"Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça" |
Hoje me aconteceu um fato inusitado. Telefonei para o
consultório do meu oftalmologista que voltava de férias para marcar uma
consulta. A secretária me informou que só disporia de horário para o dia 20 de
fevereiro. Sem eu pedir nada, disse-me que estava confirmando os horários das
consultas do dia seguinte, e tentaria me encaixar no lugar de alguma
desistência. Algum tempo depois, ela mesma me retorna comunicando que havia um
horário disponível para mim. Por sorte foi perfeito, já que trabalho e tenho um
tempo muito limitado.
Estupefata com tanta consideração, iniciativa e
profissionalismo disse-lhe que ela fora muito gentil comigo e que eu estava
muito grata. Ela de forma angustiada me respondeu: “Deseje-me saúde”.
O recado caiu como uma luva, pois venho pensando o quão
insalubre as nossas vidas andam. Um calor senegalês, ameaças de todos os lados,
falta de água, de luz, os preços subindo de forma anormal, principalmente em
relação à luz. Uma situação política vergonhosa onde se mendigam ministérios,
cargos nos principais escalões, e a visão eterna e ilegal da prática de nepotismo.
O grande golpe dado na Petrobrás, nosso ex-orgulho, e o empobrecimento da economia
contribuem para as angústias da população.
É muito triste assistirmos ao fechamento de lojas, a queda
da indústria, milhares de pessoas perdendo os empregos e, por último a mais
grave de todas, acho eu: a falta de preparo dos nossos governantes para
eventuais tormentos da natureza.
A inexistência de plano de ação a longo, médio e imediato prazo é flagrante. Acostumados ao improviso, se esqueceram que existem
prevenção. Além desses fatos, ainda
temos de suportar o medo que a classe política e governamental sente de falar a
verdade.
O que estamos passando é uma tragédia há muito anunciada,
onde as obras das hidroelétricas estão no maternal. Desconhecem a existência da
matemática, gasta-se a rodo. A opção pelo exagero do número de estádios de
futebol a preços altos, encobrindo possivelmente os malfeitos, foi triste. O
país se transformou em um grande canteiro de obras, sugando a economia.
Os poderes legislativos e judiciários que legislam em causa
própria, elevam seus salários e agregam aditivos que os profissionais comuns
não possuem, esquecem de que esse dinheiro é do contribuinte, não é deles, nem
do governo. É impressionante que não se sintam constrangidos, funcionam como
sempre detentores de todos os direitos.
Está mais do que na hora de falar a verdade e fazer maciça e rigorosa campanha
para que se economize água e luz, não só devido à grave situação como também ao
ônus que temos de suportar com contas estratosféricas. Há milhões de gatos que
são feitos nas favelas e no asfalto. Gasta-se uma quantidade de energia brutal,
despreocupados que estão com o custo zero e alheios à gravidade da vazante dos
reservatórios e às dificuldades das usinas. Não podemos esquecer que os moradores honestos,
que possuem contas nas comunidades, dispendem uma quantia irrisória, no
pagamento das mesmas, o que se torna um ótimo convite ao desperdício. A conta
chega para nós, contribuintes, é claro, já sufocados com o alta do custo de
vida.
O exposto acima gera na população e no contribuinte um
sentimento de orfandade, devido à nossa condição de cidadão não ser levado em
conta, totalmente restringida, cedendo o lugar a uma avidez pelo poder e a uma
corrupção nunca vistas. O sentimento predominante é o de revolta, estamos envergonhados
de pertencer a um país que não é do presente, estamos sempre à espera de um futuro
que não é para nós. Fantasiamos que será pera nossos filhos, depois esperamos
que seja para os netos e por aí vai. Assistimos impotentes ao fracasso em áreas
sociais. No embalo da mentira nos tornamos céticos.
A secretária do médico está sofrendo, nós estamos sofrendo e
a saúde física e emocional certamente é abalada, principalmente quando tudo
isso fica dentro de nós germinando silenciosamente.
Não sou a favor de violência, muito menos de golpes, mas a
sociedade brasileira está atolada na inércia, esperando talvez o Carnaval para
afogar as mágoas. O prefeito tratou de vestir os canteiros, um mês antes do
Carnaval, de horrendas telas, incentivando a folia e o alheamento.
Sou a favor de mobilização da população, totalmente
pacífica, mas que tem uma eficácia poderosa sobre a classe política e
governamental. É importante manifestar que estamos vivos e não concordamos com os
desmandos que afloram em nossa sociedade.
Chicô Gouveia tem razão quando pede a suspensão do Carnaval de rua devido à escassez de água.