A classe artística anda protestando contra o fechamento do
Ministério da Cultura. Não sou, de forma alguma, adversária da Cultura, mas
parece que os artistas pertencem, na estrutura social, a um patamar
diferenciado do restante dos brasileiros, uma espécie de aristocracia tropical.
Até Caetano Veloso se manifestou através de uma carta aberta,
o que fez com que vários profissionais da área se posicionaram, aplaudindo e
até enfatizando que a referida carta era educada demais. São palavras de
conhecido dramaturgo: “acho a carta suave demais, diminuir o status político da
Cultura, antes de tudo é um desaforo, uma falta de educação. Com quem eles
pensam que estão falando”? Esta fala é a prova maior que estamos diante de um
grupo privilegiado.
Parece extemporâneo esses arroubos de “poderosos e
vaidosos”, em um momento em que todos são chamados a contribuir e apertar o
cinto. Se o cargo de Secretário da Cultura for preenchido por um bom gestor,
conhecedor dos problemas existentes nesta pasta, ele poderá fazer valer muita
coisa em favor da Cultura do país. Artistas, de um modo geral, podem ser muito
criativos.
A Cultura tem um orçamento de 2,6 bilhões de reais, dinheiro
que segundo os artistas não fará diferença à nação. É claro que ficaria com
menos recursos com a fusão, mas me parece que o problema é de gestão,
endividando-se e gastando-se o que não se tem. No momento, há quatro peças
Hollywoodianas em cartaz, projetos comerciais com ingressos caríssimos, seriam assim
tão necessários?
Causa-me estranheza a relativização do dinheiro, atualmente.
Como os roubos são de milhões, a verba da cultura passa a ser pequena. Sei que
há muitos projetos e programas culturais, mas poderíamos pensar em levar arte
para as escolas públicas, através de professores de música ou de artes mesmo. A
arte nas escolas é da mais alta importância, pois ajuda a socializar as crianças
e incentivar o pensamento, mas este está longe dos holofotes.
Sempre me intrigou que a classe artística em peso, com
pouquíssimas exceções como Suzana Vieira, Marcio Garcia e mais alguns, não se
pronunciaram nem uma vez contra os desatinos do governo Dilma, com a quebra da
Petrobrás e do país. A maioria dos nossos célebres artistas fez o contrário,
são fervorosos adeptos da Presidente afastada. Seria por ideologia? Ou será o
glamour de se dizer de esquerda e ao lado dos trabalhadores? Curiosamente
muitos foram beneficiados pelos últimos governos.
Enquanto temos 50 milhões de reféns da bolsa família que não
têm acesso ao emprego, em grande parte porque não estão qualificados para
trabalhar, muitos biliardários agraciados por um partido político que se diz de
esquerda, estão sangrando os brasileiros.
Geralmente, não gosto de especular sobre os pensamentos dos
outros, mas só agora a grande dama do teatro brasileiro, Fernanda Montenegro,
após a saída de Dilma, se declarou decepcionada com Lula. Viu o Brasil se
desmoronar e ficou quieta. Gostaria de não acreditar que seja mais um caso de “farinha
pouca, meu pirão primeiro”.
Mas o chororô dos artistas parece que foi ouvido, com grande
pressão de Renan Calheiros, tudo indica que Temer irá retroceder e o Ministério
da Cultura voltará a onerar os cofres públicos em sua plenitude. Incrível como
uma minoria poderosa é capaz de mobilizar o país, enquanto uma nação de seres
invisíveis padecem por falta de atendimento nos hospitais.