sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Marina e o Poder

A repentina e dolorosa morte de Eduardo Campos e o seu concorrido e divulgadíssimo enterro levou à Recife uma classe política heterogênea, deixando de lado as suas divergências, para se despedir de um jovem homem público que muito poderia contribuir para um Brasil melhor. É uma pena que Eduardo Campos só tenha sido descoberto, pela maioria dos brasileiros, após seu falecimento, até então a população sequer sabia da existência desse valioso candidato.

Impossível não sermos tocados por uma emoção deveras contagiante, uma grande sensação de perda e de perplexidade nos invadiu, colocando-nos mais ainda na rota de muitas incertezas.


A pesquisa do Datafolha realizada neste contexto de comoção geral, após a despedida de Eduardo Campos cujo enterro fora tão politizado, certamente trouxe os reflexos e um aumento de votos para o PSB e para Marina, uma consequência da forma emotiva com que o brasileiro vota.

A candidata Marina teve ótima votação nas eleições passadas, representando o seu antigo Partido Verde. Aparecia como uma pessoa honesta e uma alternativa para a política tradicional, preocupada com a sustentabilidade e o meio ambiente, fatores considerados relevantes mundialmente.

Entretanto um candidato que pretende trilhar a terceira via precisa bem mais do que isso. O Brasil possui dimensões gigantescas e, infelizmente, encontra-se em um atraso de dar dó. Além dos lastimáveis retrocessos nas tão conhecidas áreas de educação, saúde, transporte, habitação, podemos agregar o infortúnio de uma vasta população vivendo sob perigosa ameaça devida à ausência de saneamento básico.

Tudo isso se passa em um país que é a sétima economia do mundo, fato que muito me envergonha. Há falta de portos, ferrovias e rodovias. Perdemos em competitividade e em crescimento econômico, pois nossas mercadorias não conseguem ser escoadas. O agronegócio tão necessário quanto à preservação do meio ambiente demandam um trabalho político exímio de entendimento, de conciliação.

O que quero acrescentar é que, diante do tamanho de nossos problemas me parece muito difícil aceitar uma candidata que é individualista e centralizadora. Ela deixou seu Partido Verde após o malogro da oficialização da Rede de Sustentabilidade dirigindo-se ao PSB sem nenhuma comunicação aos seus correligionários. Mesmo que essa comunicação esteja sendo refeita através da intermediação do PSB, as sequelas de uma atitude que não contou com a anuência de seus correligionários não se extinguem com tanta facilidade. Falta, também, à candidata experiência administrativa que tanto Aécio apresenta quanto Campos demonstrou.

Marina Silva se diz cristã praticante, ela é evangélica, mas parece desconhecer passagens da Bíblia, onde o Mestre procurava conversar, livremente, com os seus seguidores e também com pecadores. A candidata se fecha como uma concha quando se depara com os que não comungam das suas ideias ou com os quais não simpatiza. O isolacionismo desvirtua a possibilidade de congraçamentos, alianças e impede uma desenvoltura política necessária a quem pleiteia o mais alto cargo do país.

Sua postura de não se macular com a presença de alguns políticos pode ser aplaudida por um eleitorado jovem, mostrando a sua obstinada coerência com o que acredita isto é, não ceder em nada. Considero extremamente preocupante e arriscada qualquer conduta baseada em radicalismo, como a que a candidata vem apresentando.

Eu penso que ela deveria aproveitar esse tempo que antecede as eleições para o exercício do diálogo, de certa tolerância, buscar incessantemente o seu crescimento e sair da cristalização que marca o seu perfil. Seu partido era o Verde, mas ela não pode estar verde para ocupar a Presidência da República.

Há divergências no próprio PSB que, a todo o momento, vem sendo dadas como resolvidas, mas não sabemos ao certo o que se passa. Ontem mesmo, dia 21 de agosto, o Secretário Geral do PSB e Coordenador da campanha, Claudio Siqueira, figura importante do partido, pediu demissão, incompatibilizando-se com a postura autoritária de Marina, diante de toda a cúpula de um partido que a acolheu. Também pediu exoneração o Coordenador de mobilização e articulação Milton Coelho. Resolver de forma satisfatória essas crises internas seria uma grande demonstração de capacidade política de Marina.

O Presidente da República necessita de dialogar com o congresso para poder governar. O Brasil é ingovernável sem o apoio do Congresso Nacional, onde mora grande parte dos problemas e da podridão da política. Estará Marina Silva preparada para enfrentar tudo aquilo que, nos últimos anos, encontramos manchando o nosso Congresso? Além de governar, o presidente precisa ser uma figura articuladora, capaz de conciliar diferentes interesses. Seu encapsulamento e sua postura de comando é tão entranhada em sua personalidade que automaticamente se evidencia. Ela não chega a perceber a existência de seus interlocutores, vai atuando e quando se dá conta fica difícil voltar atrás.

Caso a candidata não perceba a tempo a necessidade de ouvir, discutir, opinar, pensar, e muitas vezes ceder, sua mensagem enviada ao país não será a concebida por Eduardo Campos “Não vamos desistir do Brasil”, e sim “Não vamos desistir de mandar no Brasil”, substituindo a bela frase.

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