“Belmonte lá é coisa de favela?” Pergunta feita pela
Professora Bárbara Nascimento, cursando mestrado na UFRJ, em sua entrevista ao
O Globo em 5/01/2015, questionando sobre as mudanças que se se processam no
Vidigal. No meu modo de entender esta
aberração, que se chama Belmonte, não deveria existir em lugar algum devido ao
tremendo incômodo que traz à vizinhança. Ela, residente no Vidigal, tem várias reclamações,
trazendo problemas relacionados às modificações que vem surgindo na favela.
A professora se queixa que, com a chegada de estrangeiros e
também brasileiros mais abastados, os preços das moradias se tornaram
exorbitantes e a população acaba por vender as suas casas, cedendo a vez ao
poder econômico e ao maravilhoso visual que de lá se descortina. Hotéis, bares,
novos moradores e muita gente de salto alto subindo a favela, ávidos por novos
points, puro processo de gentrificação.
O Vidigal mudou a sua feição, símbolo do que consideram
evolução, perdeu aquela intimidade, cumplicidade
solidariedade existente na favela. O projeto fracassou, junto com o sonho dos urbanistas de integração da favela ao asfalto. Assim surgiu a Comunidade do Vidigal, nome que
ela mesma questiona.
Segundo a professora, favela além de ser um nome bonito, tem
uma história e realmente desde 1893 quando se iniciou o processo de favelização
o nome era este mesmo, porque então, chamar de Comunidade?
“Onde está o samba que fez parte de toda sua vida, da
meninice à idade adulta e que foi trocado pelo chope do Belmonte?”- Pergunta a
jovem que também se queixa dos jeeps que invadem a favela, trazendo turistas,
invadindo a privacidade das pessoas, tirando fotos. Eu não posso deixar de
concordar com a professora, pois sempre considerei esse passeio uma violação
aos direitos humanos. Na minha mente surge o Simba Safari, existente em São
Paulo, só que nesse caso, os bichos somos nós. A favela possui toda uma
conjuntura habitacional dentro de vielas, muito estreitas, e que permite uma
exposição de suas vidas muito maior, é preciso ter cuidado.
Há muito que se pensar a respeito do que expus acima. Em uma
pesquisa realizada 97% das pessoas entrevistadas responderam que adoram morar em
favela e não desejam se mudar, mesmo com as dificuldades existentes em sua
infraestrutura.
Será que Belmonte, hotéis ou casas mais bonitas estão
tornando os moradores mais felizes ou é o fator econômico, passando como um
trator sobre as pessoas? Creio que vidigalenses estão em rota de colisão com os
novos residentes. Parece que eles se sentem ameaçados de perder as suas
identidades, a cultura própria da favela, os seus points de encontro e não
estão se integrando aos novos moradores nem aos novos entretenimentos.
Há um sentimento de marginalização por parte dos moradores
que se sentem perturbados na sua vida cotidiana e não estão com a menor
vontade de participar dessa nova conjuntura.
A queixa da professora é a mesma dos moradores do Leblon que
deixou de ser um bairro pacato e elegante, invadido de forma arbitrária, sem
respaldo legal, pois até hoje os bares e restaurantes contrariam o plano
diretor que não permitia esse abuso e que vem arrasando literalmente o
quarteirão, como é o caso do Belmonte. Nós, moradores, vivemos, em sua maior
parte, não participando dessa balburdia trazida por quem vem de fora e que nos
segrega, já que nos perturbam bastante
Não sei se podemos olhar essa invasão no Leblon como uma
evolução. Não se preocuparam nem com nosso sagrado direito de caminhar pelas
calçadas e dormir sossegado. Evolução ou vandalismo? Gentrificação é progresso
e bem-vindo, desde que as regras existentes sejam obedecidas, o que
infelizmente não acontece. O respeito à ordem pública não pode ser violado, independente
do poder econômico.
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