Conheci um senhor que, ao chegar à sua casa, comunicou à
família que ganhara o premio da loteria esportiva. A alegria foi imensa. No dia seguinte, todos desejavam saber quais
os procedimentos que deveriam ser feitos para que pudessem receber o
dinheiro. O senhor, então, revelou que
quisera dar uma noite feliz a todos. Ele não contava que a sua brincadeira sádica pudesse provocar tamanha decepção e
tristeza.
Algo semelhante acontecera comigo ao tomar conhecimento da
multa do lixo. Fiquei felicíssima! É o início de uma coisa boa, porém no dia
seguinte comecei a pensar: quem iria multar? Quantos fiscais seriam necessários
para executar essa tarefa? Que papel a população poderia ter no auxílio a esta fiscalização?
Que população é essa que se comporta assim? |
Estava envolta nesses pensamentos, quando me deparei com um
mendigo abrindo os sacos de lixo em busca de alimento. Essa é uma das cenas do
nosso cotidiano que mais me chocam e, fiquei imaginando, o quão ridículo e
inoportuno seria dizer a esse coitado que não se deve sujar a rua, quando a sua
premência era aliviar a fome. Andei mais um pouco e me deparei com uma elegante
senhora jogando uma guimba no chão, portanto o problema do carioca vai além da
educação e da classe social.
O que está se passando com as pessoas que vivem em sociedade
e, em sua maioria, tem sérios problemas em aceitar regras, fazendo, cada um, a
regra que melhor lhe convenha?
O que fazer com uma população que está aceitando e
convivendo muito bem com o lixo? Isso é um fato irrefutável e comprovado, basta
ver as nossas praias e o Carnaval, onde toneladas de detritos são recolhidos e
todas as classes sociais, de A a Z, estão envolvidas.
Para não cair em depressão, lembrei-me dos fiscais do Sarney
(aquele que é dono do Maranhão). A população acabara de sair da ditadura e
enfrentava uma hiperinflação. O Presidente Sarney tabelou os alimentos e nomeou
como seus fiscais a população do país. Seria preso quem não obedecesse à essas
regras. Naquela época havia a noção do social. Lembro-me que um senhor em nome
do PRESIDENTE conseguiu fechar um supermercado. Não durou uma semana porque a
situação apresentava uma gravidade econômica grande e necessitava de outro
tratamento. Pena que ele não correspondeu ao entusiasmo do povo.
No atual momento em que vivemos, sinceramente, temo que seja
mais uma lei que não vai ser cumprida. Paira na cidade um clima de vale tudo,
de impunidade, de falta de limites, como se isso fosse garantia de liberdade. A
descrença nas autoridades é muito grande e quando há uma mobilização maior da
sociedade como foi o pedido para que se fizesse outra linha de metro não foi
aceito. O Governo estava preocupado apenas em atender os eventos próximos e
também aos lucros advindos do planejamento inicial.
As nossas lideranças políticas se
comportam de tal maneira que acabam por influir na desordem em que vivemos. O
espírito público anda no esquecimento. Promessas são feitas e não cumpridas. A
gastança é enorme, não só pela falta de planejamento, como também pela
corrupção das empresas que executam obras de péssima qualidade e, na maioria
das vezes, distantes das necessidades mais prementes. A ganância pela reeleição
conduz à alianças políticas nefastas e
os cargos públicos acabam sendo leiloados.
Essa falta de amor pelo país, pela
população, geram inconformismo e desânimo e até fúria. Isso para não falar que,
muitas vezes, as próprias autoridades descumprem as leis.
Ficaria o papel de fiscalizador ao
povo ou aos governantes? O povo, este que não cumpre e tem aversão a regras
quando não lhe convém, só pensando em si mesmo ou aos nossos governantes que fazem
a mesma coisa? Este papel caberia a ambas as partes, no entanto elas estão
falhando lamentavelmente.
Se o povo é tratado como um lixo,
acaba se acostumando com ele.
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