Mais uma bela rua enfeiada pela desordem urbana. |
Os aviões saem lotados do Brasil transportando milhões de
brasileiros rumo ao primeiro mundo. Lá se encantam com cidades onde o
tratamento urbanístico contempla os nossos olhos com uma beleza contagiante. O
transporte é confortável quer seja de trens, metrô, ou ônibus. Também podemos
usufruir dessa maravilha que é andar a pé sem levar tombos incríveis ou romper
ligamentos. O ambiente também é protegido desse horror que se chama transporte
individual que polui a cidade e esgarça nosso sistema nervoso com horas de
engarrafamentos. Pelo visto, os brasileiros gostam de conforto e beleza e
organização.
Entretanto chama a minha atenção, nas conversas com vários
amigos, quer sejam da classe intelectual ou não, mais abastados ou menos, a
inexistência de questionamentos sobre urbanismo ou melhor, a falta dele nas
nossas cidades. Acabo sempre me sentindo solitária nas reflexões que costumo
fazer sobre o grave problema urbanístico que encontramos no Rio.
O que me incentivou a escrever sobre esse assunto é que
arquitetos e urbanistas, através de artigos nos jornais, vêm alertando as
autoridades e a nós os descaminhos que estão sendo traçados em nossas cidades
carecendo de uma visão científica que possa dar guarida a uma população urbana,
beirando os quarenta ou cinquenta milhões de pessoas.
O último desses artigos, o do Dr. Washington Fajardo no O
Globo, me emocionou de tão real, iluminando os aspectos negativos que
encontramos nessa cidade que, ao que me parece, não estão nas preocupações nem
das autoridades nem dos moradores.
As pessoas buscam freneticamente a beleza e as indústrias de
cosméticos movimentam bilhões, mas em relação à cidade em que vivemos a opção é
pela desordem urbana. A natureza majestosa dessa cidade não está resistindo aos
maus tratos da mão humana e está se tornando feia. As praias repletas de
quiosques e barracas pavorosas, além do estacionamento de vans, é um monumento
ao desencanto.
No Leblon, por exemplo, determinadas ruas internas tem sua arborização
doente e desabando e o que era antes uma maravilhosa harmonia se tornou uma
opressora muralha de carros, caminhões, fretes e vans com a conivência da
Guarda Municipal.
As calçadas são tomadas por mesas, cadeiras, muito
salgadinho e bebidas. Não há lugar para os residentes do bairro. São palavras
do Dr. Washington entre muitas advertências: “a beleza do brasileiro não tem
espelho na feiura das cidades, precisamos revitalizar, reciclar edifícios, criar
e inovar”.
É impressionante como, ao deixar o bairro ou a ruas,
sufocantes, sujos, desorganizados e desconvidativos a opção é ficar mais em
casa. O ambiente hostil desencadeia processos internos de mudança que podem ser
observados na forma como decoram seus pequenos ou enormes apartamentos. Qualquer
cantinho funciona como jardim, a parte de lazer recebe televisões gigantescas,
na varandinha ou no varandão surge uma churrasqueira, tudo arranjadinho para se
fugir da desordem praticada por nós mesmos. Ainda existe, para os de maior
poder aquisitivo, quatro ou cinco viagens ao ano curtindo a vida ao ar livre.
Eu gostaria que a consciência ambiental brilhasse na cabeça
dos cidadãos da nossa cidade para que pudéssemos ser mais felizes aqui também,
afinal é aqui que passamos a maior parte das nossas vidas. Conviver com o
agradável, com a beleza da natureza e a harmonia ambiental não deve ser
primazia dos ricos, mas uma exigência de todos.
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