sexta-feira, 7 de junho de 2013

O Leblon do Faz de Conta e o Leblon Real

A palavra sofisticação, segundo o dicionário eletrônico Antônio Houaiss, tem um significado ambíguo, pode ser traduzida por elegante ou adulterado.

A Revista do O Globo de domingo, de 02.06. 2013, trouxe uma matéria sobre o Leblon. Levando-se em conta que sou antiga moradora, comecei a pensar sobre este bairro cantado em prosa e em verso. Tive o prazer de conhecer um Leblon elegante e essa elegância advinha da integração entre a sua majestosa natureza e a população que aqui residia.

Não sei precisar o número de reuniões das quais participamos, algumas debaixo de tempestades, para impedir a construção de um túnel no morro Dois Irmãos, proposta feita pelo Prefeito Conde, porém sem nenhuma proposta para o gargalo da Av. Princesa Isabel, o que provocaria na Av. Delfim Moreira um tremendo engarrafamento.  Nossos encontros, apesar de serem à noite, eram concorridíssimos. E o resultado aí está: nosso morro intacto e menos obstrução da Delfim Moreira.

A sofisticação do Leblon provinha dos objetivos ambientais da população, da convivência de pequenos prédios com outros não tão altos, da limpeza do bairro, da tranquilidade, das calçadas e esquinas livres, da pequena praia e sua areia branca, onde circulavam os vendedores de Mate, Biscoito Globo, Kibon e Picolé Dragão Chinês, portando bem diferente dos urubus à cata de lixo jogado nas areias, nos dias de hoje.

Nada é estático e muito menos a vida; mudanças são necessárias, porem não há nada mais destrutivo do que mudanças sem planejamento.

Hoje o Leblon é considerado um bairro sofisticado, mas, no meu modo de entender, no sentido de adulterado. Trata-se de um bairro badalado, frequentemente está na mídia, onde as pessoas veem e gostam de serem vistas, chamado também de Bairro dos Bacanas pelo nosso Ancelmo, e possui o metro quadrado das construções nas alturas.

Conta com um comércio gigante para o seu pequeno porte e, para completar, prédios menores cedem seu lote para centenas de claustrofóbicos micro escritórios. É também um polo gastronômico e mantém na Rua Dias Ferreira dezenas de bares e restaurantes, estruturados de qualquer maneira, sem nenhum tratamento acústico e usando e abusando de todas as irregularidades proibidas através do decreto 29.881/2008.

O CT Boucherie do Troisgros, com cadeiras empilhadas na calçada, o Campeão da Cafonice, o Belmonte, cuja reforma foi executada pelo arquiteto Hélio Pellegrino (que até hoje não conseguiu resolver o problema do armário embutido na calçada). Este que também recebeu o título de Restaurante Emérito, imbatível na 
quantidade de irregularidades, todas aprovadas pelas autoridades.

A força do comércio trouxe muitos visitantes que não tem com o bairro o amor que era comum entre nós, permitindo que um delicioso bairro residencial se descaracterizasse tão rapidamente. Caberia, agora, que o Dr. Washington Fajardo que freou o excesso de bancos e farmácias dar uma força no sentido de evitar que mais escritórios e restaurantes aparecessem sufocando–nos e degradando nossa qualidade de vida.

Com a venda de apartamentos de antigos moradores, premidos por suas aposentadorias e a construção de mais prédios, que, diga-se de passagem, são feios de doer, uma nova população povoa o bairro, inclusive trazendo celebridades.

Os novos moradores, é óbvio que não estou me referindo a todos, tem objetivos diferentes. Há uma prevalência de objetivos econômicos e sociais sobre os ambientais e ecológicos. Parece que, morar no Leblon, esteja ele como estiver, mesmo com o esgoto jorrando a toda hora, as ruas muito sujas, não é perturbador. É bacana morar no Leblon e pronto, nada a ser reivindicado.

Parece que é um espetáculo comparar o bairro com o SoHo ou Saint-Germain-des-Prés. Tão preocupados estão em igualar nosso bairro aos bairros parisienses ou americanos que se esquecem de olhar para ele com carinho, aplaudindo o que for bom e tentando melhorar o que está ruim. Também desconhecem a força da opinião pública que poderia trazer enormes benefícios para o bairro. É só olhar os índios; como a cabeça deles está aqui e não em Paris, sabem muito bem defender seus direitos.

Por fim o patrulhamento da indumentária: aqui todos devem ser informais, despojados. Se alguma incauta sair bem cuidada e de salto alto será taxada de perua da Barra que ousou frequentar as nossas paradas (absurdo esse preconceito contra o morador da Barra).

Creio que as pessoas se esqueceram de que o Leblon não é um balneário, mas sim um bairro onde se mora, se trabalha e que, se é democrático como dizem, estamos autorizados a usar a roupa que melhor nos aprouver.


Este é o Leblon de hoje, maravilhoso para alguns e para mim, uma obra de arte que necessita ser restaurada e de modo rápido, antes que seja perdida.

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