Nosso cineasta Cacá Diegues, em seu artigo no jornal O Globo
de 24/05/2015, questiona o fato do brasileiro não gostar de ser feliz ou não se
achar no direito de ser feliz. Assim sendo, as pessoas buscariam a punição,
mesmo antes de serem felizes, antecedendo ao castigo. Felicidade e punição seriam
indissociáveis. Tenta sustentar esse argumento fazendo referência a Freud.
Menciona, também, que não existe o ser feliz ou infeliz, mas
que vivemos momentos de felicidade e outros de infelicidade.
Acho que esses dois assuntos merecem um tratado, mas vou
abordar alguns pontos. O brasileiro sempre foi considerado um povo alegre e
feliz. Turistas, mídia fazem constantes referências a esse estado de espírito
da população. Nossas praias, o carnaval, o futebol e o rock despertam muita
alegria na população e funcionam como elementos compensatórios a tudo que
sempre lhes faltou, isto é, uma vida digna com suas necessidades mais prementes
atendidas. No meu modo de entender até se exagera na dose dos mecanismos de defesa.
Estamos longe de ser uma população melancólica, no momento estamos
enlutados, pois mais uma vez vivenciamos perdas imensas. Não lamentamos só as
perdas econômicas, mas muitas outras fundamentais para que possamos nos sentir
razoavelmente seguros.
Perdemos a crença nos líderes públicos, as nossas
instituições apresentam rachaduras nos seus pilares, as benesses distribuídas
para determinadas categorias continuam nos atacando, afrontando a nossa
inteligência e trazendo no rastro a marca da indiferença e indignidade. O que
se faz com o dinheiro do contribuinte não tem nome. Estamos agarrados em uma boia
que se denomina Sérgio Moro, mas o Oceano de Insensatez e tramoias nos ameaça. Podemos
escorregar às profundezas do abismo tornando nossas esperanças quase
inalcançáveis.
No luto há uma desorganização mental muito grande, medos
profundos que foram adormecidos despertam de modo intenso, há desconfiança,
incerteza, desamparo, extrema ansiedade, desinteresse e outros componentes
emocionais que perturbam a vida cotidiana.
Infelizmente Cacá, neste momento, não há como passar
chispando das coisas ruins como você diz. Devemos sim cuidar para não mergulhar
nas profundezas de um luto patológico, desses que não tem fim, mas por bom
tempo temos de conviver com a infelicidade. Afinal é enlouquecedora a perda de
emprego de um pai ou mãe de família, as crianças sem a mísera educação a que
tinham direito e sem a saúde. Epidemias estão aí florescendo dengue,
tuberculose, malária e a mais nova delas a das facadas.
Para terminar gostaria de lembrar que uma felicidade
razoável é possível sentir, embora entrecortada por momentos difíceis, mas para
que isso ocorra é necessário que as nossas estruturas e instituições políticas
estejam voltadas para a vida do nosso povo, e não para disputas pessoais,
infantis e ridículas. O País Precisa Ser Sério, Com Líderes Públicos
Humanizados que se preocupem com a população, que recuperem a nossa confiança e
a segurança, dois ingredientes importantíssimos na construção da felicidade.
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