sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Das Cinzas ao Segundo Turno

Quem viu na Band o debate entre os candidatos presenciou a solidão de Aécio Neves e o abandono a que foi submetido pelos políticos. Com a rápida subida de Marina que chegou a trinta e cinco por cento nas intenções de voto, colocando Aécio em terceiro com quatorze por cento, seus parceiros não hesitaram e alçaram voo em busca do ninho de Marina. Enquanto Dilma e Marina estavam cercadas de pessoas que as acompanhavam na plateia, durante o debate, não havia ninguém do PSDB, prestigiando Aécio. Seu candidato à vice deixou o recinto antes mesmo de se iniciar o debate. Fiquei chocadíssima com esse fato.

No dia seguinte, lá estavam seus correligionários, incluindo o ex-presidente Fernando Henrique, como a oferecer apoio do PSDB à Marina. Fui eleitora do nosso intelectual Presidente que teve uma equipe econômica excelente. Impossível esquecer a inflação avassaladora que corroía nossos salários, a posterior conquista da estabilização da nossa moeda, assim como a contribuição de seus vários Ministros competentes e corretos. Entretanto, no meu modo de entender, o ex-presidente não mantinha e nem mantem um bom diálogo com o povo. Encastela-se na sua intelectualidade e profere alguns comentários pouco sensíveis e que ferem as pessoas. Mais de uma vez trouxe embaraços à candidatura de Aécio. Parece que o ex-presidente Fernando Henrique se esqueceu do que dizia Garcia Marques: só se tem o direito de olhar um homem de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se. O que se viu foi um empurrão para desacreditarmos na candidatura de Aécio.

Desejo abordar as enormes dificuldades que Aécio, como candidato, passou ao se perceber completamente só, em um incrível estado de abandono, presenciando a retirada dos companheiros que pleiteavam a sua candidatura à Presidência da República. Era um revés e tanto, capaz de deprimir, de enfraquecer qualquer um. Ressurgir das cinzas é bem difícil, mas ele virou uma fênix. 

Sozinho retoma sua batalha, confiante em sua carreira política de governador de Minas Gerais, onde obteve boa avaliação e como senador também aprovado. Empenhou-se em sua campanha e o seu telefone que já não recebia chamadas teve o seu destino mudado. Passou a funcionar, prestando “relevantes serviços”, atraindo novamente a classe política, mostrando-se vivo e disposto a lutar, levando alento e confiança à sua equipe assim como a necessidade de prosseguir em campanha.

Obviamente Aécio deveria estar muito humilhado com a atitude de seus correligionários que, além de não incentivá-lo, considerando-o perdedor bandearam-se para o lado de Marina oferecendo o talento dos técnicos do PSDB. Justiça seja feita à Armínio Fraga que não compactuou com esse movimento. Não tiveram nem tempo de pensar o que estava acontecendo e o que poderiam fazer para reverter aquele quadro desolador. Não compreenderam que perdedores eram eles que consideraram a batalha perdida antes da hora.  Como crianças acreditaram no fenômeno Marina, pode-se até pensar que o objetivo seria retirar o PT do poder, mas é claro que também procuravam um ninho para pousar.

Na campanha de Aécio parece que era proibido se referir a qualquer deficiência de Marina, pois ela precisaria ser poupada para se eleger. Ela, Marina poderia criticar Aécio, mas ele não, uma proposta maluca para quem está competindo. Foi nesse momento que ele decide se tornar um competidor e mencionar o comportamento de Marina, principalmente nas idas e vindas do seu programa. De candidato acuado, passou a apresentar uma desenvoltura compatível com a sua vontade de vencer, sem as amarras que pudessem prejudicar Marina.

A sua subida nas pesquisas foi lenta, mas cada pontinho lhe dava força, até que, sem nenhuma cola saiu-se muito bem no debate da Rede Globo, evidenciando o conhecimento que tem do país que deseja governar e muito preocupado com os rumos da economia. Conseguindo quase   empatar com Marina, Aécio percebeu a plateia do último debate preenchida, inclusive por Fernando Henrique. A essa altura, diante do seu ótimo desempenho, a revoada de pássaros  retornou.

Aécio demonstrou várias características psicológicas que são importantes para o cargo de Presidente da República: um grande espírito de luta, resiliência, confiança e esperança para prosseguir mesmo a frente do mais sombrio desfecho, pois se acreditava que Marina iria lhe tirar votos até dos mais leais seguidores em função do voto útil. Aécio conseguiu administrar as injunções psicológicas oriundas das humilhações e do desprezo que lhe impuseram. A confiança em se sentir o candidato mais bem preparado para ocupar a presidência foi um fator individual importantíssimo que permitiu a retomada de sua campanha. Apesar de toda essa trajetória sofrida, agiu com elegância nos debates, evitando agressões contundentes e tem se portado com a dignidade que o mais alto cargo do país merece.


Agora é continuar na tentativa de livrar o Brasil de um pesadelo.   

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