sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Preconceito: Um Atalho para o Ódio

“A classe média é uma abominação política porque é fascista, é uma aberração ética porque é violenta, é uma aberração cognitiva porque é ignorante.” Este preconceito foi externalizado por uma professora de filosofia e, certamente, não pertence à esfera do racional. No caso, a intelectual se dirigia às pessoas da classe média que, através de seu grupo social, econômico, suas crenças, sua ideologia, se organizam para viver em sociedade.

Apesar de ser uma característica dos filósofos o pensamento racional, a filósofa sucumbiu ao identificar, na classe média, a expressão de comportamentos diferentes dos dela colocando em risco os seus paradigmas, desequilibrando-a, permitindo uma explosão emocional desconcertante o que nos indica a dificuldade da professora tolerar suas próprias frustrações.

O preconceito é proveniente das características pessoais do indivíduo entremeadas pelo meio familiar, completada pela cultura e tem na sua essência a agressividade que varia da sutileza a uma fúria incontrolável. Não existe preconceito gentil.

Nós vivemos em um país onde há tremenda diversidade de modo que o preconceito tem ao seu dispor miríades de possibilidades que lhe permite ser expresso em situações banais. É do universo social o funcionamento discriminatório, e se aloca até nas trivialidades da vida cotidiana.

Encontramos essa discriminação nas escolas onde o “bullying” fere os corações, estigmatizam crianças causando profundas mágoas e rancores, comprometendo a vida emocional das crianças e adolescentes, que chegam à vida adulta, muitas vezes, marcados por dores inesquecíveis.

Quando a discriminação é exercida de forma muito intensa, como em assassinatos a homossexuais ou “bullying” muito violento, nos revelam que autores desses atos macabros possuem uma mente extremamente doentia.

Geralmente são pessoas com transtornos de personalidade bem graves, onde a fúria e a violência imperam, e que possivelmente foram submetidos a situações traumáticas de vida. Nestes casos, o descontentamento com seu infortúnio, o se sentir diferente, as dificuldades de inserção no grupo social são vivências intoleráveis. A população gay, muitas vezes maltratada, surge como um alvo fácil para o exercício de uma verdadeira catarse emocional de mentes perigosas.  

Por outro lado, no combate ao preconceito, há de se ter cuidado para não gerar situações de desigualdade e por consequência se apelar para outra discriminação, como as cotas nas Universidades. Os afrodescendentes têm preferências nas classificações porque são pretos, pobres ou não, e não porque não tiveram acesso às escolas de bom nível. Para os preconceituosos são considerados inferiores.

O preconceito parece, também, estar a serviço de um atalho cognitivo que nos permite resolver situações rapidamente, sem utilização de maiores recursos mentais. Em seu livro mais recente, Daniel Kahneman fala dos dois sistemas que usamos: o Rápido e o Devagar, o primeiro sendo automático de pouco custo mental e o segundo mais demorado e demandante das nossas capacidades.


Precisamos trazer a discussão do preconceito para o sistema “Devagar”, para repensarmos nossas posições e evitarmos conclusões automáticas. 

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