sexta-feira, 20 de maio de 2016

Aristocracia Tropical

A classe artística anda protestando contra o fechamento do Ministério da Cultura. Não sou, de forma alguma, adversária da Cultura, mas parece que os artistas pertencem, na estrutura social, a um patamar diferenciado do restante dos brasileiros, uma espécie de aristocracia tropical.

Até Caetano Veloso se manifestou através de uma carta aberta, o que fez com que vários profissionais da área se posicionaram, aplaudindo e até enfatizando que a referida carta era educada demais. São palavras de conhecido dramaturgo: “acho a carta suave demais, diminuir o status político da Cultura, antes de tudo é um desaforo, uma falta de educação. Com quem eles pensam que estão falando”? Esta fala é a prova maior que estamos diante de um grupo privilegiado.

Parece extemporâneo esses arroubos de “poderosos e vaidosos”, em um momento em que todos são chamados a contribuir e apertar o cinto. Se o cargo de Secretário da Cultura for preenchido por um bom gestor, conhecedor dos problemas existentes nesta pasta, ele poderá fazer valer muita coisa em favor da Cultura do país. Artistas, de um modo geral, podem ser muito criativos.

A Cultura tem um orçamento de 2,6 bilhões de reais, dinheiro que segundo os artistas não fará diferença à nação. É claro que ficaria com menos recursos com a fusão, mas me parece que o problema é de gestão, endividando-se e gastando-se o que não se tem. No momento, há quatro peças Hollywoodianas em cartaz, projetos comerciais com ingressos caríssimos, seriam assim tão necessários?

Causa-me estranheza a relativização do dinheiro, atualmente. Como os roubos são de milhões, a verba da cultura passa a ser pequena. Sei que há muitos projetos e programas culturais, mas poderíamos pensar em levar arte para as escolas públicas, através de professores de música ou de artes mesmo. A arte nas escolas é da mais alta importância, pois ajuda a socializar as crianças e incentivar o pensamento, mas este está longe dos holofotes.

Sempre me intrigou que a classe artística em peso, com pouquíssimas exceções como Suzana Vieira, Marcio Garcia e mais alguns, não se pronunciaram nem uma vez contra os desatinos do governo Dilma, com a quebra da Petrobrás e do país. A maioria dos nossos célebres artistas fez o contrário, são fervorosos adeptos da Presidente afastada. Seria por ideologia? Ou será o glamour de se dizer de esquerda e ao lado dos trabalhadores? Curiosamente muitos foram beneficiados pelos últimos governos.

Enquanto temos 50 milhões de reféns da bolsa família que não têm acesso ao emprego, em grande parte porque não estão qualificados para trabalhar, muitos biliardários agraciados por um partido político que se diz de esquerda, estão sangrando os brasileiros.

Geralmente, não gosto de especular sobre os pensamentos dos outros, mas só agora a grande dama do teatro brasileiro, Fernanda Montenegro, após a saída de Dilma, se declarou decepcionada com Lula. Viu o Brasil se desmoronar e ficou quieta. Gostaria de não acreditar que seja mais um caso de “farinha pouca, meu pirão primeiro”.


Mas o chororô dos artistas parece que foi ouvido, com grande pressão de Renan Calheiros, tudo indica que Temer irá retroceder e o Ministério da Cultura voltará a onerar os cofres públicos em sua plenitude. Incrível como uma minoria poderosa é capaz de mobilizar o país, enquanto uma nação de seres invisíveis padecem por falta de atendimento nos hospitais.

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