sábado, 13 de abril de 2013

O lixo que ninguém se lixa


Isso no Leblon, imagine no resto da cidade
Conheci um senhor que, ao chegar à sua casa, comunicou à família que ganhara o premio da loteria esportiva.  A alegria foi imensa.  No dia seguinte, todos desejavam saber quais os procedimentos que deveriam ser feitos para que pudessem receber o dinheiro.  O senhor, então, revelou que quisera dar uma noite feliz a todos. Ele não contava que a sua brincadeira  sádica pudesse provocar tamanha decepção e tristeza.

Algo semelhante acontecera comigo ao tomar conhecimento da multa do lixo. Fiquei felicíssima! É o início de uma coisa boa, porém no dia seguinte comecei a pensar: quem iria multar? Quantos fiscais seriam necessários para executar essa tarefa? Que papel a população poderia ter no auxílio a esta fiscalização?

Que população é essa que se comporta assim?
 
Estava envolta nesses pensamentos, quando me deparei com um mendigo abrindo os sacos de lixo em busca de alimento. Essa é uma das cenas do nosso cotidiano que mais me chocam e, fiquei imaginando, o quão ridículo e inoportuno seria dizer a esse coitado que não se deve sujar a rua, quando a sua premência era aliviar a fome. Andei mais um pouco e me deparei com uma elegante senhora jogando uma guimba no chão, portanto o problema do carioca vai além da educação e da classe social.

O que está se passando com as pessoas que vivem em sociedade e, em sua maioria, tem sérios problemas em aceitar regras, fazendo, cada um, a regra que melhor lhe convenha?

O que fazer com uma população que está aceitando e convivendo muito bem com o lixo? Isso é um fato irrefutável e comprovado, basta ver as nossas praias e o Carnaval, onde toneladas de detritos são recolhidos e todas as classes sociais, de A a Z, estão envolvidas.

Para não cair em depressão, lembrei-me dos fiscais do Sarney (aquele que é dono do Maranhão). A população acabara de sair da ditadura e enfrentava uma hiperinflação. O Presidente Sarney tabelou os alimentos e nomeou como seus fiscais a população do país. Seria preso quem não obedecesse à essas regras. Naquela época havia a noção do social. Lembro-me que um senhor em nome do PRESIDENTE conseguiu fechar um supermercado. Não durou uma semana porque a situação apresentava uma gravidade econômica grande e necessitava de outro tratamento. Pena que ele não correspondeu ao entusiasmo do povo.

No atual momento em que vivemos, sinceramente, temo que seja mais uma lei que não vai ser cumprida. Paira na cidade um clima de vale tudo, de impunidade, de falta de limites, como se isso fosse garantia de liberdade. A descrença nas autoridades é muito grande e quando há uma mobilização maior da sociedade como foi o pedido para que se fizesse outra linha de metro não foi aceito. O Governo estava preocupado apenas em atender os eventos próximos e também aos lucros advindos do planejamento inicial.

As nossas lideranças políticas se comportam de tal maneira que acabam por influir na desordem em que vivemos. O espírito público anda no esquecimento. Promessas são feitas e não cumpridas. A gastança é enorme, não só pela falta de planejamento, como também pela corrupção das empresas que executam obras de péssima qualidade e, na maioria das vezes, distantes das necessidades mais prementes. A ganância pela reeleição conduz à alianças políticas nefastas  e os cargos públicos acabam sendo leiloados.

Essa falta de amor pelo país, pela população, geram inconformismo e desânimo e até fúria. Isso para não falar que, muitas vezes, as próprias autoridades descumprem as leis.

Ficaria o papel de fiscalizador ao povo ou aos governantes? O povo, este que não cumpre e tem aversão a regras quando não lhe convém, só pensando em si mesmo ou aos nossos governantes que fazem a mesma coisa? Este papel caberia a ambas as partes, no entanto elas estão falhando lamentavelmente.

Se o povo é tratado como um lixo, acaba se acostumando com ele.

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