“A classe
média é uma abominação política porque é fascista, é uma aberração ética porque
é violenta, é uma aberração cognitiva porque é ignorante.” Este preconceito foi
externalizado por uma professora de filosofia e, certamente, não pertence à
esfera do racional. No caso, a intelectual se dirigia às pessoas da classe
média que, através de seu grupo social, econômico, suas crenças, sua ideologia,
se organizam para viver em sociedade.
Apesar de
ser uma característica dos filósofos o pensamento racional, a filósofa sucumbiu
ao identificar, na classe média, a expressão de comportamentos diferentes dos
dela colocando em risco os seus paradigmas, desequilibrando-a, permitindo uma
explosão emocional desconcertante o que nos indica a dificuldade da professora
tolerar suas próprias frustrações.
O
preconceito é proveniente das características pessoais do indivíduo entremeadas
pelo meio familiar, completada pela cultura e tem na sua essência a
agressividade que varia da sutileza a uma fúria incontrolável. Não existe
preconceito gentil.
Nós vivemos
em um país onde há tremenda diversidade de modo que o preconceito tem ao seu
dispor miríades de possibilidades que lhe permite ser expresso em situações
banais. É do universo social o funcionamento discriminatório, e se aloca até
nas trivialidades da vida cotidiana.
Encontramos
essa discriminação nas escolas onde o “bullying” fere os corações, estigmatizam
crianças causando profundas mágoas e rancores, comprometendo a vida emocional
das crianças e adolescentes, que chegam à vida adulta, muitas vezes, marcados
por dores inesquecíveis.
Quando a
discriminação é exercida de forma muito intensa, como em assassinatos a homossexuais
ou “bullying” muito violento, nos revelam que autores desses atos macabros
possuem uma mente extremamente doentia.
Geralmente
são pessoas com transtornos de personalidade bem graves, onde a fúria e a
violência imperam, e que possivelmente foram submetidos a situações traumáticas
de vida. Nestes casos, o descontentamento com seu infortúnio, o se sentir
diferente, as dificuldades de inserção no grupo social são vivências
intoleráveis. A população gay, muitas vezes maltratada, surge como um alvo
fácil para o exercício de uma verdadeira catarse emocional de mentes perigosas.
Por outro
lado, no combate ao preconceito, há de se ter cuidado para não gerar situações
de desigualdade e por consequência se apelar para outra discriminação, como as cotas
nas Universidades. Os afrodescendentes têm preferências nas classificações
porque são pretos, pobres ou não, e não porque não tiveram acesso às escolas de
bom nível. Para os preconceituosos são considerados inferiores.
O
preconceito parece, também, estar a serviço de um atalho cognitivo que nos
permite resolver situações rapidamente, sem utilização de maiores recursos
mentais. Em seu livro mais recente, Daniel Kahneman fala dos dois sistemas que
usamos: o Rápido e o Devagar, o primeiro sendo automático de pouco custo mental
e o segundo mais demorado e demandante das nossas capacidades.
Precisamos
trazer a discussão do preconceito para o sistema “Devagar”, para repensarmos
nossas posições e evitarmos conclusões automáticas.
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