sábado, 8 de fevereiro de 2014

O paradoxo do estar plugado

O MINISTÉRIO DO DESPLUGAMENTO ADVERTE: O TEXTO ABAIXO PODE CAUSAR REFLEXÃO, ENJOO, INDIGESTÃO, MAS É NECESSÁRIO.

A busca do estar plugado, que é estar fechado em si mesmo, não é uma busca de entendimento interior, ao contrário este é evitado tenazmente de modo que não surjam emoções; é orientar-se pelo mínimo de contato com o mundo exterior. Auxiliado por várias causas emocionais, culturais e tecnológicas, esse fenômeno novo atinge de modo significante a capacidade de se aprofundar e perceber o mundo externo e interno com mais frequência.

Um dos reflexos são os relacionamentos de hoje que são tão superficiais e descartáveis, não há envolvimento pessoal, estes não sobrevivem ao primeiro atrito, e logo são substituídos, isso quando não já existe uma relação paralela servindo de salva guarda.

Existe uma busca por uma felicidade idealizada, onde não há frustrações, tristezas, dias ruins, desencontros e dificuldades. Há uma hipersensibilidade a qualquer coisa que impeça que seus desejos sejam realizados. Parece que fomos criados sob a ilusão do “felizes para sempre”, mas a realidade é muito diferente do que é mostrado no entretenimento. A felicidade não é um estado continuo, e sim uma alternância muito saudável, por sinal, entre estados mais alegres e tristes. Alias, atualmente não existe mais tristeza, só depressão, e para isso tomam-se remédios para que seja erradicada rapidamente (o que não acontece).

As consequências são muito sérias: as pessoas são imaturas, despreparadas para a vida acadêmica e profissional, onde a atenção é necessária. Estudar e trabalhar passam a ser um fardo terrível de modo que vivemos sempre na expectativa do lazer e dos feriados. Não se vive o momento, mas a espera do que está por vir.

Cito também como exemplo a vida comunitária, no bairro, na cidade e no país, pois não se luta para melhorar as condições ambientais ou sociais, como se esses indivíduos não fizessem parte do esquema, vivendo num isolacionismo doentio. A medida que a unidade chega a seu menor ponto, o individuo, este supõe que não precisa mais do suporte do grupo, e luta apenas pelos seus próprios interesses e direitos. O risco deste comportamento é a alienação ao outro, e a relativização do que é certo e errado, sempre favorecendo a si mesmo.

Há muitas possíveis causas para esse fenômeno:

o esvaziamento da vida familiar, que pode explicar grande parte da ausência do sentimento de comunidade e da solidão, mesmo em meio a multidão;

a rotina de trabalho exaustiva que separa os pais de seus filhos e gera um sentimento de culpa atenuado por bens materiais que por sua vez desencadeia uma sociedade baseada no consumo como forma de criação de identidade;

a aversão a dor, como se esta fosse algo não-natural, mas que na verdade tem grande importância no desenvolvimento dos indivíduos;

uma cobrança por estar informado, todos somos obrigados a ser obsessivamente informados sobre o que ocorre, apenas de modo superficial, é claro;

e muitas outras.



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