Bloco é bom na rua dos outros |
Onde ficaram as balas perdidas, os tiroteios, as mortes de
civis e policiais na semana do Carnaval? Será que a violência é inversamente
proporcional ao número de blocos e ao volume de pessoas que saem às ruas nessa
semana da folia?
A cada ano que passa a multidão se agiganta e superlota todos
os bairros. O Leblon foi invadido por milhares de pessoas que ao som de músicas
ensurdecedoras, uma quantidade absurda de bebida alcoólica, um calor senegalês,
muita vontade festejar, cair na brincadeira, azarar e principalmente extravasar,
inundou o bairro.
Presenciamos a um verdadeiro processo catártico. No lugar da
crescente violência nas ruas, surge o Carnaval. A população, mesmo que muitos
se distanciem das notícias cotidianas, é atacada por tremenda poluição visual,
auditiva e sensorial que nos chegam diariamente e que somos obrigados a engolir.
O clima de suspense quanto ao nosso futuro, a descrença, a
insegurança, os cofres vazios para enfrentar tantas demandas, o PIB em retrocesso,
só podem nos indignar e mexer com o leão adormecido dentro de nós, ou seja, a agressividade . A explosão
interna que teima em nos queimar encontrou nas festas de Momo uma válvula de
escape.
As ruas sofreram uma enxurrada de lixo nunca visto, representação
concreta de tudo o que temos vivido, a ponto de um batalhão da COMLURB, de
vassoura em punho, caminhar junto aos blocos, mas enquanto se procedia à
faxina, novos detritos surgiam na retaguarda. Aliviavam-se nas ruas mesmo, sem
cerimônia, no clima do vale tudo, e a cada brisa que soprava o odor entrava
pelas nossas janelas.
O Carnaval é a imagem do faz de conta, a Guarda Municipal
correndo atrás dos ambulantes, que vendem bebidas a menores, e eles se
escondendo para voltar um segundo depois. Cabeças esvaziadas e copos
cheíssimos.
Entretanto esse extravasamento mental é passageiro e não
possui nenhuma condição de provocar qualquer mudança no congestionamento
emocional de nossas vidas e muito menos no clima político, justamente o
impossível de acontecer nesses momentos é a capacidade de pensar.
Se para milhares de pessoas a catarse funcionou, para nós
moradores do bairro nos trouxe muito desconforto. Trata-se de um grave problema
que, tanto a Prefeitura como as Cervejarias incentivam e autorizam, proibindo o
trânsito e até a nossa passagem. Tornamo-nos reféns da massa humana que se
forma em uma verdadeira esbórnia, ilhados e presos em casa.
Mais tarde as grades se expandiram até a beira da calçada Curralzinho Privê |
A insanidade toma conta das cabeças premiadas da Prefeitura
que insistem em desrespeitar as pessoas que ou são idosas ou por outro motivo
qualquer não puderam se afastar do Rio. Pode ser muito bom para turistas
encontrar já às oito horas da manhã as portas desse monumento à IGNORÂNCIA E IRREVERÊNCIA
que se chama BOTECO BELMONTE, um trio elétrico despertando a população que aqui
reside.
Agora imagine você, que está lendo, em plena segunda-feira,
depois de sobreviver ao caos e ao confinamento do carnaval no Rio de Janeiro,
ter seu último direito alijado, a santidade do sono violada pela algazarra que
se inicia bem cedo. Lembro-lhe que o carnaval carioca não dura só um dia, ou
uma tarde, cada vez começa mais cedo e termina mais tarde, multiplicando sempre
o número de blocos.
O prefeito, que se considera acima de qualquer mortal dessa
cidade, deve estar envaidecido e inebriado com os turistas que aqui chegaram e
que presenciaram não só o Leblon, mas muitos bairros, literalmente fechados
para o Carnaval. Deve haver alguma maneira, caso o respeito resolver dar as
caras, e o pensamento funcionar, de promover a festa e poupar os moradores dessa
asfixia.
A permissividade do Rio é mundialmente conhecida, mas
realmente o Prefeito “trabalhador” a reinventou, em especial no Leblon.
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