sexta-feira, 7 de novembro de 2014

"A Beleza do Brasileiro não tem Espelho na Feiura das Cidades"

Mais uma bela rua enfeiada pela desordem urbana.
Os aviões saem lotados do Brasil transportando milhões de brasileiros rumo ao primeiro mundo. Lá se encantam com cidades onde o tratamento urbanístico contempla os nossos olhos com uma beleza contagiante. O transporte é confortável quer seja de trens, metrô, ou ônibus. Também podemos usufruir dessa maravilha que é andar a pé sem levar tombos incríveis ou romper ligamentos. O ambiente também é protegido desse horror que se chama transporte individual que polui a cidade e esgarça nosso sistema nervoso com horas de engarrafamentos. Pelo visto, os brasileiros gostam de conforto e beleza e organização.

Entretanto chama a minha atenção, nas conversas com vários amigos, quer sejam da classe intelectual ou não, mais abastados ou menos, a inexistência de questionamentos sobre urbanismo ou melhor, a falta dele nas nossas cidades. Acabo sempre me sentindo solitária nas reflexões que costumo fazer sobre o grave problema urbanístico que encontramos no Rio.

O que me incentivou a escrever sobre esse assunto é que arquitetos e urbanistas, através de artigos nos jornais, vêm alertando as autoridades e a nós os descaminhos que estão sendo traçados em nossas cidades carecendo de uma visão científica que possa dar guarida a uma população urbana, beirando os quarenta ou cinquenta milhões de pessoas.

O último desses artigos, o do Dr. Washington Fajardo no O Globo, me emocionou de tão real, iluminando os aspectos negativos que encontramos nessa cidade que, ao que me parece, não estão nas preocupações nem das autoridades nem dos moradores.

As pessoas buscam freneticamente a beleza e as indústrias de cosméticos movimentam bilhões, mas em relação à cidade em que vivemos a opção é pela desordem urbana. A natureza majestosa dessa cidade não está resistindo aos maus tratos da mão humana e está se tornando feia. As praias repletas de quiosques e barracas pavorosas, além do estacionamento de vans, é um monumento ao desencanto.

No Leblon, por exemplo, determinadas ruas internas tem sua arborização doente e desabando e o que era antes uma maravilhosa harmonia se tornou uma opressora muralha de carros, caminhões, fretes e vans com a conivência da Guarda Municipal.

As calçadas são tomadas por mesas, cadeiras, muito salgadinho e bebidas. Não há lugar para os residentes do bairro. São palavras do Dr. Washington entre muitas advertências: “a beleza do brasileiro não tem espelho na feiura das cidades, precisamos revitalizar, reciclar edifícios, criar e inovar”.

É impressionante como, ao deixar o bairro ou a ruas, sufocantes, sujos, desorganizados e desconvidativos a opção é ficar mais em casa. O ambiente hostil desencadeia processos internos de mudança que podem ser observados na forma como decoram seus pequenos ou enormes apartamentos. Qualquer cantinho funciona como jardim, a parte de lazer recebe televisões gigantescas, na varandinha ou no varandão surge uma churrasqueira, tudo arranjadinho para se fugir da desordem praticada por nós mesmos. Ainda existe, para os de maior poder aquisitivo, quatro ou cinco viagens ao ano curtindo a vida ao ar livre.


Eu gostaria que a consciência ambiental brilhasse na cabeça dos cidadãos da nossa cidade para que pudéssemos ser mais felizes aqui também, afinal é aqui que passamos a maior parte das nossas vidas. Conviver com o agradável, com a beleza da natureza e a harmonia ambiental não deve ser primazia dos ricos, mas uma exigência de todos.

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