sexta-feira, 4 de abril de 2014

A enganação da vez: O Lixo

Removendo toneladas de lixo com conchinhas
Há algum tempo atrás, quando a UPP da Rocinha ainda não havia sido instalada e o ambiente nessa comunidade fervia, um grupo de senhoras do high society resolveu oferecer rosas às senhoras que ali residiam, em uma atitude que me pretendia ser conciliadora. Entretanto não me surpreendeu nem um pouco quando as referidas moradoras denotaram certa repulsa pelo ato, afinal aquilo era completamente desconexo com o momento que elas viviam.

Nessa mesma linha de pensamento lembrei-me que uma quadra de tênis fora inaugurada no mesmo local por um campeão de tênis e, tempos depois um mini campo de golfe. É preciso não esquecer que há milhares de crianças nas favelas e mesmo assim, em outra foto, não havia ninguém na quadra de tênis. Também poderia nomear a farra dos teleféricos, úteis, mas não os primeiros na linha de necessidades urgentes.

Tenho chamado a atenção, em muitas postagens anteriores, da falta de diálogo entre o poder público e a população quer seja do asfalto ou das favelas. Será que aquilo que as pessoas desejam é o que está na cabeça dos secretários de estado e do prefeito? Claro que não, porém o que deveria fazer parte de um planejamento sério, observando-se as necessidades de uma melhor qualidade de vida, certamente dá trabalho. Levando-se em conta o atraso do corpo político, que ainda é muito alto, prefere-se apostar no assistencialismo barato e nas mais diversas formas de enganação, ávidos pela suposta manutenção da popularidade.

Posso tomar como exemplo o lixo, que no meu modo de entender é um dos problemas mais sérios das comunidades. A COMLURB, que pelo visto é mágica, pois está se propondo a limpar essa área, vai fazê-lo de que modo? Os caminhões, na impossibilidade de se embrenharem  pelas ruelas, cederão o lugar para a utilização de carrinhos-de-mão conduzidos por garis que subirão os morros para recolher o lixo? Não vejo alternativa, e esta redundaria em mais uma proposta indecente, devido a inviabilidade e ao alto custo por tonelada de lixo.

Nós temos um grande Secretário de Segurança que é o Dr. Beltrame. Não lhe falta discernimento, coragem e capacidade de trabalho e, no entanto, ele mesmo percebe que todo o seu trabalho poderá vir por água abaixo se a política de enganação continuar. O secretário também não é a favor de uma política de militarização, salvo em casos excepcionais. Não podemos deixar de dar crédito a um homem cuja dimensão elegeu um governador pela segunda vez. 

Manoel Carlos esqueceu de
mostrar esta vergonha no Leblon
Creio que o que precisaria ser feito mesmo é a relocação de moradores para que algumas ruas fossem abertas e com isso, tanto o recolhimento de lixo, quanto o saneamento pudessem ser atendidos.

Essa seria a solução definitiva, porém precisaríamos de dois Beltrames, um para a secretaria de segurança e outro para ser governador, pois esbarraria numa atitude impopular que exige pulso, coisa que o então governador Sérgio Cabral não tinha... Essa medida não é agressiva, no meu modo de entender, pois atenderia a uma necessidade básica e urgente da comunidade.

Na ausência de outro Beltrame, há linhas de conduta que poderiam auxiliar na questão do lixo que é o envolvimento da comunidade nesse problemão. A minha observação é que as pessoas, quer do asfalto, quer da favela, se habituaram a conviver com a desordem e a imundície. Creio que uma campanha ininterrupta sobre o desconforto que é viver em uma cidade suja, as doenças advindas daí, a agressão ambiental e também o entrave ao turismo deva ser conduzida em rede de televisão. Essa campanha necessita ser desenvolvida pelos moradores dos bairros, das comunidades, pessoas de nossa vida cotidiana. Algo próximo a todos, sem a necessidade de estrelas da televisão.

Lixo na rua não é exclusividade da favela.
Praça Baden Powel, no Leblon 
Também é possível traçar estratégias, centradas em grupos de moradores que escolheriam locais para se congregar o lixo de modo a facilitar o trabalho dos garis. Isto se faz necessário, pois o lixo também é responsabilidade da população. Não adianta só culpar o estado e ficarmos esperando que uma solução mágica caia dos céus.
A sociedade precisa se envolver, fazer-se ouvir, sugerir ações construtivas e principalmente atuar de modo mais civilizado. Moro no Leblon, área de proteção do ambiente cultural, e até hoje tenho vontade de chorar quando encontro móveis, resíduos de construções e colchões nas esquinas.

Para ilustrar o problema da ineficiência do poder público e do abandono, uma pesquisa realizada pelo IBPT aponta que somos o país, dos 30 pesquisados, que menos dá retorno em qualidade de vida pelo volume de imposto recolhido. Ou seja, pagamos MUITO e recebemos NADA em troca. 



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