sexta-feira, 21 de março de 2014

Lucélia Santos e os Ônibus

Cenas cotidianas. Quantos feridos? Ninguém se importa.
Que cidade é essa que ridiculariza Lucélia Santos pelo simples fato de ela andar de ônibus? Nosso povo aprendeu a ter um discurso politicamente correto, mas o preconceito é sempre gritante. Se atitudes simples e, até diria, bacana como essa se revertem em polêmicas, imagina o resto.

Em vez de andar de transporte público, que deveria ser símbolo de inteligência, preocupação ambiental e um marco importante pela luta por um transporte público decente, nossos elitistas cidadãos passam horas engarrafados em seus carrões, noventa por cento das vezes com um único passageiro a bordo, perdendo um precioso tempo que poderia ser desfrutado com algo muito mais enriquecedor (por exemplo leitura...). E ainda para completar esse quadro de total ignorância, além de deixar o trânsito caótico, estacionam até em vagas de deficientes e outras estripulias que são cometidas no trânsito.

Quantos anos ainda teremos de esperar para que tenhamos instituições sólidas, que utilizem o fruto de nosso trabalho para um sistema de infra estrutura que atenda às nossas necessidades básicas e que se tenha qualidade de vida? Nós, cidadãos dessa cidade, não podemos aceitar o abandono em que vivemos, devido a um grande balcão de negócios que grassa no meio político.

É impensável numa cidade como o Rio de Janeiro, de temperaturas altíssimas, que nossa frota de ônibus e trens não tenham refrigeração. É desumano como tratamos os cidadãos que PAGAM e caro por transporte público nessa cidade. As cenas diárias de pessoas espremidas, mulheres sendo “encoxadas”, e toda sorte de barbárie que vivemos para se chegar ao trabalho.

Parte da culpa por um sistema falido e ineficiente como o do Rio de Janeiro é também nossa. Fomos durante décadas negligentes e cúmplices de políticas públicas, e políticos, que fugiram da raia quanto a assuntos importantes, que dificilmente dão votos, afinal uma obra desse tipo leva mais que um ciclo eleitoral para ser concretizada. Nossa visão em curto prazo, de prazer imediato, se refletiu em práticas paliativas que não resolveram o problema.

Avanços econômicos positivos advindos da estabilidade econômica das últimas duas décadas, como maior acesso à automóveis, acabaram se tornando “problemas” para as nossas cidades, pois não são eficientes o suficiente para serem democráticas.

O problema do transporte também explica outras mazelas das nossas cidades, em especial do Rio de Janeiro. O tempo de viagem influencia no preço das residências, fazendo com que todos fiquemos apinhados em torno do centro, promovendo a favelização e impedindo a expansão para áreas menos densas. Afinal encarar mais de 4 horas por dia só de transporte, sem contar no preço, não é fácil.


Se todos fossemos Lucélia Santos estaríamos lutando por um transporte público melhor e não haveria Black Bloc que nos impedisse. Pior é negar a realidade de que nesta cidade existe um transporte público pior que o de animais e entrar em seus automóveis achando que estão lhes assegurando um bem estar que não existe.

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