sexta-feira, 9 de maio de 2014

A etiologia da violência

A violência é um assunto de extrema complexidade e que deve ser discutida por vários segmentos de nossa sociedade.

Estamos diante de um estarrecedor quadro de hostilidade civil, ao qual o Rio de Janeiro e outras metrópoles estão submetidas, e que, ao que me parece, é o resultado de vários fatores inclusive uma conjuntura social e política que vem influindo nas nossas vidas, nos últimos anos. Cito alguns:

Causas familiares:

A estrutura familiar passou por modificações importantes com a ascensão da mulher ao mercado de trabalho. Com a ausência dos pais, a incumbência de cuidar das crianças foi transferida, quase integralmente, às babás, parentes ou vizinhos.

Os pais modernos, além das preocupações com o sustento familiar e os filhos, ainda necessitam encontrar tempo para suas próprias necessidades, tais como exercícios físicos e programas sociais, assim sendo, o corre-corre diário e o estresse são enormes. Eles apresentam, também, uma grande obsessão pela juventude e comportam-se como irmãos de seus filhos como se não houvesse diferença entre as gerações. Essa atitude impede diálogo franco e aberto com os filhos que passa a ser substituído pela irreverência e falta de autoridade.

Acredito que a psicologia, tão benéfica para o entendimento das crianças, foi mal compreendida e os pais receavam traumatizar seus filhos com comportamentos que pudessem frustrá-los. Pelo mesmo motivo, o “não pode” e punições passaram a serem consideradas atitudes repressoras e, como tal, obsoletas. Essas preocupações ultrapassaram o que seria mais importante, ou seja, compreender cada filho no que se refere aos seus anseios necessidades e suas limitações pessoais, auxiliando-os no seu desenvolvimento, de modo mais afetivo, procurando corrigi-los, evitando-se que se tornem pequenos déspotas onipotentes e agressivos.

Fatores culturais:

A ideologia do consumo e a sociedade do espetáculo gerou uma massificação preocupante. As pessoas devem se vestir de tal e qual maneira, adquirir determinados aparelhos, sempre os de última geração, o carro do momento, a viagem com as dezenas de malas etc. etc. O consumo passou a nos definir como pessoas, ancorando precariamente nossas já frágeis identidades.

O potencial humano, um vir a ser criativo, valores morais, ambientais, qualidade de vida, foram soterrados, assim como a individualidade de cada um escondida sob esses escombros.
Cultiva-se o individualismo como forma de suposta independência e inutiliza-se todo o esplendor e as maravilhas de um existir de modo individual, com suas características próprias, sua personalidade e seu pensamento de modo a contribuir para o bem estar pessoal e social.

A massificação autoriza as pessoas a dizerem as mesmas coisas, a se exprimirem de modo grotesco, com zero de fluência verbal e a viverem em um vazio existencial de dar dó. A violência aparece como a salvação que pode preencher esse vácuo tedioso.

Causas institucionais:

A falência das instituições sociais provoca uma desagregação sem precedentes.
Políticos prometem o que não podem cumprir, enganam o povo, usam o dinheiro público a serviço de suas vaidades, com construções desnecessárias de modo a deixarem suas marcas visíveis e se esquecem de serviços básicos que estão funcionando, todos sem exceção, à beira de um colapso. 
Enquanto isso a vida cotidiana vai caminhando sabe Deus como, sem esgoto, mobilidade urbana, pessoas enlatadas nos transportes, sem saúde e educação etc.

O nosso Prefeito que no meu modo de entender desperdiçou o seu talento empreendedor, não se cansou de alardear que o gasto com as obras da Olímpiadas teve setenta por cento de parceria privada. Imagino o que empreiteiras e outros empresários esperam receber de nós, contribuintes. Não há jantar grátis.
O que se gera a partir do descontentamento, irritação e violência, em demasia, é a faísca do povo.

Reversão dos fatos:

Não se pode viver de bom humor e com satisfação em uma sociedade onde o malfeitor passa a ser vítima.  Nossos governantes provocam uma distorção perceptual, mental, ocular cujo objetivo último é encobrir tremendas tramoias, deslavada corrupção, que estão derrubando esse país, destruindo suas riquezas e como sempre tutti buona gente, fugindo de responsabilidades.

Utilizam discursos pervertidos e sem nexo cuja única motivação é reverter a verdade, traindo a população que os elegeu, esconder os malfeitos (eita palavrinha feia!) e sair hasteando a bandeira de protetor do povo.

Se para o andar de cima tudo é permitido, abre-se o sinal verde para o andar de baixo proceder da mesma forma, ou seja, total liberdade. É assim que se chega à barbárie.

Desnível Social:


Convive-se lado a lado com riqueza desmedida e pobreza absurda. Isso por si só pode gerar revolta e violência. Aqueles que possuem grandes riquezas conquistadas com o próprio esforço, são vistos com desconfiança. No entanto, o mérito não os exime da responsabilidade social de pagar melhores salários e contribuírem de modo constante para o desenvolvimento dos mais pobres. 

Se os bem sucedidos são vistos com descrença, os verdadeiros barões da corrupção e da roubalheira são nossos heróis nacionais. Estes estão destruindo a vida e a alegria de viver de toda a nação. Puro exercício da mais bruta violência, pois negam as possibilidades e futuro de todo um país. Em termos de crueldade, a corrupção ganha grau dez, uma forma covarde de violência.

Alguém já viu violência gerar outra coisa que não seja violência?

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