvez a herança escravocrata tenha contribuído para a nossa cultura que tem muita dificuldade em valorizar o trabalho.

À criação do Bolsa Família: indiscutivelmente trata-se de uma ideia maravilhosa, porem sem acompanhamento está se tornando um desastre com consequências imprevisíveis. Tenho notícias de mães que obrigam seus filhos a irem à escola, não por preocupação em educa-los , mas para garantirem o recebimento da Bolsa.

Estamos na 3a. geração de brasileiros que recebem essa ajuda, inclusive as igrejas também contribuem para a distribuição de alimentos. Isso implica que a geração anterior continua dependendo do Estado e me pergunto: até quando essa muleta será necessária? Não estaremos incentivando essa dependência? 

Há pouco tempo surgiu uma pesquisa sobre jovens entre 18 e 24 anos e nos foi revelado que o número dos que não trabalhavam e nem estudavam era tão grande que nocauteava qualquer um. Podemos concluir que a base do programa perdera as suas características e se tornara um convite ao ócio. O ócio é doença que pega, ninguém quer sair dele. A Bolsa parece que se tornou um desestímulo ao trabalho e ao progresso.

Não considero que se deva acabar com o programa que trouxe benefícios a milhões de pessoas, mas se torna necessário fazer avaliações contínuas no intuito de concedê-las aos mais necessitados. Está na hora, penso eu, de se iniciar a busca pelo mercado de trabalho. Esse é sem dúvida um momento crítico visto que os eternos bolsistas se encontram totalmente despreparados para exercerem qualquer atividade. Caberá então aos governantes a tarefa de torna-los cidadãos, capacitando-os ao trabalho.

Quem tiver a coragem de mexer neste vespeiro e se propuser a resolver este problema tremendo nunca será eleito. Não é do interesse dos bolsistas nenhum tipo de mudança, principalmente se a proposta for sair do ócio. Temos, portanto, um problemão a resolver.

O colunista reclamava, também, que as empresas não preparavam os seus funcionários, daí o atendimento ser péssimo. Eu mesma já tratei deste assunto quando se discutiu o despreparo dos motoristas de ônibus; a mão de obra disponível é mínima, é pegar ou largar e o pior é que não existe tempo suficiente para um bom preparo, visto que a carência de funcionários é grande.

A ausência e a ineficiência dos serviços devem ser motivo de grande preocupação porque compromete o desenvolvimento do país. Breve necessitaremos de, além dos médicos, importar mão de obra qualificada.
Essa perversão das Bolsas traz enorme prejuízo para os cofres públicos e uma inescrupulosa captação de votos que é perigosa para o país.

Podemos resumir essa exposição com a metáfora usada pelo ex-Presidente Lula, ou seria o atual?, é preciso ensinar a pescar e não oferecer o peixe.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

O Leblon do Faz de Conta e o Leblon Real

A palavra sofisticação, segundo o dicionário eletrônico Antônio Houaiss, tem um significado ambíguo, pode ser traduzida por elegante ou adulterado.

A Revista do O Globo de domingo, de 02.06. 2013, trouxe uma matéria sobre o Leblon. Levando-se em conta que sou antiga moradora, comecei a pensar sobre este bairro cantado em prosa e em verso. Tive o prazer de conhecer um Leblon elegante e essa elegância advinha da integração entre a sua majestosa natureza e a população que aqui residia.

Não sei precisar o número de reuniões das quais participamos, algumas debaixo de tempestades, para impedir a construção de um túnel no morro Dois Irmãos, proposta feita pelo Prefeito Conde, porém sem nenhuma proposta para o gargalo da Av. Princesa Isabel, o que provocaria na Av. Delfim Moreira um tremendo engarrafamento.  Nossos encontros, apesar de serem à noite, eram concorridíssimos. E o resultado aí está: nosso morro intacto e menos obstrução da Delfim Moreira.

A sofisticação do Leblon provinha dos objetivos ambientais da população, da convivência de pequenos prédios com outros não tão altos, da limpeza do bairro, da tranquilidade, das calçadas e esquinas livres, da pequena praia e sua areia branca, onde circulavam os vendedores de Mate, Biscoito Globo, Kibon e Picolé Dragão Chinês, portando bem diferente dos urubus à cata de lixo jogado nas areias, nos dias de hoje.

Nada é estático e muito menos a vida; mudanças são necessárias, porem não há nada mais destrutivo do que mudanças sem planejamento.

Hoje o Leblon é considerado um bairro sofisticado, mas, no meu modo de entender, no sentido de adulterado. Trata-se de um bairro badalado, frequentemente está na mídia, onde as pessoas veem e gostam de serem vistas, chamado também de Bairro dos Bacanas pelo nosso Ancelmo, e possui o metro quadrado das construções nas alturas.

Conta com um comércio gigante para o seu pequeno porte e, para completar, prédios menores cedem seu lote para centenas de claustrofóbicos micro escritórios. É também um polo gastronômico e mantém na Rua Dias Ferreira dezenas de bares e restaurantes, estruturados de qualquer maneira, sem nenhum tratamento acústico e usando e abusando de todas as irregularidades proibidas através do decreto 29.881/2008.

O CT Boucherie do Troisgros, com cadeiras empilhadas na calçada, o Campeão da Cafonice, o Belmonte, cuja reforma foi executada pelo arquiteto Hélio Pellegrino (que até hoje não conseguiu resolver o problema do armário embutido na calçada). Este que também recebeu o título de Restaurante Emérito, imbatível na 
quantidade de irregularidades, todas aprovadas pelas autoridades.

A força do comércio trouxe muitos visitantes que não tem com o bairro o amor que era comum entre nós, permitindo que um delicioso bairro residencial se descaracterizasse tão rapidamente. Caberia, agora, que o Dr. Washington Fajardo que freou o excesso de bancos e farmácias dar uma força no sentido de evitar que mais escritórios e restaurantes aparecessem sufocando–nos e degradando nossa qualidade de vida.

Com a venda de apartamentos de antigos moradores, premidos por suas aposentadorias e a construção de mais prédios, que, diga-se de passagem, são feios de doer, uma nova população povoa o bairro, inclusive trazendo celebridades.

Os novos moradores, é óbvio que não estou me referindo a todos, tem objetivos diferentes. Há uma prevalência de objetivos econômicos e sociais sobre os ambientais e ecológicos. Parece que, morar no Leblon, esteja ele como estiver, mesmo com o esgoto jorrando a toda hora, as ruas muito sujas, não é perturbador. É bacana morar no Leblon e pronto, nada a ser reivindicado.

Parece que é um espetáculo comparar o bairro com o SoHo ou Saint-Germain-des-Prés. Tão preocupados estão em igualar nosso bairro aos bairros parisienses ou americanos que se esquecem de olhar para ele com carinho, aplaudindo o que for bom e tentando melhorar o que está ruim. Também desconhecem a força da opinião pública que poderia trazer enormes benefícios para o bairro. É só olhar os índios; como a cabeça deles está aqui e não em Paris, sabem muito bem defender seus direitos.

Por fim o patrulhamento da indumentária: aqui todos devem ser informais, despojados. Se alguma incauta sair bem cuidada e de salto alto será taxada de perua da Barra que ousou frequentar as nossas paradas (absurdo esse preconceito contra o morador da Barra).

Creio que as pessoas se esqueceram de que o Leblon não é um balneário, mas sim um bairro onde se mora, se trabalha e que, se é democrático como dizem, estamos autorizados a usar a roupa que melhor nos aprouver.


Este é o Leblon de hoje, maravilhoso para alguns e para mim, uma obra de arte que necessita ser restaurada e de modo rápido, antes que seja perdida.