sexta-feira, 28 de março de 2014

O Desafio de Elio Gaspari e a passagem para Nova Iorque

Poucas cidades do mundo oferecem tantas oportunidades para que a vida seja muito agradável como o nosso Rio de Janeiro. Desfrutamos de praias paradisíacas, florestas, lagoas que nos dão a possibilidade nos inebriarmos, não só com o lazer como também com a prática de esportes.

Entretanto essa geografia com a qual fomos premiados pode ser favorável dependendo da eficácia dos serviços que nos são oferecidos, e é aí que a cidade naufraga. Nos últimos doze anos, a população que aqui reside, sofre as agruras e angústias de uma qualidade de vida em declínio, levando-nos a desonrosa octogésima quinta posição no IDH do mundo, atrás de Azerbaidjão e cia.

No Rio, as instituições, quer sejam federais, estaduais ou municipais estão sucateadas. Não existe nenhuma que ofereça um serviço digno, eficiente e que mantenha o padrão de qualidade. O nosso prefeito se refere à COMLURB como uma estatal brilhantíssima, certamente eles está se referindo à COMLURB de dez anos atrás, e não a essa.

Atendimento desumano
(Foto do O Globo)
Focalizando a saúde, creio que é de fazer corar o mais apático dos cidadãos. Ao chegar um paciente, em estado de sofrimento, a um hospital vai se deparar com uma condição física do prédio escabrosa, há falta de leitos, de médicos, de equipamentos, de remédios e infraestrutura de um modo geral. As cenas que nos são mostradas através da mídia, nos causam tristezas e horror. A indignidade circunda as instituições hospitalares.

Educação: sempre na zona de rebaixamento, professores mal pagos (receberam computadores do ministro Mercadante porque devido a seu estado de mendicância não possuem condição de comprar um) prédios em situação precária, quase todos com a inexistência de locais para a prática de esportes, currículos inadequados, faltas de creches e a eterna ausência de professores de determinadas áreas.

Transporte: já faz parte da crônica policial. Diariamente tomamos conhecimento de excesso de velocidade, profissionais exaustos, muitas vezes embriagados, que sobem nas calçadas, atropelam e matam crianças, despencam de viadutos, tombam, avançam sinais e colidem com outros veículos. São tantos os acidentes que a população parece que perdeu a capacidade de se indignar, não por falta de compaixão, mas por exaustão.

Esgoto sendo jogando no mar na Av. Niemayer
(Foto: O Globo)
Saneamento o grande Rio naufraga em fezes. Ganha uma passagem para Nova York, como diz Elio Gaspari, quem visitar o Leblon e não encontrar nenhum esgoto rolando. As praias são totalmente poluídas, e variam de uma grande poluição a uma poluição que, um cidadão zeloso de sua saúde, não entraria no mar em hipótese alguma. 

O costão da Avenida Niemeyer é banhado por um esgoto tão intenso que é facilmente percebido até por visão aérea. A nossa maravilhosa Baia de Guanabara, um espaço espetacular para a prática de esportes, não passa de uma lixeira aquática.

Fico impressionada com o descaso relativo à saúde da população. Nossas autoridades não advertem para o perigo nas praias, devido à contaminação das águas, de contrairmos uma hepatite ou outras doenças infecto contagiosas. Todo mundo percebe as fezes boiando, mas elas permanecem lotadas de cariocas, ansiosos por desfrutarem de uma praia linda, negando o perigo que ela representa. As autoridades ficam em silêncio, sinalizando para o mundo um Rio de Janeiro repleto de pessoas alegres, receosos de perdas com o turismo.

Abordei somente três instituições em estado deplorável. Se fosse me referir a tudo que nos falta para que pudéssemos ter uma boa qualidade de vida exauriria o leitor.


Gostaria de lembrar que não é só incompetência dos gestores que degrada uma instituição. Creio que há outros motivos para que isso ocorra. Os profissionais que ali trabalham demonstram uma ausência de qualificação pessoal, de motivação, recebem parcos salários, e enfrentam diariamente uma maratona nos deslocamentos de suas casas ate o trabalho. Em sua maioria são profissionais desatentos pouco atenciosos e, também, como nós sujeitos a uma péssima qualidade de vida, assim sendo diante de tantos empecilhos, a qualidade dos serviços só poderia ser péssima. Controle de qualidade? Nem pensar, não passa de um sonho.

Se no Leblon, bairro com um dos metros quadrados mais caros do planeta, é impossível andar sem encontrar esgotos correndo pelas calçadas, o que dizer do resto? Este pode ser um exemplo pontual e até elitista para alguns, mas tem seu valor em denotar a situação deplorável em que se encontra nossa cidade e estado. 

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