sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Assim a Corda Arrebenta

Vivemos momentos extremamente confusos, um atual modo de existir chama a minha atenção pela proeminência da relatividade.

Parece que não existe o certo ou o errado, o feio ou bonito, legal ou ilegal, o corrupto ou honesto, a mentira ou a verdade, o pudor ou despudor, respeito ou desrespeito, censura ou autorização. Não se pode nem dizer que há homens e mulheres. Até as leis são relativas, haja vistas as sentenças que saem dos tribunais.

Para o relativismo a realidade é uma questão de opinião, parece que se pretende cultivar na sociedade modos mais leves de se existir, entretanto os padrões éticos e morais estruturam nossas vidas, e nos indicam caminhos a seguir. Esse estado de coisas mais parece rebeldia de adolescente.

Essa elasticidade oferecida, permite que se crie um clima de confusão mental, de falta de identidade, de impedimento de pensar, de se discutir e afeta a criatividade. Os comportamentos são padronizados e, desculpe os maus modos, acho tudo isso muito chato.

O que se vê é um vocabulário pobre, os pensamentos precisam ser impostos, um verdadeiro patrulhamento e cerceamento psíquico. A superficialidade está em alta. Criam-se slogans bacanas (ou como falam atualmente: memes), quanto mais se força a barra, a sociedade se torna cada vez mais preconceituosa. Isso é que é realmente lamentável. 

Imaginem os pais educando seus filhos na atual pós- modernidade, como deve ser difícil! Não desejam ser chamados de fascistas, gostam de ser modernos, mas também eles mesmos terão de descobrir por si mesmos a melhor maneira de proceder, tarefa angustiante.

Por outro lado, há uma preocupação com o que vem surgindo. É fato que as bancadas evangélicas estão em amplo crescimento, o que penso ser uma reação à essa postura relativa. Os evangélicos, “são alguma coisa”, são evangélicos.

Não comparando, existem outros grupos que também têm identidade e bancada própria, são os corruptos. Entre eles existe uma unidade que lhes é peculiar: a da pouca vergonha. Sua razão de existir é a autopreservação.

O problema está com as pessoas honestas, estas sim, estão na corda bamba, nada os une, nada os guia, nada os representa.

Outro dia vi um colunista de um jornal, um senhor idoso, fazendo a apologia de um grande absurdo, tentando ser complacente, moderno e atual. Ridículo.

Nesses tempos de caos, muitos vão se preenchendo com o que observam, com o risco de se abastecer sem usar o devido juízo crítico.

sábado, 14 de outubro de 2017

De Olhos Vendados

A cena que vou descrever apareceu esta semana no jornal O Globo. A visão do medo e do desamparo era visível: uma senhora com quatro filhos e três netos, fugia com as crianças do tiroteio da Rocinha. Caminhando por pequenas ruelas, trazia os filhos em fila indiana. Suas crianças estavam com olhos vendados, por panos, de modo que elas não presenciassem um homem morto todo ensanguentado no chão em pleno caminho.

Uma tremenda lição de amor, sanidade, entendimento e preocupação diante de cena tão dramática e corriqueira. Apesar do desespero, ainda pensou nas crianças, pois ciente dos profundos traumas emocionais a que estes pequenos seres em formação estariam vivendo, tentou evitar ao máximo o acréscimo de danos. Viver ou morrer é quase uma questão de sorte.

Este caso é resultante do mar de abusos e insanidades, no qual   vivemos, mar este em plena ressaca, sem tréguas, sem coletes salva- vidas, onde somos jogados de um lado para o outro. À beira do suplício não aparece um barco que nos ajude porque os brâmanes desse navio, essa casta que se chamam senadores e deputados, só trabalham ininterruptamente para se salvarem das grades e se reelegerem. Não há tempo para pensar que esse país é habitado.

Para completar o quadro dos que estão se afogando aparece o Supremo Tribunal abrindo concessões ao crime. Os delitos de 33 senadores e 152 deputados, eleitos em 2014, que responderam ou respondem a inquéritos no Supremo poderão ser salvos pelo voto de Minerva (lembrar que voto de Minerva é proveniente do pensamento) da Ministra Carmem Lúcia. Nesse voto ela declara que constitucionalmente o Supremo pode votar medidas cautelares, mas diz ao mesmo tempo, que caberia ao legislativo a decisão.

Seria como a justiça condenar um assassino à prisão, mas a turma dos direitos humanos teria o direito de reivindicar a ausência de culpa do cidadão, afinal ele foi maltratado pelo pai na infância e por isso quem devia estar na cadeia era o pai e não ele.

Pelo visto, nomes pomposos como Supremo Tribunal ou a mais Alta Corte, não tem mais razão de ser. Mesmo tendo o decano Celso de Melo, como conselheiro que votou a favor das medidas cautelares, a Presidente deu um voto desengonçado para que houvesse harmonia entre os Três Poderes.

Que paz e harmonia é essa? Só os Três Poderes do País merecem harmonia? A senhora fugindo dos tiros têm paz? Quem está desempregado tem paz? O que se vê é o país inteiro vivendo sob o regime de guerra, cujos habitantes sofrem intenso estresse físico e mental.

Sem esperanças, acabam desejando o pior que é a volta da ditadura. Sem saber qual a bomba que vai estourar amanhã, preferem uma conhecida ou seja, a ditadura.

A Presidente do Tribunal em vez de paz criou uma instabilidade jurídica e moral.

“Até quando ó Catilina, abusarás de nossa paciência? Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua loucura?...” Palavras do Consul Romano Cícero a Catilina.