A violência é um assunto de extrema complexidade e que deve
ser discutida por vários segmentos de nossa sociedade.
Estamos diante de um estarrecedor quadro de hostilidade
civil, ao qual o Rio de Janeiro e outras metrópoles estão submetidas, e que, ao
que me parece, é o resultado de vários fatores inclusive uma conjuntura social
e política que vem influindo nas nossas vidas, nos últimos anos. Cito alguns:
Causas familiares:
A estrutura familiar passou por modificações importantes com
a ascensão da mulher ao mercado de trabalho. Com a ausência dos pais, a
incumbência de cuidar das crianças foi transferida, quase integralmente, às
babás, parentes ou vizinhos.
Os pais modernos,
além das preocupações com o sustento familiar e os filhos, ainda necessitam
encontrar tempo para suas próprias necessidades, tais como exercícios físicos e
programas sociais, assim sendo, o corre-corre diário e o estresse são enormes. Eles
apresentam, também, uma grande obsessão pela juventude e comportam-se como
irmãos de seus filhos como se não houvesse diferença entre as gerações. Essa
atitude impede diálogo franco e aberto com os filhos que passa a ser
substituído pela irreverência e falta de autoridade.
Acredito que a psicologia, tão benéfica para o entendimento
das crianças, foi mal compreendida e os pais receavam traumatizar seus filhos
com comportamentos que pudessem frustrá-los. Pelo mesmo motivo, o “não pode” e
punições passaram a serem consideradas atitudes repressoras e, como tal,
obsoletas. Essas preocupações ultrapassaram o que seria mais importante, ou
seja, compreender cada filho no que se refere aos seus anseios necessidades e
suas limitações pessoais, auxiliando-os no seu desenvolvimento, de modo mais
afetivo, procurando corrigi-los, evitando-se que se tornem pequenos déspotas
onipotentes e agressivos.
Fatores culturais:
A ideologia do consumo e a sociedade do espetáculo gerou uma
massificação preocupante. As pessoas devem se vestir de tal e qual maneira,
adquirir determinados aparelhos, sempre os de última geração, o carro do
momento, a viagem com as dezenas de malas etc. etc. O consumo passou a nos
definir como pessoas, ancorando precariamente nossas já frágeis identidades.
O potencial humano, um vir a ser criativo, valores morais,
ambientais, qualidade de vida, foram soterrados, assim como a individualidade
de cada um escondida sob esses escombros.
Cultiva-se o individualismo como forma de suposta
independência e inutiliza-se todo o esplendor e as maravilhas de um existir de
modo individual, com suas características próprias, sua personalidade e seu
pensamento de modo a contribuir para o bem estar pessoal e social.
A massificação autoriza as pessoas a dizerem as mesmas coisas,
a se exprimirem de modo grotesco, com zero de fluência verbal e a viverem em um
vazio existencial de dar dó. A violência aparece como a salvação que pode
preencher esse vácuo tedioso.
Causas institucionais:
A falência das instituições sociais provoca uma desagregação
sem precedentes.
Políticos prometem o que não podem cumprir, enganam o povo,
usam o dinheiro público a serviço de suas vaidades, com construções desnecessárias
de modo a deixarem suas marcas visíveis e se esquecem de serviços básicos que
estão funcionando, todos sem exceção, à beira de um colapso.
Enquanto isso a
vida cotidiana vai caminhando sabe Deus como, sem esgoto, mobilidade urbana,
pessoas enlatadas nos transportes, sem saúde e educação etc.
O nosso Prefeito que no meu modo de entender desperdiçou o
seu talento empreendedor, não se cansou de alardear que o gasto com as obras da
Olímpiadas teve setenta por cento de parceria privada. Imagino o que
empreiteiras e outros empresários esperam receber de nós, contribuintes. Não há
jantar grátis.
O que se gera a partir do descontentamento, irritação e
violência, em demasia, é a faísca do povo.
Reversão dos fatos:
Não se pode viver de bom humor e com satisfação em uma sociedade
onde o malfeitor passa a ser vítima. Nossos governantes provocam uma distorção
perceptual, mental, ocular cujo objetivo último é encobrir tremendas tramoias, deslavada
corrupção, que estão derrubando esse país, destruindo suas riquezas e como
sempre tutti buona gente, fugindo de
responsabilidades.
Utilizam discursos pervertidos e sem nexo cuja única
motivação é reverter a verdade, traindo a população que os elegeu, esconder os
malfeitos (eita palavrinha feia!) e sair hasteando a bandeira de protetor do
povo.
Se para o andar de cima tudo é permitido, abre-se o sinal
verde para o andar de baixo proceder da mesma forma, ou seja, total liberdade.
É assim que se chega à barbárie.
Desnível Social:
Convive-se lado a lado com riqueza desmedida e pobreza absurda.
Isso por si só pode gerar revolta e violência. Aqueles que possuem grandes riquezas
conquistadas com o próprio esforço, são vistos com desconfiança. No entanto, o
mérito não os exime da responsabilidade social de pagar melhores salários e contribuírem
de modo constante para o desenvolvimento dos mais pobres.
Se os bem sucedidos
são vistos com descrença, os verdadeiros barões da corrupção e da roubalheira são nossos heróis nacionais. Estes estão destruindo a vida e a
alegria de viver de toda a nação. Puro exercício da mais bruta violência, pois negam as possibilidades e futuro de todo um país. Em termos de crueldade, a corrupção ganha grau dez, uma forma covarde de violência.
Alguém já viu violência gerar outra coisa que não seja violência?
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