sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Um Porto (não tão) Maravilha

O Prefeito Eduardo Paes pretende incentivar a construção de habitações na Zona Portuária. Foi enviado à Câmara dos Vereadores dois projetos que objetivavam oferecer incentivos fiscais aos investidores que desejassem atuar nesse local e construíssem moradias  no Porto Maravilha, assim como promoverem adaptações nas construções antigas que fazem parte da Apac Sagas (Saúde, Gamboa e Santo Cristo). A proposta seria a construção de 28000 habitações.

Para ter direito aos vários benefícios precisarão concluir os prédios do Porto Maravilha em 48 meses. Se os imóveis estiverem situados na Apac Sagas o prazo será de 24 meses.

O que me chamou a atenção é que para a Zona Portuária as unidades habitacionais poderão ser bem simples, por exemplo, não será exigido dos condomínios a existência de garagem, ou seja, algumas unidades TALVEZ tenham uma vaga. Não ter garagem, que certamente será a preferência dos investidores, é o que choca.

É do conhecimento de todos a lavagem cerebral a que nós somos submetidos através de todos os meios de comunicação para a aquisição de veículos e a consequente felicidade das montadoras, mesmo que quebremos a Petrobrás com a defasagem do preço da gasolina. O resultado é o que se vê hoje, engarrafamentos impensáveis.

Essa  escada é tombada pelo Patrimônio e fica no Leblon,
mas isso não a impediu de ser usada como garagem,
com direito a capa e tudo.
A oferta do Prefeito pode parecer a algum incauto que ele esteja na contramão dessa orgia predatória e esteja estimulando o transporte público, em vez do uso do automóvel, porem ele está contando com as ruas, as garagens serão as ruas. Todos os carros bonitinhos enfileirados no meio fio.

Por mais bela que seja uma cidade ela não resiste a estas manobras. Somos guiados por uma inconsciência ambiental que degrada, recaindo sobre as nossas políticas econômicas, sociais e ambientais.

Entendo que o Prefeito apostou muito no Porto Maravilha e não está obtendo o resultado esperado o que é bastante frustrador, mas para a cidade, no momento em que está se construindo algo novo, em pleno processo de gentrificação não é desejável que se pense só em termos de 2016, mas que seja estabelecido um planejamento a longo prazo. Nós sabemos que mesmo pessoas muito simples, de baixo poder aquisitivo, possuem o seu carrinho ou sonham em adquirir um. Qual a contribuição estética que, esses milhares de carros estacionados na rua, darão ao novo bairro que, por sinal, é apacado?

Não é justo que, nós que pagamos por tudo, que sofremos as agruras das obras, das obstruções das vias, da poeira, tenhamos como recompensa os restos mortais dos jogos Olímpicos. As transformações que desejamos são para além de 2016, como Barcelona que brilha 20 anos depois dos jogos.

A nossa cidade, como toda metrópole, está em processo de urbanização muito rápida. Considero imprescindível que nossos líderes municipais dialoguem com segmentos representativos da população tais como arquitetos, urbanistas, designers, ambientalistas e até ativistas de modo a dar conta das transformações sociais, econômicas e urbanísticas pelas quais estamos passando, com resultados favoráveis.

A estrutura física de um prédio ou da cidade não pode em hipótese alguma estar distanciada da 
população que nela reside, sob pena de graves consequências.

Essa intensa dissociação em que vivemos hoje acarreta aberrações difíceis de se conviver. Tome-se como exemplo uma rua em que exista um pequeno comércio e que dialoga de forma harmoniosa e feliz com seus moradores. De repente, a rua passa a abrigar dezenas de bares e restaurantes subjugando a população que lá reside , tratando-a como se fosse um mero objeto, tornando a situação tensa e conflituada. Não há exigências de que sejam ambientes fechados, com tratamento acústico, de forma que os moradores tenham direito ao seu repouso. Ao contrário, as exigências são de varandas, isto é mesas nas calçadas. Qual o nome que se dá a isso? Talvez perversão de um modelo urbanístico.

Parece ser norma, na cidade em que vivemos, tomarmos a parte no lugar do todo. O uso que se faz das águas de nossa linda Baía de Guanabara, despejando toda sorte de dejetos está matando os nossos golfinhos, que são o símbolo do Rio de Janeiro, estão se escasseando, mais uma vez se privilegia o lucro, a insensatez e se esquece da existência dos golfinhos, seres vivos. Talvez esperem que eles tenham a mesma resistência de aço que nós, desta cidade, precisamos adquirir para enfrentar tantas condições desfavoráveis.

Qualquer planejamento que se preze, precisa ter regras que priorizem a qualidade de vida da população local, assim como a agradabilidade, e porque não preservar a estética? Se não conjugarmos a população ao meio ambiente, nós estaremos construindo cidades desumanas, onde a mão do homem estará a serviço da destruição.

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