Mais uma proposta superficial que evita lidar com as questões que de fato são importantes e que apenas entretêm os desavisados.
Precisamos dinamizar o comércio interno? É fácil, o
imediatismo ultrapassa qualquer visão das consequências, retira-se o IPI dos
automóveis, aumentam-se o número de prestações e está resolvido o problema.
Toda a população será devidamente motorizada e ainda damos alegria às
montadoras e ao ex-presidente Lula. Entre um gole e outro, menciona que a
classe média deve estar furiosa porque pobre também tem carro (os sentimentos
dele são sempre transferidos aos outros).
Nossas ruas, estradas, avenidas continuam do mesmo tamanho,
o resultado é um tremendo engarrafamento. A busca de uma vaga é outro pesadelo,
as consequências são óbvias, pequenas ruas submersas por dezenas de veículos
desrespeitando todas as sinalizações deixando em cada bairro um gosto amargo de
feiura e desorganização.
Mas não perdemos por esperar, às segundas-feiras, como é de
praxe do atual governo do Rio, os jornais trarão um comunicado da Prefeitura.
Em relação aos estacionamentos já saíram vários.
Primeiro foram os parquímetros.
Equipes da Prefeitura estiveram na Europa e, encantados com a organização dos
estacionamentos, acharam que se adequariam às nossas ruas, porém os preços deveriam
variar de acordo com a localização das áreas.
Seria uma boa ideia? Sim, mas precisamos avaliar a maneira
como a sociedade e a estrutura governamental interagem. Além de organizar a
cidade, preparando-a para o estacionamento precisamos contar com a necessária
fiscalização e, neste maravilhoso Rio de janeiro, tudo que depende desta
atividade vai por água abaixo. Leis e regras acatadas definem o grau de
desenvolvimento de uma cidade, mas infelizmente, as nossas funcionam como ornamento
para nosso código e não costumam serem usadas nem pela cúpula governamental e
muito menos pela população.
A população, habituada aos irrisórios dois reais cobrados
pelos flanelinhas, iria desmaiar com os novos preços.
Nesta última segunda-feira foi alardeada uma nova ideia:
teremos vagas exclusivas para o lazer, são os parklets. Construídos em áreas
onde a velocidade não ultrapasse 50 km, fincarão pouso no espaço retirado do estacionamento
de dois carros. Parece-me que no Rio pouquíssimos logradouros serviriam, salvo
ruas de pedestres, pois nas demais os automóveis circulam a cem quilômetros e
as motos a duzentos quilômetros por hora!
Vamos continuar, esses parklets serão construídos e
conservados pela iniciativa privada. Os modelos são padronizados em decks de
madeira, sendo as mesas e cadeiras do mesmo material com ombrelones brancos.
Também não poderão ter serviço de bar. Plantas adornarão o ambiente.
Pensando na exequibilidade desse projeto, gostaria de perguntar:
sabendo-se que os custos e a manutenção dependeriam do capital privado, qual a
vantagem desse oferecimento gracioso à cidade? Os parklets tem um custo e a
quem caberão os encargos da limpeza e manutenção desse espaço? Hoje em dia a
COMLURB funciona exclusivamente para a coleta de lixo. Decks e mesas de
madeira frequentemente necessitam serem envernizados. Quem fiscalizará a
proibição do uso pelos bares?
Estaríamos falando de espaço para lazer ou novo
point regado à bebida? Vale também para point de homeless? Ah! Já sei, com o
desemprego em alta e a velocidade de ação dos camelôs, breve teremos
churrasquinho de gato (e cachorro) para serem consumidos à luz do luar.
Não sou contra espaços de lazer e tenho verdadeiro horror a
obstrução das ruas por uma imensa quantidade de carros, mas esta certamente não
é uma boa solução para o esvaziamento das ruas. Estão tentando fazer um “coreto
contemporâneo” no meio do caos urbano que é nossa cidade.
Parece que os mandatários dessa cidade residem em Londres e
tentam importar ideias totalmente incompatíveis com o modus vivendi do carioca. Nós infelizmente somos subdesenvolvidos,
se não fossemos, estaríamos gritando contra essa Olimpíada que não temos condição
de fazer, que está partindo a cidade e custando uma verba assombrosa. Está
muito difícil conviver com todas as determinações da prefeitura sem que seja
possível participarmos desse processo.
Em uma cidade que tem seu contorno entre o mar e a montanha, nunca se cogitou a construção de garagens subterrâneas. Este seria um ótimo
método para permitir que as ruas fossem aproveitadas pelos pedestres. Dar um
fim a um sem número de ônibus vazios que circulam pela Zona Sul pelo visto é
proposta impossível. Vez por outra o Prefeito lança um factoide: “vamos
diminuir o número de ônibus da zona sul e... nada”.
Mais uma proposta superficial que evita lidar com as questões que de fato são importantes e que apenas entretêm os desavisados.
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