O país vivia uma convulsão social, as perdas econômicas, o superfaturamento
e atrasos das obras, operários mortos em serviço e viadutos despencando. O
desconforto com as exigências da FIFA e com nossos cartolas configuravam um
quadro desalentador. O mau humor imperava no Brasil, indicando um aspecto
psicológico eivado de perdas, uma espécie de luto.
A cidade como sempre não foi preparada, no que se refere à
infraestrutura, nem para receber a população da própria cidade no âmbito dos
transportes, quanto mais para acolher um contingente de turistas. A solução é
sempre a mesma, por sinal no meu modo de entender chocante, paramos por
praticamente trinta dias e o nosso povo entregou-se de corpo e alma às festas
numa euforia indizível. Esse superficial desprendimento pode ter encantado os
nossos visitantes que não conhecem a fundo a nossa real situação.
Praticamente tudo foi permitido: nossas praias viraram
dormitórios e banheiros, mesmo assim o clima era feérico.
O Time: considero uma grande dificuldade não termos
jogadores que disputem o campeonato nacional, devida às transações comerciais
que acontecem cada vez mais cedo na vida destes atletas. A ida tão prematura
destes jogadores para o exterior pode ser benéfica a nível individual, porém o
prejuízo é grande quando consideramos o rebaixamento do nível técnico do nosso
campeonato. O desenvolvimento dos outros jogadores é prejudicado quando nossos
melhores atletas partem para outros países.
Psicologicamente inseguros, pelo excessivo peso que o Brasil
dá ao futebol, nossos atletas tiveram um desempenho inferior ao que costumam apresentar
em seus times. O medo de perder era tão grande que em face ao primeiro gol o
time desmoronava, sendo que contra a Alemanha houve uma desagregação total a
ponto de deixarmos o campo aberto por cinco minutos. Colocamos nos pés de onze
jovens a salvação do Brasil o que ficou evidente no discurso de David Luiz: “Eu
só queria dar alegria para o meu povo que sofre tanto”. Além de ganhar o jogo,
eles precisavam carregar pátria nos ombros, um peso excessivo para se levar
para dentro de um campo.
No intuito de promover uma adesão maior, o técnico talvez tenha
infantilizado o time com a tal “família Scolari”. O Felipão tentou reproduzir o
time de 2002 em 2014, mas acabamos por repetir 1998. Mais uma vez nossas maiores
estrelas, Ronaldo e agora Neymar, sofreram problemas e a seleção viveu um
apagão total graças a enorme dependência a estes jogadores estelares.
O resultado de tudo isso foi catastrófico para os
brasileiros, a humilhação e a vergonha na nossa própria casa diante da goleada
tomou conta dos nossos corações e mentes. Da esperança da redenção do Brasil dos
seus problemas cotidianos e diante da euforia que vivemos nesses dias, nos
espatifamos no chão da nossa realidade. Sofrer uma derrota é sempre muito difícil,
porém ela se tornou titânica porque somente a vitória colocaria o Brasil no
patamar de orgulho necessitado pelos brasileiros.
Parece que tornamos a vivenciar o complexo de vira-lata: ou
somos os melhores em tudo ou os piores. Não é nem preciso mencionar que essa visão
é míope e mistura nossos feitos esportivos com a realidade social política
brasileira. Houve um exagero do excelente jornalista Nelson Motta, comparar o
7x1 ao 11/9 é no mínimo insensível, mesmo que seja num nível metafórico. Afinal
perdemos um jogo, mas nossas vidas estão ai e precisamos mais do que nunca lutar
por elas. “Vambora”!
Nenhum comentário:
Postar um comentário