sexta-feira, 11 de julho de 2014

A Queda dos Onze “Atlas”

O país vivia uma convulsão social, as perdas econômicas, o superfaturamento e atrasos das obras, operários mortos em serviço e viadutos despencando. O desconforto com as exigências da FIFA e com nossos cartolas configuravam um quadro desalentador. O mau humor imperava no Brasil, indicando um aspecto psicológico eivado de perdas, uma espécie de luto.

A cidade como sempre não foi preparada, no que se refere à infraestrutura, nem para receber a população da própria cidade no âmbito dos transportes, quanto mais para acolher um contingente de turistas. A solução é sempre a mesma, por sinal no meu modo de entender chocante, paramos por praticamente trinta dias e o nosso povo entregou-se de corpo e alma às festas numa euforia indizível. Esse superficial desprendimento pode ter encantado os nossos visitantes que não conhecem a fundo a nossa real situação.

Praticamente tudo foi permitido: nossas praias viraram dormitórios e banheiros, mesmo assim o clima era feérico.

O Time: considero uma grande dificuldade não termos jogadores que disputem o campeonato nacional, devida às transações comerciais que acontecem cada vez mais cedo na vida destes atletas. A ida tão prematura destes jogadores para o exterior pode ser benéfica a nível individual, porém o prejuízo é grande quando consideramos o rebaixamento do nível técnico do nosso campeonato. O desenvolvimento dos outros jogadores é prejudicado quando nossos melhores atletas partem para outros países.

Psicologicamente inseguros, pelo excessivo peso que o Brasil dá ao futebol, nossos atletas tiveram um desempenho inferior ao que costumam apresentar em seus times. O medo de perder era tão grande que em face ao primeiro gol o time desmoronava, sendo que contra a Alemanha houve uma desagregação total a ponto de deixarmos o campo aberto por cinco minutos. Colocamos nos pés de onze jovens a salvação do Brasil o que ficou evidente no discurso de David Luiz: “Eu só queria dar alegria para o meu povo que sofre tanto”. Além de ganhar o jogo, eles precisavam carregar pátria nos ombros, um peso excessivo para se levar para dentro de um campo.

No intuito de promover uma adesão maior, o técnico talvez tenha infantilizado o time com a tal “família Scolari”. O Felipão tentou reproduzir o time de 2002 em 2014, mas acabamos por repetir 1998. Mais uma vez nossas maiores estrelas, Ronaldo e agora Neymar, sofreram problemas e a seleção viveu um apagão total graças a enorme dependência a estes jogadores estelares.

O resultado de tudo isso foi catastrófico para os brasileiros, a humilhação e a vergonha na nossa própria casa diante da goleada tomou conta dos nossos corações e mentes. Da esperança da redenção do Brasil dos seus problemas cotidianos e diante da euforia que vivemos nesses dias, nos espatifamos no chão da nossa realidade. Sofrer uma derrota é sempre muito difícil, porém ela se tornou titânica porque somente a vitória colocaria o Brasil no patamar de orgulho necessitado pelos brasileiros.

Parece que tornamos a vivenciar o complexo de vira-lata: ou somos os melhores em tudo ou os piores. Não é nem preciso mencionar que essa visão é míope e mistura nossos feitos esportivos com a realidade social política brasileira. Houve um exagero do excelente jornalista Nelson Motta, comparar o 7x1 ao 11/9 é no mínimo insensível, mesmo que seja num nível metafórico. Afinal perdemos um jogo, mas nossas vidas estão ai e precisamos mais do que nunca lutar por elas. “Vambora”!

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