sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

O Leblon Que Não Sai Na Mídia

A maioria das pessoas que compartilha nesta página coloca suas observações de modo afável e elegante, mas por vezes, por morar no Leblon, sou ridicularizada ou debochada por leitores que imaginam a minha vida em uma bolha de riqueza, enquanto o resto da cidade mergulha no inferno.

Resolvi contar algumas histórias de pessoas da minha proximidade. A começar pela minha redondeza, onde muitos moradores precisaram vender seus imóveis, devido ao alto custo do condomínio e do IPTU. Geralmente são pessoas idosas, não mais produtivas, e que viviam dessa “beleza” que se chama aposentadoria.

Muitos escolheram a Barra onde ficam isolados, sem automóvel e já mais velhos, a autonomia para sair chega ao fim. A essa tristeza deram o nome de gentrificação.

Igualmente difícil se tornou a vida para alguns moradores, profissionais liberais na faixa dos cinquenta anos, porque nessa miséria que colocaram o Rio, vender a própria moradia é uma aventura. As contas vão chegando, a cada dia mais caras e para pagá-las, juntamente com as escolas dos filhos, a opção pela sobrevivência é vender o carro, se deligar do plano de saúde, se tornar vegetariano etc.

Vários deles são ex-alunos de bons colégios, formados e até pós-graduados, e no momento em grave situação financeira.

Na era anterior à Manoel Carlos, que trouxe seus artistas que em nada contribuíram para o bairro, o Leblon era elegante pela simplicidade, majestoso por seus prédios pequenos e suas lindas árvores cheias de passarinhos, organizado com o estacionamento do lado esquerdo da rua, alegre e com a vizinhança educada.

Havia pouquíssimos restaurantes, mas muito bons, a doceria Petit Fours que acabou de fechar as portas, juntou-se a longa lista que inclui o Caneco 70, o Cinema do Leblon, Letras & Expressões e tantos outros.

Hoje, os passarinhos foram substituídos pela assustadora desordem auditiva dos bares como o Belmonte e as lindas ruas, principalmente as mais residenciais, serviram de escoadouro para o entulho de carros, micro-ônibus, vans, fretes e até caminhões que se alojam nas ruas.

A visão dos porteiros é obstaculizada. Sem nenhuma punição, os desordeiros cometem um crime ambiental, porque nos tiram o direito de ir e vir. Até as esquinas são tomadas e o panorama visual, outrora belo, se tornou sufocante.

Esse é o cenário do bairro atualmente, embora não tão agradável ainda é valorizado, muitos moradores antigos permanecem e tentam reverter alguns inconvenientes, há ótimas pessoas de todas as classes sociais, muito além dos estereótipos que povoam o imaginário dos cariocas.

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