sexta-feira, 16 de março de 2018

Entre a caneta e a bala

Dia desses um cientista político, Nelson Paes Leme, declarou que a Cidade Maravilhosa não possui tanta violência, ela é exagerada pela mídia, o que temos são gangsters na política. Não concordo, há muitas maneiras de submissão à violência e à insegurança. Não vou me referir aos mais dolorosos crimes que são os assassinatos e assaltos cotidianos, 60 mil assassinatos em um ano. Vamos falar de vários tipos de violência:

Acredito que estamos sitiados pelos dois crimes organizados, o do narcotráfico e os criminosos que usam a caneta. O que fazem da cidade e do país esses maravilhosos cavalheiros? Creio que eles nos devoram!

Os gangsters do asfalto permitiram durante décadas que 763 comunidades circundassem a Cidade Maravilhosa.  Para o tráfico, favela é um logradouro maravilhoso, inexpugnável, pois uma atuação ostensiva colocaria os moradores honestos em risco.

Não se tem notícia de políticas habitacionais que atendessem a necessidade dos moradores, condenados a viverem de modo inóspito, com ausência de saneamento básico e de políticas sociais. Hoje temos quase dois milhões de pessoas acotoveladas de maneira subnormal e às expensas do tráfico. Para mim, isso se chama violência.

A super dimensão das favelas denuncia um crime ambiental sem precedentes, um crime contra os direitos humanos, uma injustiça social tremenda. Cai no colo das forças armadas o resultado da inépcia, dos bilhões gastos de forma inútil, do vácuo entre poder público e população. 

Outra escabrosa violência é a situação de empresas prestadoras de serviço. Devido à guerra entre as facções, os Correios, a Net, a Light etc. não se aproximam das favelas. A maneira de aliviar essa situação é compensar os custos no asfalto, ou seja, precisamos contribuir para que as empresas continuem lucrando. As contas que nos chegam são exorbitantes, mas a inflação é tão baixinha, uma gracinha. Pagamos pelo o que não usamos, abuso inacreditável.

Os mafiosos do poder não param por aí, eles precisam de apoio para se reelegerem e então são distribuídas isenções fiscais a milhares de empresários. A desculpa é que os beneficiados geram emprego, como se só grandes empresários fossem capazes. Os bancos também são privilegiados, os lucros são exorbitantes, mas devem fortunas ao INSS.

Não há problema, sempre sai da cartola dos mágicos e psicopatas do governo a draconiana Reforma da Previdência. Tão fácil retirar dos desvalidos mais algum. Essa turma do poder não tem vergonha, jogam o jogo fácil, mentiroso, exercendo o domínio da violência contra o povo.

A maior violência contra a população do Rio de janeiro, também contra o Brasil, será a impunidade que está por vir. Essa miríade de políticos e governantes que desonraram os votos recebidos nas eleições está para ser liberta. Violência explícita contra os valorosos e corajosos juízes da primeira instância e contra os desembargadores do TRF-4, cujos minuciosos trabalhos deverão ser descartados. O STF anseia pelo trânsito em julgado, isto é, os bandidos da caneta ficarão livres, anos e anos, até o crime ser prescrito.

Para não se prender o ex-presidente Lula, serão soltos todos os políticos, empresários, verdadeiros malfeitores que jogaram a população no caos, na desordem econômica, moral e social.

Um país poderoso, uma Cidade Maravilhosa, cujos moradores vivem seus dias diante da expectativa do que poderá acontecer no Supremo Tribunal que a cada seis meses muda de ideia. Um país que possui uma insegurança jurídica dessa ordem é a imagem da violência.

O homicídio é a mais evidente forma de violência, mas os cariocas e os brasileiros estão sujeitos aos ataques dos dois tipos de bandidos.

PS: É com grande pesar que que recebemos a notícia do brutal homicídio que envolveu a vereadora Marielle e Anderson Pedro Gomes que estava trabalhando, provisoriamente, como motorista. Ele deixou uma criança pequena.

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