sexta-feira, 27 de março de 2015

Nós Ainda Estamos Aqui

O Movimento “Vem prá Rua” liderado por Rogério Chequer ilumina e traz, ao vivo, uma maciça participação dos moradores dessa cidade e do país. Acostumados que estamos a uma absurda inércia, nos levantamos para protestar contra a série de desmandos que, não só aniquilam o país, como também, esmagam os mais preciosos direitos do povo brasileiro.

Há muito venho lutando pela cidadania e não posso deixar de parabenizar a equipe de Rogério Chequer, que levou à rua dois milhões de brasileiros, para informar à classe política e governamental que a população está insatisfeita com a forma com que o Brasil vem sendo gerido, e com a alienação dos interesses da população em prol de vantagens eleitoreiras. A dissociação entre a cúpula e o povo, espero eu, está com os dias contados. 

Agarrando-me a essa esperança trago a notícia que nosso Governo Municipal, segundo pareceres de arquitetos e urbanistas, como nos informa o blog Urbe Carioca, na ânsia de promover os Jogos Olímpicos, vem se apropriando de áreas tombadas para acomodar seus projetos, como é o caso do tão discutido campo de golfe na lagoa Marapendi.

A cada dia surge uma novidade, mudanças de gabarito, destombamento do cinema Leblon, o projeto da Marina da Glória, e agora o Poder Executivo encaminha projetos de lei complementares à Câmara dos Vereadores que permitam a mais valia dada a quem quiser construir acima dos prédios ou até abrir janelas, inteiramente alheio à balburdia que isso causará. O que realmente importa é a arrecadação.

O jogo que vai ser jogado (palavras do Dr. Luiz Fernando Janot) agora é a construção de uma Arena no clube do Flamengo em plena Lagoa Rodrigo de Freitas, território tombado há muito tempo. Não se sabe ao certo se para três mil e quinhentas pessoas ou trinta e cinco mil.

Quem vem em direção ao Leblon, próximo ao clube do Flamengo, está consciente que precisa rezar para não ser assaltado naquele engarrafamento. Imaginem o nó que está sendo ser armado no trânsito. Não me causou nenhuma surpresa a opinião pessoal da Presidente da Ama Leblon e da Associação Comercial do Leblon que se pronunciou a favor com o seguinte argumento: "não nos afetará porque as pessoas não transitarão pelo Leblon". Não sei como pôde afirmar isso, mesmo porque o problema é muito mais grave. Trata-se de uma área tombada que, como sempre, será destombada com a maior facilidade.

O precedente aberto certamente arrasará o bairro do Leblon, já tão maltratado, e que não suporta mais nenhum tipo de agressão. É lamentável que a paisagem da Lagoa, também, seja mais uma vez desrespeitada com a construção desse monstrengo. Para mim, que possuo verdadeira devoção pelo ambiente, é doloroso saber que o Chefe do Executivo não possui nenhuma preocupação ambiental, não acolhe as leis urbanísticas vigentes e vive completamente distante da população.

Pessoal, “Venham prá Rua”, precisamos resgatar a nossa cidadania, lutar pelos nossos bairros, restaurar a ética e não se esquecer da estética. Não podemos fazer acordos de leniência com o Poder Executivo e sermos cúmplices da destruição do Rio, Patrimônio da Humanidade. Não há beleza natural que suporte tanta desatenção.


Conheço as dificuldades dos cariocas em participar das passeatas, bem diferente de São Paulo que levou um milhão às ruas demonstrando um incrível espírito cívico, mas sempre aposto na vitória do amor pela cidade que deve ser demonstrada efetivamente, mais do que comentada.

sexta-feira, 13 de março de 2015

O Cerco da Máfia

"Uma minoria organizada não pode mais explorar uma maioria desorganizada"

Foto do jornal O Globo
Precisou uma turista, vindo do Paraná em visita ao Porto Maravilha, para se abordar um assunto completamente apagado, mas que é uma tremenda aberração: a rede de fiação elétrica aérea, completamente exposta. Nem o perigo dos fios de alta tensão, rodeando nossas cabeças, mobiliza as concessionárias que só funcionam de olho no lucro.

Dias atrás, em um temporal, a queda de uma árvore trouxe ao chão um fio de poderosa voltagem, matando um homem. Na telefonia, só de abordar o assunto dá apagão mental.

Venho fotografando e tratando desses problemas há algum tempo. Os postes enferrujados estão escorados por vários tubos de outras concessionárias, todas incapazes de usarem o subsolo, totalmente alheios aos prejuízos que causam ao meio ambiente e à segurança.

A Light recorreu ao STF para escapar do decreto do prefeito Eduardo Paes em 2011. O decreto determinava que toda nova obra deveria ter cem por cento da fiação subterrânea. Uma liminar veio rapidamente favorecendo à concessionária carioca e às outras operadoras.

Fiquei me questionando qual seria o motivo favorecedor da alienação ambiental. Será que a beleza natural do Rio, tão comentada, é o suficiente para amaciar o ego do carioca?

A visão das árvores, tão encantadora, em uma promiscuidade indecente com o emaranhado de fios, impedindo a visibilidade do céu, a contemplação da arquitetura dos edifícios, poluindo a natureza, passa despercebida?

Ou será que estamos à mercê de algumas empresas mafiosas que usam nosso dinheiro sem a devida correspondência de bons serviços? E por falar em máfia, parece que nós vivemos em estado de sítio, cercados por elas de todos os lados. Da máfia dos maus políticos à máfia de alguns empresários delituosos, dos flanelinhas aos milicianos, dos bandidos fantasiados de policiais,  que em vez de dar bom exemplo, se beneficiam, ferindo as leis, espalhando terror, ameaçando a população.

Sem falar nos proprietários de restaurantes abusando das calçadas, com seus Valet Park obstruindo nossas esquinas. Podemos incluir a máfia dos traficantes e também a do MST que, pelo visto, possui um exército paralelo. Todas muito bem organizadas, com forte liderança e bem financiadas. Essas são só alguns exemplos.

Creio que, envolvidos com a constatação de que nós estamos perdendo nossa cidadania, assistindo nossos sagrados direitos, descritos na constituição, descendo ladeira abaixo, sentimo-nos decepcionados, frustrados e muito desamparados. 

A população não tem quem a defenda, então cabe à sociedade civil abandonar o medo paralisante e se unir, pois o contingente de pessoas decentes é muito maior que o dos malfeitores. Uma minoria organizada não pode mais explorar uma maioria desorganizada.

Mesmo que o poder público se encontre refém dos mafiosos, as leis não devem se tornar objeto de desprezo, lei é o que não falta nesse país, aliás, repetindo alguém, direi que “o Brasil só precisa de uma lei, com um único artigo: artigo 1º cumpra-se a lei”. O descumprimento desse artigo é responsável pela melancolia que toma conta das pessoas. Sem leis não há segurança e a leniência é cúmplice da violência.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Dilma, nossa Maria Antonieta

"Como na França, às vésperas das Revolução Francesa, o governo atira brioches àqueles que têm fome. No nosso caso, os sem teto receberão elevadores."

Os novos prédios do programa Minha Casa Minha Vida deverão ter um gabarito de três andares e, para facilitar a mobilidade, o governo pagará os elevadores. No Leblon há um bom número de encantadores edifícios cujo acesso aos andares é feito através de escadas. A maioria deles é habitada por antigos moradores que são idosos e que convivem com isso.

A minha pergunta é: quando os elevadores enguiçarem quem providenciará os consertos? Qualquer pessoa que possua mais de um neurônio, responderá: ficarão parados “ad infinitum”. Os moradores desses apartamentos são pessoas de baixa renda e os custos de manutenção e conserto dos elevadores são bem caros. Não me canso de me escandalizar com a insensatez e, quando a proposta provem da mais alta figura do país, a Presidente Dilma, fica escancarado o clima de desorientação ao qual estamos submetidos.

Certamente esses devem ser os brioches que Maria Antonieta, rainha da França, mandou oferecer à multidão que, faminta, clamava pelo pão.

Qual é o problema de se morar no terceiro andar sem elevador? Com organização, é possível destinar-se às famílias mais jovens à parte superior do prédio e aos mais idosos os andares inferiores. Pode-se fazer muitas coisas, só não é permitido deixar a insanidade transbordar.

Todas as vezes em que o dinheiro público é usado de forma impensada, e ainda mais em um momento de recessão, estamos deixando de atender milhares de situações urgentíssimas, tais como deficiências graves na saúde e na educação.

Ao tomar conhecimento do problema do Colégio de Aplicação da UFRJ que não pode iniciar o ano letivo porque faltou verba para o pagamento do pessoal da limpeza e que os professores do Paraná estão em greve devido aos atrasos nos seus proventos, juro que uma notícia dessa natureza, a dos elevadores nesse projeto, soa como escárnio e me tira do sério.

Tão grave quanto a corrupção, que promove uma sangria absurda nas finanças do país, existe outro problema de igual gravidade. Refiro-me à ineficiência escancarada de gestão. Tanto Marina Silva, quanto Aécio, procuraram mostrar que o Brasil pode funcionar muito bem com boa administração, bom planejamento e lisura.

Um sem número de obras que consumiram recursos inacreditáveis estão paralisadas, hospital construído em cima de lixão desativado, por exemplo. O que pensar do monumental aquário do ex. Governador Cid Gomes, em plena orla cearense, obstruindo a visão do mar, sem perspectiva de término?

O povo está cansado de presenciar o apelo a recursos antiquados de aumento de impostos e cortes de salários, onde a repetição substitui qualquer processo criativo. Aperta-se o contribuinte e gasta-se à vontade. O resultado é esse aí, desemprego, perda do poder de compra que gera estagnação da indústria e do comércio, uma inflação alta, dívida interna enorme e o mais triste de tudo, ver um país tão rico sempre atrasado em quase todas as áreas necessárias à vida, principalmente nos índices sociais.