sexta-feira, 8 de julho de 2016

As Lágrimas da Hidra

Por que chorou Eduardo Cunha diante dos telespectadores ao renunciar à Presidência da Câmara? Como é que aquele homem que se mostrou impassível diante das dúzias de impropérios que ouviu durante a sessão em que se procedia o impeachment da Presidente Dilma, conseguia manter a compostura e simplesmente dizia “seu voto deputado”, chorou ao renunciar à presidência do Congresso? Cunha é dotado de uma inteligência invulgar, conhecedor profundo do regimento da Câmara, exímio articulador político de seus pares corruptos, fisiológicos, ávidos por benefícios próprios e que através de mil subterfúgios prorrogavam a sua permanência na presidência da Câmara. Por um tempo, excessivamente longo, foi salvo de ser afastado pelo conselho de ética. Blindagem quase perfeita. O Presidente da Câmara se aferrava na impunidade que sempre assolou o Brasil, acreditava no poder de suas macabras manobras, e também sabia que a maioria dos políticos, com honrosas exceções, eram cobertos de atos ilícitos. Os escândalos se avolumavam, a pressão para que deixasse o cargo passou a ser constante e até o Presidente interino o aconselhou a renunciar. Em sua renúncia, lágrimas rolam pelo seu rosto, seria por sua família? Seus sentimentos recônditos estariam aflorando? Acho que não, Cunha chorou porque perdeu o que ele mais preza, o Poder. Poder que ele achava lhe dar o direito de estar acima das leis e da sociedade, poder de se sentir impune, blindado. Poder diante de um Congresso assustador, perdido nos meandros do egoísmo e da incompetência, com ele reinando com sua objetividade maquiavélica. O Poder perdido o confronta com o seu interior, a fragilidade, os limites que a vida nos impõem e a derrota da sua onipotência, e na queda expondo sua família de forma irreversível. Vamos esperar para ver o que acontece, Cunha como a Hidra de Lerna teve uma de suas cabeças cortadas, a de presidente da Câmara, mas ainda lhe restam muitas outras, a de deputado, pastor, financiador de campanha e etc.

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