Quem viu na Band o debate entre os candidatos presenciou a
solidão de Aécio Neves e o abandono a que foi submetido pelos políticos. Com a
rápida subida de Marina que chegou a trinta e cinco por cento nas intenções de
voto, colocando Aécio em terceiro com quatorze por cento, seus parceiros não
hesitaram e alçaram voo em busca do ninho de Marina. Enquanto Dilma e Marina estavam
cercadas de pessoas que as acompanhavam na plateia, durante o debate, não havia
ninguém do PSDB, prestigiando Aécio. Seu candidato à vice deixou o recinto
antes mesmo de se iniciar o debate. Fiquei chocadíssima com esse fato.
No dia seguinte, lá estavam seus correligionários, incluindo
o ex-presidente Fernando Henrique, como a oferecer apoio do PSDB à Marina. Fui
eleitora do nosso intelectual Presidente que teve uma equipe econômica
excelente. Impossível esquecer a inflação avassaladora que corroía nossos
salários, a posterior conquista da estabilização da nossa moeda, assim como a
contribuição de seus vários Ministros competentes e corretos. Entretanto, no
meu modo de entender, o ex-presidente não mantinha e nem mantem um bom diálogo
com o povo. Encastela-se na sua intelectualidade e profere alguns comentários
pouco sensíveis e que ferem as pessoas. Mais de uma vez trouxe embaraços à
candidatura de Aécio. Parece que o ex-presidente Fernando Henrique se esqueceu
do que dizia Garcia Marques: só se tem o direito de olhar um homem de cima para
baixo para ajudá-lo a levantar-se. O que se viu foi um empurrão para desacreditarmos
na candidatura de Aécio.
Desejo abordar as enormes dificuldades que Aécio, como
candidato, passou ao se perceber completamente só, em um incrível estado de
abandono, presenciando a retirada dos companheiros que pleiteavam a sua
candidatura à Presidência da República. Era um revés e tanto, capaz de deprimir,
de enfraquecer qualquer um. Ressurgir das cinzas é bem difícil, mas ele virou
uma fênix.
Sozinho retoma sua batalha, confiante em sua carreira política de
governador de Minas Gerais, onde obteve boa avaliação e como senador também
aprovado. Empenhou-se em sua campanha e o seu telefone que já não recebia
chamadas teve o seu destino mudado. Passou a funcionar, prestando “relevantes
serviços”, atraindo novamente a classe política, mostrando-se vivo e disposto
a lutar, levando alento e confiança à sua equipe assim como a necessidade de
prosseguir em campanha.
Obviamente Aécio deveria estar muito humilhado com a atitude
de seus correligionários que, além de não incentivá-lo, considerando-o perdedor
bandearam-se para o lado de Marina oferecendo o talento dos técnicos do PSDB.
Justiça seja feita à Armínio Fraga que não compactuou com esse movimento. Não
tiveram nem tempo de pensar o que estava acontecendo e o que poderiam fazer
para reverter aquele quadro desolador. Não compreenderam que perdedores eram
eles que consideraram a batalha perdida antes da hora. Como crianças acreditaram no fenômeno Marina,
pode-se até pensar que o objetivo seria retirar o PT do poder, mas é claro que
também procuravam um ninho para pousar.
Na campanha de Aécio parece que era proibido se referir a
qualquer deficiência de Marina, pois ela precisaria ser poupada para se eleger.
Ela, Marina poderia criticar Aécio, mas ele não, uma proposta maluca para quem
está competindo. Foi nesse momento que ele decide se tornar um competidor e
mencionar o comportamento de Marina, principalmente nas idas e vindas do seu
programa. De candidato acuado, passou a apresentar uma desenvoltura compatível
com a sua vontade de vencer, sem as amarras que pudessem prejudicar Marina.
A sua subida nas pesquisas foi lenta, mas cada pontinho lhe
dava força, até que, sem nenhuma cola saiu-se muito bem no debate da Rede Globo,
evidenciando o conhecimento que tem do país que deseja governar e muito
preocupado com os rumos da economia. Conseguindo quase empatar
com Marina, Aécio percebeu a plateia do último debate preenchida, inclusive por
Fernando Henrique. A essa altura, diante do seu ótimo desempenho, a revoada de
pássaros retornou.
Aécio demonstrou várias características psicológicas que são
importantes para o cargo de Presidente da República: um grande espírito de
luta, resiliência, confiança e esperança para prosseguir mesmo a frente do mais
sombrio desfecho, pois se acreditava que Marina iria lhe tirar votos até dos
mais leais seguidores em função do voto útil. Aécio conseguiu administrar as
injunções psicológicas oriundas das humilhações e do desprezo que lhe
impuseram. A confiança em se sentir o candidato mais bem preparado para ocupar
a presidência foi um fator individual importantíssimo que permitiu a retomada
de sua campanha. Apesar de toda essa trajetória sofrida, agiu com elegância nos
debates, evitando agressões contundentes e tem se portado com a dignidade que o
mais alto cargo do país merece.
Agora é continuar na tentativa de livrar o Brasil de um pesadelo.
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