A palavra sofisticação, segundo o dicionário eletrônico
Antônio Houaiss, tem um significado ambíguo, pode ser traduzida por elegante ou
adulterado.
A Revista do O Globo de domingo, de 02.06. 2013, trouxe uma
matéria sobre o Leblon. Levando-se em conta que sou antiga moradora, comecei a
pensar sobre este bairro cantado em prosa e em verso. Tive o prazer de conhecer
um Leblon elegante e essa elegância advinha da integração entre a sua majestosa
natureza e a população que aqui residia.
Não sei precisar o número de reuniões das quais
participamos, algumas debaixo de tempestades, para impedir a construção de um
túnel no morro Dois Irmãos, proposta feita pelo Prefeito Conde, porém sem
nenhuma proposta para o gargalo da Av. Princesa Isabel, o que provocaria na Av.
Delfim Moreira um tremendo engarrafamento.
Nossos encontros, apesar de serem à noite, eram concorridíssimos. E o
resultado aí está: nosso morro intacto e menos obstrução da Delfim Moreira.
A sofisticação do Leblon provinha dos objetivos ambientais
da população, da convivência de pequenos prédios com outros não tão altos, da
limpeza do bairro, da tranquilidade, das calçadas e esquinas livres, da pequena
praia e sua areia branca, onde circulavam os vendedores de Mate, Biscoito
Globo, Kibon e Picolé Dragão Chinês, portando bem diferente dos urubus à cata
de lixo jogado nas areias, nos dias de hoje.
Nada é estático e muito menos a vida; mudanças são
necessárias, porem não há nada mais destrutivo do que mudanças sem
planejamento.
Hoje o Leblon é considerado um bairro sofisticado, mas, no
meu modo de entender, no sentido de adulterado. Trata-se de um bairro badalado,
frequentemente está na mídia, onde as pessoas veem e gostam de serem vistas, chamado
também de Bairro dos Bacanas pelo nosso Ancelmo, e possui o metro quadrado das
construções nas alturas.
Conta com um comércio gigante para o seu pequeno porte e,
para completar, prédios menores cedem seu lote para centenas de claustrofóbicos
micro escritórios. É também um polo gastronômico e mantém na Rua Dias Ferreira
dezenas de bares e restaurantes, estruturados de qualquer maneira, sem nenhum
tratamento acústico e usando e abusando de todas as irregularidades proibidas
através do decreto 29.881/2008.
O CT Boucherie do Troisgros, com cadeiras empilhadas na
calçada, o Campeão da Cafonice, o Belmonte, cuja reforma foi executada pelo
arquiteto Hélio Pellegrino (que até hoje não conseguiu resolver o problema do
armário embutido na calçada). Este que também recebeu o título de Restaurante
Emérito, imbatível na
quantidade de irregularidades, todas aprovadas pelas
autoridades.
A força do comércio trouxe muitos visitantes que não tem com
o bairro o amor que era comum entre nós, permitindo que um delicioso bairro
residencial se descaracterizasse tão rapidamente. Caberia, agora, que o Dr.
Washington Fajardo que freou o excesso de bancos e farmácias dar uma força no
sentido de evitar que mais escritórios e restaurantes aparecessem sufocando–nos
e degradando nossa qualidade de vida.
Com a venda de apartamentos de antigos moradores, premidos
por suas aposentadorias e a construção de mais prédios, que, diga-se de
passagem, são feios de doer, uma nova população povoa o bairro, inclusive
trazendo celebridades.
Os novos moradores, é óbvio que não estou me referindo a
todos, tem objetivos diferentes. Há uma prevalência de objetivos econômicos e
sociais sobre os ambientais e ecológicos. Parece que, morar no Leblon, esteja
ele como estiver, mesmo com o esgoto jorrando a toda hora, as ruas muito sujas,
não é perturbador. É bacana morar no Leblon e pronto, nada a ser reivindicado.
Parece que é um espetáculo comparar o bairro com o SoHo ou Saint-Germain-des-Prés.
Tão preocupados estão em igualar nosso bairro aos bairros parisienses ou
americanos que se esquecem de olhar para ele com carinho, aplaudindo o que for
bom e tentando melhorar o que está ruim. Também desconhecem a força da opinião
pública que poderia trazer enormes benefícios para o bairro. É só olhar os
índios; como a cabeça deles está aqui e não em Paris, sabem muito bem defender
seus direitos.
Por fim o patrulhamento da indumentária: aqui todos devem
ser informais, despojados. Se alguma incauta sair bem cuidada e de salto alto
será taxada de perua da Barra que ousou frequentar as nossas paradas (absurdo
esse preconceito contra o morador da Barra).
Creio que as pessoas se esqueceram de que o Leblon não é
um balneário, mas sim um bairro onde se mora, se trabalha e que, se é
democrático como dizem, estamos autorizados a usar a roupa que melhor nos
aprouver.
Este é o Leblon de hoje, maravilhoso para alguns e para mim,
uma obra de arte que necessita ser restaurada e de modo rápido, antes que seja
perdida.
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