O Prefeito Eduardo Paes pretende incentivar a construção de
habitações na Zona Portuária. Foi enviado à Câmara dos Vereadores dois projetos
que objetivavam oferecer incentivos fiscais aos investidores que desejassem
atuar nesse local e construíssem moradias no Porto Maravilha, assim como promoverem adaptações
nas construções antigas que fazem parte da Apac Sagas (Saúde, Gamboa e Santo
Cristo). A proposta seria a construção de 28000 habitações.
Para ter direito aos vários benefícios precisarão concluir
os prédios do Porto Maravilha em 48 meses. Se os imóveis estiverem situados na Apac
Sagas o prazo será de 24 meses.
O que me chamou a atenção é que para a Zona Portuária as
unidades habitacionais poderão ser bem simples, por exemplo, não será exigido dos
condomínios a existência de garagem, ou seja, algumas unidades TALVEZ tenham uma
vaga. Não ter garagem, que certamente será a preferência dos investidores, é o
que choca.
É do conhecimento de todos a lavagem cerebral a que nós
somos submetidos através de todos os meios de comunicação para a aquisição de
veículos e a consequente felicidade das montadoras, mesmo que quebremos a
Petrobrás com a defasagem do preço da gasolina. O resultado é o que se vê hoje,
engarrafamentos impensáveis.
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Essa escada é tombada pelo Patrimônio e fica no Leblon, mas isso não a impediu de ser usada como garagem, com direito a capa e tudo. |
A oferta do Prefeito pode parecer a algum incauto que ele
esteja na contramão dessa orgia predatória e esteja estimulando o transporte
público, em vez do uso do automóvel, porem ele está contando com as ruas, as
garagens serão as ruas. Todos os carros bonitinhos enfileirados no meio fio.
Por mais bela que seja uma cidade ela não resiste a estas
manobras. Somos guiados por uma inconsciência ambiental que degrada, recaindo
sobre as nossas políticas econômicas, sociais e ambientais.
Entendo que o Prefeito apostou muito no Porto Maravilha e
não está obtendo o resultado esperado o que é bastante frustrador, mas para a
cidade, no momento em que está se construindo algo novo, em pleno processo de
gentrificação não é desejável que se pense só em termos de 2016, mas que seja
estabelecido um planejamento a longo prazo. Nós sabemos que mesmo pessoas muito
simples, de baixo poder aquisitivo, possuem o seu carrinho ou sonham em
adquirir um. Qual a contribuição estética que, esses milhares de carros
estacionados na rua, darão ao novo bairro que, por sinal, é apacado?
Não é justo que, nós que pagamos por tudo, que sofremos as
agruras das obras, das obstruções das vias, da poeira, tenhamos como recompensa
os restos mortais dos jogos Olímpicos. As transformações que desejamos são para
além de 2016, como Barcelona que brilha 20 anos depois dos jogos.
A nossa cidade, como toda metrópole, está em processo de
urbanização muito rápida. Considero imprescindível que nossos líderes
municipais dialoguem com segmentos representativos da população tais como
arquitetos, urbanistas, designers, ambientalistas e até ativistas de modo a dar
conta das transformações sociais, econômicas e urbanísticas pelas quais estamos
passando, com resultados favoráveis.
A estrutura física de um prédio ou da cidade não pode em
hipótese alguma estar distanciada da
população que nela reside, sob pena de
graves consequências.
Essa intensa dissociação em que vivemos hoje acarreta
aberrações difíceis de se conviver. Tome-se como exemplo uma rua em que exista
um pequeno comércio e que dialoga de forma harmoniosa e feliz com seus
moradores. De repente, a rua passa a abrigar dezenas de bares e restaurantes
subjugando a população que lá reside , tratando-a como se fosse um mero objeto,
tornando a situação tensa e conflituada. Não há exigências de que sejam
ambientes fechados, com tratamento acústico, de forma que os moradores tenham
direito ao seu repouso. Ao contrário, as exigências são de varandas, isto é mesas
nas calçadas. Qual o nome que se dá a isso? Talvez perversão de um modelo
urbanístico.
Parece ser norma, na cidade em que vivemos, tomarmos a parte
no lugar do todo. O uso que se faz das águas de nossa linda Baía de Guanabara,
despejando toda sorte de dejetos está matando os nossos golfinhos, que são o
símbolo do Rio de Janeiro, estão se escasseando, mais uma vez se privilegia o
lucro, a insensatez e se esquece da existência dos golfinhos, seres vivos. Talvez
esperem que eles tenham a mesma resistência de aço que nós, desta cidade, precisamos
adquirir para enfrentar tantas condições desfavoráveis.
Qualquer planejamento que se preze, precisa ter
regras que priorizem a qualidade de vida da população local, assim como a
agradabilidade, e porque não preservar a estética? Se não conjugarmos a
população ao meio ambiente, nós estaremos construindo cidades desumanas, onde a
mão do homem estará a serviço da destruição.