Até agora não entendi o nome dado à novela das 21 horas da
Rede Globo.
A história, que por sinal possui excelentes atores, versa
sobre uma série de cenas excessivamente perversas. Ali se cometem assassinatos,
tentativas de homicídio, trapaças, infidelidades de um modo geral, crueldade,
traições, enfim uma grande exibição de psicopatia. Parece-me que o autor
especializou-se em trazer à tona o lado negro do ser humano.
O público assiste avidamente o desenrolar dos acontecimentos
que ali se passam e vibram com a sofisticação das tramas maquiavélicas, em nada
semelhante ao que se espera do que seja amor à vida.
Não poderia deixar de pensar na correlação entre a novela e
o aumento da violência em nossa cidade.
Como na novela, a vida do carioca está
sendo submetida a um total desprezo. Os exemplos são inúmeros, pensei em
alguns: um deles é o desvio dos recursos da saúde mesmo sabendo-se da precariedade
do nosso sistema e deixando os pacientes em filas e mais filas para se marcar
uma simples consulta a qual se realizará daqui a dois meses, e se for caso de
cirurgia o tempo de espera se dilata. Muitas doenças, devido a esse absurdo,
podem agravar o estado do paciente e leva-lo à morte.
Minha outra preocupação está ligada ao antediluviano meio de
transporte e os terríveis engarrafamentos que fazem os seus usuários perderem quatro
ou seis horas do seu dia, da sua vida ou do seu descanso e sempre com a ilusória
promessa de felicidade, pois daqui a dois anos possuiremos mais barcas, mais
trens, mais metrô o que nunca acontece. Qual a disposição que os trabalhadores
terão para a vida depois de enfrentar essa forma de tortura?
Nossos governantes não se dão conta de que esses pesadelos, aos quais a população vive diariamente, têm consequências desastrosas para a
vida. O estresse desencadeia violência, afeta a saúde física e mental e gera
situações irracionais do tipo atear fogo aos ônibus ou quebrar trens,
contribuindo, portanto, para uma maior degradação do transporte e prejudicando
a si mesmo.
Através da encenação de situações da novela onde o
desrespeito à vida impera, o cidadão transfere para os atores a sua própria
vivência de uma qualidade de vida dolorosa que propulsiona impulsos violentos.
Não raro, vemos no nosso cotidiano, pessoas repreenderem os artistas que
representam papéis sádicos ou perversos, tamanha a identificação estabelecida e
passam a criticá-lo, chegando às vezes a agredi-los.
Creio que amor à vida é algo completamente diferente. Cuidar
do local onde se vive, construir ao invés de destruir, sair do seu narcisismo
ou como se diz atualmente do seu “selfish”, lutar pela sua cidadania, pensar no
nós ao invés do eu, ser solidário, respeitar o próximo e também exigir respeito.
Como um Novo Ano breve se inicia, o que desejo é que a
amizade, o pensar no outro, o ser gentil, substituam o desamor, a descrença.
Chega deste salve-se quem puder, como se o mundo fosse acabar amanhã.
Precisamos escolher uma classe política identificada com esses atributos e as
quadrilhas que hoje nos governam, com raras exceções, sejam banidas do poder,
afinal 2014 é ano de eleição.
Desejo a todos um final de ano abençoado e que cada ano que
vier supere o anterior.
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