sexta-feira, 23 de março de 2018

A Impunidade Contra-ataca

Dizem que o Supremo Tribunal federal, aceitando o pedido de Habeas Corpus de Lula, no dia 22 de março, concedeu uma vitória à Lula e ao PT. Antes fosse só isso!

Com perplexidade vemos surgir a vitória da impunidade, a vitória da vaidade, a manutenção do establishment, da liberalidade, do poder da Suprema Corte sobre a Lava Jato, a vitória sobre juízes jovens, cuidadosos e competentes, preocupados com a decadência e a decência das instituições e com a população. Trabalharam muito para coibir o que de mais nefasto aqui existe: a corrupção e a impunidade.

É a vitória dos grandes advogados que, sedentos de fama, desejam defender pessoas que arruinaram o país. O mais sofrido dessa história é que ainda precisamos arcar com os custos desses profissionais. Afinal, de onde saem esses honorários altíssimos? Dos nossos impostos que foram saqueados.

Assistimos a malabarismos verbais, levantando-se firulas, para defender o indefensável. Foram buscar em Olga Benário Prestes, que estava grávida há oitenta anos atrás, o erro de não lhe ter concedido o Habeas Corpus, de modo que ela foi extraditada e executada em campo de extermínio.

Esqueceram de contar outros erros, inclusive que, do ano de 2000 até hoje, condenaram quatro casos, apesar das centenas de ações impetradas. Entretanto, em quatro anos, foram condenados pelas mãos de Sergio Moro, 114.  A vitória da competência e da lealdade à nação é acachapante. Ninguém é prestigiado graciosamente, o povo sabe quem luta por ele.

O decano Celso de Melo, o mais ardoroso defensor da constituição, pressiona, ostensivamente, Carmem Lucia para que se retome a discussão sobre o fim da condenação em segunda instância, com o objetivo de trazer de volta o trânsito em julgado, um entendimento jurídico que inexiste no mundo civilizado, e que posterga os julgamentos ad infinitum. Que tragédia para os brasileiros!

A OAB luta, também, para que o Supremo descredencie a segunda instância. Será por amor à presunção de inocência, ao direito de ir e vir? Será pouco o julgamento de dez juízes sobre Lula, responsáveis, meticulosos no exercício de sua profissão?

Certamente a pressão para trazer este assunto em pauta, traz em seu bojo, a abertura das portas das cadeias para os poderosos de colarinho branco, que esperam em fila, protegidos pelo foro privilegiado, a sua vez de serem julgados se não forem reeleitos. A primeira é Gleisi Hoffmann.

Sinto uma tristeza medonha ao constatar que sob a ótica da rigidez constitucional, não sobre um olhar, um sentimento de compaixão para o que aconteceu com o Brasil. O impagável preço da impunidade, nos trouxe desemprego, pobreza, miséria, abandono, gerando em pleno século XXI doenças arcaicas que foram erradicadas e que voltaram com força, exibindo o atraso e a indecência do país.

As togas que tornam os juízes, segundo a observação de alguns advogados, os tornam parecidos com Batman, e estariam sendo usadas como uma espécie de armadura contra a injustiça. Tomara que as vestes, um dia, façam jus à justiça.

sexta-feira, 16 de março de 2018

Entre a caneta e a bala

Dia desses um cientista político, Nelson Paes Leme, declarou que a Cidade Maravilhosa não possui tanta violência, ela é exagerada pela mídia, o que temos são gangsters na política. Não concordo, há muitas maneiras de submissão à violência e à insegurança. Não vou me referir aos mais dolorosos crimes que são os assassinatos e assaltos cotidianos, 60 mil assassinatos em um ano. Vamos falar de vários tipos de violência:

Acredito que estamos sitiados pelos dois crimes organizados, o do narcotráfico e os criminosos que usam a caneta. O que fazem da cidade e do país esses maravilhosos cavalheiros? Creio que eles nos devoram!

Os gangsters do asfalto permitiram durante décadas que 763 comunidades circundassem a Cidade Maravilhosa.  Para o tráfico, favela é um logradouro maravilhoso, inexpugnável, pois uma atuação ostensiva colocaria os moradores honestos em risco.

Não se tem notícia de políticas habitacionais que atendessem a necessidade dos moradores, condenados a viverem de modo inóspito, com ausência de saneamento básico e de políticas sociais. Hoje temos quase dois milhões de pessoas acotoveladas de maneira subnormal e às expensas do tráfico. Para mim, isso se chama violência.

A super dimensão das favelas denuncia um crime ambiental sem precedentes, um crime contra os direitos humanos, uma injustiça social tremenda. Cai no colo das forças armadas o resultado da inépcia, dos bilhões gastos de forma inútil, do vácuo entre poder público e população. 

Outra escabrosa violência é a situação de empresas prestadoras de serviço. Devido à guerra entre as facções, os Correios, a Net, a Light etc. não se aproximam das favelas. A maneira de aliviar essa situação é compensar os custos no asfalto, ou seja, precisamos contribuir para que as empresas continuem lucrando. As contas que nos chegam são exorbitantes, mas a inflação é tão baixinha, uma gracinha. Pagamos pelo o que não usamos, abuso inacreditável.

Os mafiosos do poder não param por aí, eles precisam de apoio para se reelegerem e então são distribuídas isenções fiscais a milhares de empresários. A desculpa é que os beneficiados geram emprego, como se só grandes empresários fossem capazes. Os bancos também são privilegiados, os lucros são exorbitantes, mas devem fortunas ao INSS.

Não há problema, sempre sai da cartola dos mágicos e psicopatas do governo a draconiana Reforma da Previdência. Tão fácil retirar dos desvalidos mais algum. Essa turma do poder não tem vergonha, jogam o jogo fácil, mentiroso, exercendo o domínio da violência contra o povo.

A maior violência contra a população do Rio de janeiro, também contra o Brasil, será a impunidade que está por vir. Essa miríade de políticos e governantes que desonraram os votos recebidos nas eleições está para ser liberta. Violência explícita contra os valorosos e corajosos juízes da primeira instância e contra os desembargadores do TRF-4, cujos minuciosos trabalhos deverão ser descartados. O STF anseia pelo trânsito em julgado, isto é, os bandidos da caneta ficarão livres, anos e anos, até o crime ser prescrito.

Para não se prender o ex-presidente Lula, serão soltos todos os políticos, empresários, verdadeiros malfeitores que jogaram a população no caos, na desordem econômica, moral e social.

Um país poderoso, uma Cidade Maravilhosa, cujos moradores vivem seus dias diante da expectativa do que poderá acontecer no Supremo Tribunal que a cada seis meses muda de ideia. Um país que possui uma insegurança jurídica dessa ordem é a imagem da violência.

O homicídio é a mais evidente forma de violência, mas os cariocas e os brasileiros estão sujeitos aos ataques dos dois tipos de bandidos.

PS: É com grande pesar que que recebemos a notícia do brutal homicídio que envolveu a vereadora Marielle e Anderson Pedro Gomes que estava trabalhando, provisoriamente, como motorista. Ele deixou uma criança pequena.

sexta-feira, 2 de março de 2018

O FIM da APAC do LEBLON

Em 2001, pequenos prédios do Leblon foram apacados, isto é passaram a pertencer à APAC (área de proteção do ambiente cultural). No bairro se mesclavam construções não muito altas e outras menores, algumas bem projetadas e outras engraçadinhas.

A ideia era fazer do Leblon, que era pequeno, uma acomodação, uma conversa entre os prédios, as ruas e os moradores. Sempre preservando o ambiente de modo a evitar o aspecto sufocante de outros bairros, manipulado pelas construtoras.

Entretanto, nem todos são iguais perante às leis. No Brasil e no Rio a cada dia proliferam os poderosos, ou seja, contingente que funciona acima da lei. Eles submeteram um abaixo-assinado ao Prefeito Paes, que também não é de brincadeira, para que fosse permitido ao Cinema Leblon (uma jóia Art Deco) a construção de escritórios em caráter excepcional.

Esse abaixo-assinado englobava quinze pessoas, não moradoras do bairro, com exceção da presidente da AMA Leblon, que também é Presidente da Associação Comercial do Leblon (onde já se viu tamanha aberração?). O pedido era destinado ao Cinema Leblon, mas nós sabíamos que se tratava de um cavalo de Tróia.

Foi uma gritaria geral, somente após muitas lutas dos moradores conseguiu-se manter a fachada do cinema, mas por trás haveria um espigão de consultórios, que por sinal a obra ainda não deslanchou e está parada até hoje.

Lamentei muito essa decisão porque sempre lutei pela APAC e sabia da sanha desenfreada dos construtores pelo bairro. A largada foi dada e já se destruiu uma casa na Humberto de Campos, e em seu lugar foi construído um monumento à feiura. O prédio é todo cercado por um muro alto, e a garagem é vizinha à portaria, mas a grife é Mozak Engenharia.

Penso que muitos moradores ainda não se deram conta do que vem pela frente. Agora, o mais lindo prédio do bairro, na praça Baden Powell, motivo de postagem minha, encanto de milhares de pessoas que passam para admirá-lo, sofrerá a mesma enganação do cinema Leblon, mantem-se a fachada e um tijolão atrás. Outra construção da Mozak.

Nós que vivemos aqui estamos compreendendo que não temos história, nem passado e nem futuro, mas um presente sempre com alguma novidade contra a comunidade. Leis e decretos podem ser mudados de uma hora para outra. A preservação e o cuidado ambiental inexiste.

Enquanto isso, as redes quase centenárias de esgoto e iluminação, estão se arrebentando, basta olhar o que sai dos bueiros. Onde havia quatro famílias agora são dez ou vinte e temos de pular amarelinha nas calçadas para nos livrarmos dos dejetos.

O Rio está aniversariando e o Leblon ganhou esse castigo. A visão do entorno era paradisíaca, com o céu e o sol brilhando nas nossas cabeças, e que de certo modo aliviava os transtornos emocionais que a cidade nos oferece. Estamos perdendo a graça e as características.

É impressionante a degradação em todos os bairro, parece que nossos destinos é viver sob o manto da insensatez onde a esperteza é a tônica.