sexta-feira, 16 de maio de 2014

Geração inebriada

Encontros etílicos
O relatório anual da OMS (Organização Mundial de Saúde) sobre álcool e saúde trouxe indicadores preocupantes, embora, para mim não tenha sido novidade. Sempre considerei que o álcool é uma das drogas mais usadas pelo brasileiro. Encontra-se facilmente, é mais barato e de uso livre, salvo para menores de dezoito anos e que, como sempre acontece, a lei não os impede.

Confesso que não consigo administrar com tranquilidade a costumeira passeata de adolescentes, na faixa de quatorze anos, de bar em bar, começando pelo Bar Clipper em frente ao cinema Leblon, passando pela rua Dias Ferreira, reduto do álcool, do início ao final da rua,  com seus copinhos de cerveja à mão, triunfantes, inseridos no modelo atual vigente, consumidores de cerveja.

A adolescência é uma fase onde mudanças biológicas e psicológicas trazem grande efervescência à vida dos jovens, resultando em conflitos pessoais e familiares, questionamentos, medos, inseguranças e incertezas. Tentam se afirmar como indivíduos, buscando modelos de identificação. Moças e rapazes glamorosos, que aparecem nas dezenas de anúncios de cerveja, apregoando liberdade, alegria e felicidade, parecem ser a grande aspiração dos jovens.

A cerveja, também, auxilia na mudança de foco, pois as angústias, por algumas horas, são esquecidas. Torna-se inimaginável enfrentar a vida, com os desafios que ela nos apresenta, tendo uma única válvula de escape, a bebida. Quem assim procede é quase certo cair no doloroso vício do alcoolismo.

Grande parcela de responsabilidade sobre essa tragédia que ameaça os jovens, poderia ser eliminada pelos pais, porém, muitos deles também fazem uso abusivo de bebida perto dos filhos. Gostam de buscar o relax através do álcool.

O imediatismo que caracteriza a vida cotidiana também os impede de pensar e buscar alternativas que pudessem auxiliá-los em suas angústias. O individualismo os torna solitários e incapazes de atuarem como líderes familiares na condução da vida dos adolescentes diante da ameaça do alcoolismo

Não poderia deixar de externar a minha consternação diante do bombardeio midiático que as companhias de cerveja exercem sobre a nossa juventude. Fico perplexa com a ausência de sensatez sobre essa enxurrada de veneno que se oferece aos jovens, como símbolo de alegria, modernidade e felicidade, a não ser um ridículo lembrete: “beba com moderação”, ou seja, tenha cirrose, mas evite morrer.

As autoridades também se omitem, eu diria que até incentivam, pois elas permitem a abertura de dezenas de bares, e não coíbem a venda de bebidas a menores. O mesmo ocorre nas praias com a oferta indiscriminada de cervejas e, como sempre, de olho na arrecadação de impostos que supera qualquer cuidado com a juventude.

Penso que a escola poderia ser um bom veículo de auxílio a essas crianças, porém como estamos na era da massificação o importante é entulhar a cabeça delas com conhecimentos, sem nenhuma real preocupação com estes seres em formação. As crianças, desde cedo, poderiam ser atraídas para o terreno das artes, da literatura, de jogos, incentivando amizade entre elas e servindo de contraponto à quase obrigatória bebedeira.

A situação que se configura agora é tão absurda que os jovens que não bebem, porque não gostam ou porque pertencem a religiões que não aprovam o uso de bebidas alcoólicas, são ridicularizados, desistindo de frequentar festas dos colegas de suas classes.


Os profissionais da área da saúde, os conselhos de medicina, as associações psiquiátricas e psicológicas precisam redobrar a atenção ao alcoolismo, já que sendo uma droga lícita, muitas vezes não é dada a ênfase que ela necessita. Privilegiamos muitas vezes as drogas ilícitas, mesmo que estas tenham um impacto na população menor. 

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