sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O Trauma dos Indecisos

Pesquisas de opinião nos trazem informações muito preocupantes. Significativa parcela da população está inteiramente descrente de qualquer candidato, preferindo não votar. As mesmas pessoas, que em 2013 saíram às ruas proclamando aos sete ventos a grande insatisfação com a política atual, parecem estar alheias e não confiam na possibilidade de sairmos da tenebrosa situação em que nos encontramos.

Há décadas convivemos com as mesmas caras dos políticos com suas manobras maquiavélicas, sempre usando o poder em benefício próprio, corrompendo até o “é dando que se recebe” de São Francisco de Assis, trabalhando três dias na semana quer na Câmara de Deputados quer na dos Vereadores. Dão um show de desconhecimento e de distância do povo que os elegeu e quando alguma mudança desponta nesse cenário, certamente será feita na base das capitanias hereditárias.

No meio desse joio encontramos algum trigo e, então, surgiram duas lideranças jovens se propondo a mudanças e se candidatando à Presidência da República: Aécio Neves e Eduardo Campos. Traziam alguma experiência em administração, pois ambos já foram governadores e também não estão cegos em relação às carências existentes da população no quesito infraestrutura. Não me pareciam dois maus candidatos.

Lamentavelmente perdemos Eduardo Campos, o que foi uma pena, pois há muito não surgiam no horizonte pessoas com propostas mais arejadas, sem o ranço da velha política. Certamente, caso não conseguisse se eleger como Presidente em outubro deste ano, ao que tudo indicava sua carreira pública ainda seria muito exitosa.

A causa desse torpor nacional parece estar ligada à descrença na classe política. Verdadeiro trauma tomou conta dos brasileiros e, como em qualquer situação traumática, surge a dificuldade em erradicá-la. Parece que fomos submetidos a um abuso e, diante da possibilidade de novos agressores, a fuga é o mecanismo mais indicado, conheço pessoas que nem abrem os jornais.

Creio que a solução encontrada por essa população, que deseja abster-se de votar, seria não se envolver com a política em nosso país. Em uma tentativa desesperada de evitar a dor, qualquer candidato será olhado com desconfiança e até indignação.

O nojo que a população criou da política nos afasta de qualquer debate ou iniciativa de envolvimento com os problemas da nação. A palavra político se tornou sinônimo de ladrão, o que se configura como um grande desrespeito àqueles que ocupam cargos eletivos e são honestos, afastando pessoas de bem da vida pública, abrindo caminhos para outros inescrupulosos, em um inestimável prejuízo à nação.

Falta informação quanto ao voto em branco ou nulo, muitos acreditam que se mais de 50% votarem deste modo, as eleições seriam anuladas.  Infelizmente não é este o caso, todos os votos brancos ou inválidos são removidos do coeficiente eleitoral, o que na prática diminui a necessidade de votos válidos para o primeiro colocado das eleições ser eleito.

Apesar de tudo, de ano após ano persistindo a maneira velha e escandalosa de nossos governantes exercerem o poder, penso que a fuga das urnas nos fragiliza e nos torna incapazes de reconduzir os pensamentos na direção construtiva de novos caminhos, novos ares, não só no crescimento econômico, mas também no social e ambiental. 

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