Cenas cotidianas. Quantos feridos? Ninguém se importa. |
Que cidade é essa que ridiculariza
Lucélia Santos pelo simples fato de ela andar de ônibus? Nosso povo aprendeu a
ter um discurso politicamente correto, mas o preconceito é sempre gritante. Se atitudes
simples e, até diria, bacana como essa se revertem em polêmicas, imagina o
resto.
Em vez de andar de transporte
público, que deveria ser símbolo de inteligência, preocupação ambiental e um
marco importante pela luta por um transporte público decente, nossos elitistas
cidadãos passam horas engarrafados em seus carrões, noventa por cento das vezes
com um único passageiro a bordo, perdendo um precioso tempo que poderia ser
desfrutado com algo muito mais enriquecedor (por exemplo leitura...). E ainda para
completar esse quadro de total ignorância, além de deixar o trânsito caótico,
estacionam até em vagas de deficientes e outras estripulias que são cometidas
no trânsito.
Quantos anos ainda teremos de
esperar para que tenhamos instituições sólidas, que utilizem o fruto de nosso
trabalho para um sistema de infra estrutura que atenda às nossas necessidades
básicas e que se tenha qualidade de vida? Nós, cidadãos dessa cidade, não
podemos aceitar o abandono em que vivemos, devido a um grande balcão de
negócios que grassa no meio político.
É impensável numa cidade como o
Rio de Janeiro, de temperaturas altíssimas, que nossa frota de ônibus e trens
não tenham refrigeração. É desumano como tratamos os cidadãos que PAGAM e caro
por transporte público nessa cidade. As cenas diárias de pessoas espremidas,
mulheres sendo “encoxadas”, e toda sorte de barbárie que vivemos para se chegar
ao trabalho.
Parte da culpa por um sistema
falido e ineficiente como o do Rio de Janeiro é também nossa. Fomos durante
décadas negligentes e cúmplices de políticas públicas, e políticos, que fugiram
da raia quanto a assuntos importantes, que dificilmente dão votos, afinal uma
obra desse tipo leva mais que um ciclo eleitoral para ser concretizada. Nossa
visão em curto prazo, de prazer imediato, se refletiu em práticas paliativas
que não resolveram o problema.
Avanços econômicos positivos
advindos da estabilidade econômica das últimas duas décadas, como maior acesso à
automóveis, acabaram se tornando “problemas” para as nossas cidades, pois não são
eficientes o suficiente para serem democráticas.
O problema do transporte também
explica outras mazelas das nossas cidades, em especial do Rio de Janeiro. O
tempo de viagem influencia no preço das residências, fazendo com que todos
fiquemos apinhados em torno do centro, promovendo a favelização e impedindo a
expansão para áreas menos densas. Afinal encarar mais de 4 horas por dia só de
transporte, sem contar no preço, não é fácil.
Se todos fossemos Lucélia Santos
estaríamos lutando por um transporte público melhor e não haveria Black Bloc
que nos impedisse. Pior é negar a realidade de que nesta cidade existe um
transporte público pior que o de animais e entrar em seus automóveis achando
que estão lhes assegurando um bem estar que não existe.
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