sexta-feira, 29 de maio de 2015

Contrariando Cacá Diegues

Nosso cineasta Cacá Diegues, em seu artigo no jornal O Globo de 24/05/2015, questiona o fato do brasileiro não gostar de ser feliz ou não se achar no direito de ser feliz. Assim sendo, as pessoas buscariam a punição, mesmo antes de serem felizes, antecedendo ao castigo. Felicidade e punição seriam indissociáveis. Tenta sustentar esse argumento fazendo referência a Freud.

Menciona, também, que não existe o ser feliz ou infeliz, mas que vivemos momentos de felicidade e outros de infelicidade.

Acho que esses dois assuntos merecem um tratado, mas vou abordar alguns pontos. O brasileiro sempre foi considerado um povo alegre e feliz. Turistas, mídia fazem constantes referências a esse estado de espírito da população. Nossas praias, o carnaval, o futebol e o rock despertam muita alegria na população e funcionam como elementos compensatórios a tudo que sempre lhes faltou, isto é, uma vida digna com suas necessidades mais prementes atendidas. No meu modo de entender até se exagera na dose dos mecanismos de defesa.

Estamos longe de ser uma população melancólica, no momento estamos enlutados, pois mais uma vez vivenciamos perdas imensas. Não lamentamos só as perdas econômicas, mas muitas outras fundamentais para que possamos nos sentir razoavelmente seguros.

Perdemos a crença nos líderes públicos, as nossas instituições apresentam rachaduras nos seus pilares, as benesses distribuídas para determinadas categorias continuam nos atacando, afrontando a nossa inteligência e trazendo no rastro a marca da indiferença e indignidade. O que se faz com o dinheiro do contribuinte não tem nome. Estamos agarrados em uma boia que se denomina Sérgio Moro, mas o Oceano de Insensatez e tramoias nos ameaça. Podemos escorregar às profundezas do abismo tornando nossas esperanças quase inalcançáveis.

No luto há uma desorganização mental muito grande, medos profundos que foram adormecidos despertam de modo intenso, há desconfiança, incerteza, desamparo, extrema ansiedade, desinteresse e outros componentes emocionais que perturbam a vida cotidiana.

Infelizmente Cacá, neste momento, não há como passar chispando das coisas ruins como você diz. Devemos sim cuidar para não mergulhar nas profundezas de um luto patológico, desses que não tem fim, mas por bom tempo temos de conviver com a infelicidade. Afinal é enlouquecedora a perda de emprego de um pai ou mãe de família, as crianças sem a mísera educação a que tinham direito e sem a saúde. Epidemias estão aí florescendo dengue, tuberculose, malária e a mais nova delas a das facadas.

Para terminar gostaria de lembrar que uma felicidade razoável é possível sentir, embora entrecortada por momentos difíceis, mas para que isso ocorra é necessário que as nossas estruturas e instituições políticas estejam voltadas para a vida do nosso povo, e não para disputas pessoais, infantis e ridículas. O País Precisa Ser Sério, Com Líderes Públicos Humanizados que se preocupem com a população, que recuperem a nossa confiança e a segurança, dois ingredientes importantíssimos na construção da felicidade.

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