A repentina e dolorosa morte de Eduardo Campos e o seu
concorrido e divulgadíssimo enterro levou à Recife uma classe política
heterogênea, deixando de lado as suas divergências, para se despedir de um
jovem homem público que muito poderia contribuir para um Brasil melhor. É uma
pena que Eduardo Campos só tenha sido descoberto, pela maioria dos brasileiros,
após seu falecimento, até então a população sequer sabia da existência desse
valioso candidato.
Impossível não sermos tocados por uma emoção deveras
contagiante, uma grande sensação de perda e de perplexidade nos invadiu, colocando-nos
mais ainda na rota de muitas incertezas.
A pesquisa do Datafolha realizada neste contexto de comoção
geral, após a despedida de Eduardo Campos cujo enterro fora tão politizado, certamente
trouxe os reflexos e um aumento de votos para o PSB e para Marina, uma consequência
da forma emotiva com que o brasileiro vota.
A candidata Marina teve ótima votação nas eleições passadas,
representando o seu antigo Partido Verde. Aparecia como uma pessoa honesta e uma
alternativa para a política tradicional, preocupada com a sustentabilidade e o
meio ambiente, fatores considerados relevantes mundialmente.
Entretanto um candidato que pretende trilhar a terceira via
precisa bem mais do que isso. O Brasil possui dimensões gigantescas e,
infelizmente, encontra-se em um atraso de dar dó. Além dos lastimáveis
retrocessos nas tão conhecidas áreas de educação, saúde, transporte, habitação,
podemos agregar o infortúnio de uma vasta população vivendo sob perigosa ameaça
devida à ausência de saneamento básico.
Tudo isso se passa em um país que é a sétima economia do
mundo, fato que muito me envergonha. Há falta de portos, ferrovias e rodovias.
Perdemos em competitividade e em crescimento econômico, pois nossas mercadorias
não conseguem ser escoadas. O agronegócio tão necessário quanto à preservação
do meio ambiente demandam um trabalho político exímio de entendimento, de conciliação.
O que quero acrescentar é que, diante do tamanho de nossos
problemas me parece muito difícil aceitar uma candidata que é individualista e
centralizadora. Ela deixou seu Partido Verde após o malogro da oficialização da
Rede de Sustentabilidade dirigindo-se ao PSB sem nenhuma comunicação aos seus
correligionários. Mesmo que essa comunicação esteja sendo refeita através da
intermediação do PSB, as sequelas de uma atitude que não contou com a anuência
de seus correligionários não se extinguem com tanta facilidade. Falta, também,
à candidata experiência administrativa que tanto Aécio apresenta quanto Campos demonstrou.
Marina Silva se diz cristã praticante, ela é evangélica, mas
parece desconhecer passagens da Bíblia, onde o Mestre procurava conversar,
livremente, com os seus seguidores e também com pecadores. A candidata se fecha
como uma concha quando se depara com os que não comungam das suas
ideias ou com os quais não simpatiza. O isolacionismo desvirtua a possibilidade
de congraçamentos, alianças e impede uma desenvoltura política necessária a
quem pleiteia o mais alto cargo do país.
Sua postura de não se macular com a presença de alguns
políticos pode ser aplaudida por um eleitorado jovem, mostrando a sua obstinada
coerência com o que acredita isto é, não ceder em nada. Considero extremamente
preocupante e arriscada qualquer conduta baseada em radicalismo, como a que a
candidata vem apresentando.
Eu penso que ela deveria aproveitar esse tempo que antecede
as eleições para o exercício do diálogo, de certa tolerância, buscar
incessantemente o seu crescimento e sair da cristalização que marca o seu
perfil. Seu partido era o Verde, mas ela não pode estar verde para ocupar a
Presidência da República.
Há divergências no próprio PSB que, a todo o momento, vem
sendo dadas como resolvidas, mas não sabemos ao certo o que se passa. Ontem
mesmo, dia 21 de agosto, o Secretário Geral do PSB e Coordenador da campanha,
Claudio Siqueira, figura importante do partido, pediu demissão,
incompatibilizando-se com a postura autoritária de Marina, diante de toda a
cúpula de um partido que a acolheu. Também pediu exoneração o Coordenador de
mobilização e articulação Milton Coelho. Resolver de forma satisfatória essas
crises internas seria uma grande demonstração de capacidade política de Marina.
O Presidente da República necessita de dialogar com o
congresso para poder governar. O Brasil é ingovernável sem o apoio do Congresso Nacional, onde mora grande parte
dos problemas e da podridão da política. Estará Marina Silva preparada para
enfrentar tudo aquilo que, nos últimos anos, encontramos manchando o nosso
Congresso? Além de governar, o presidente precisa ser uma figura articuladora,
capaz de conciliar diferentes interesses. Seu encapsulamento e sua postura de
comando é tão entranhada em sua personalidade que automaticamente se evidencia.
Ela não chega a perceber a existência de seus interlocutores, vai atuando e
quando se dá conta fica difícil voltar atrás.
Caso a candidata não perceba a tempo a necessidade de ouvir,
discutir, opinar, pensar, e muitas vezes ceder, sua mensagem enviada ao país não
será a concebida por Eduardo Campos “Não vamos desistir do Brasil”, e sim “Não
vamos desistir de mandar no Brasil”, substituindo a bela frase.
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