SOS: Mais realidade, menos corrupção, mais planejamento |
Vimos na TV a Copa do Brasil 2014
sendo maravilhosa. Um show de futebol, organização, alegria e drama, tudo o que
uma partida de futebol pode ser. As grandes surpresas foram as seleções “menores”
disputando com igual vigor, muitas vezes roubando a cena das tradicionais
outrora potências do futebol mundial. Um belo espetáculo!
A Copa vista na TV é um pouco diferente
da Copa que aconteceu nas ruas do Brasil. Houve uma criteriosa seleção de notícias
nas últimas semanas com o objetivo de manter a animação e o espírito positivo
durante os jogos, entretanto para que o circo da Copa acontecesse, diversas concessões
foram feitas com enorme impacto na ordem e na economia.
Os aeroportos ficaram quase prontos
e conseguiram atender um grande fluxo de passageiros sem grandes tumultos, o
sistema de transporte permitiu uma mobilidade bem diferente da que nós
moradores conhecemos. Parece milagre, mas, na verdade, foi graças aos feriados
impostos pelos municípios que ordenaram o fechamento das escolas e repartições
públicas. A cidade parou por mais de um mês para realizarmos esse custoso
evento.
O cenário artificial criado com
as férias extemporâneas prejudicou o exercício de nossas profissões, com empresários
de porte médio em dificuldades com suas folhas de pagamento. O tão propalado lucro,
de cuja existência eu até duvido, deu-se na área de bares, restaurantes, hotéis
e lojas de pequenos objetos Os eventos necessitam caber no calendário do nosso
povo.
As Forças Armadas, Exército,
Marinha e Aeronáutica cumpriram os seus papéis, auxiliados pela Polícia Civil,
Militar e Guarda Municipal garantindo a segurança do evento. Fazia tempo que
não nos sentíamos tão seguros, devido ao gigantesco efetivo temporário, as ruas
foram inundadas de policiais. Pena que não é assim todo dia, com o fim do
evento, voltamos à nossa barbárie diária. Às treze horas do dia 17 de julho, no
bairro da Gávea, a nossa querida Cristina Mascarenhas foi assassinada num
assalto ao sacar dinheiro para pagar seus funcionários. A dor ainda é enorme,
mas esse é o Rio que conhecemos.
Outra notícia pouco divulgada
foram os abusos da PM do Rio de Janeiro, velha conhecida nossa, que nos moldes
da ditatura, reprimiu de forma covarde uma manifestação pacífica na Tijuca. As
imagens são aterradoras e falam por si só, manifestantes e jornalistas sendo
agredidos gratuitamente.
Como sempre, também batemos os
últimos pregos cinco minutos antes dos jogos. Considerei como uma falha
importante das nossas fronteiras, não terem obtido informações dos nossos
visitantes sobre o tempo de permanência na cidade, os recursos disponíveis para
essa estada e onde se acomodariam, prática comum nas fronteiras de qualquer
país. Como legado, palavra tão em voga, ganhamos milhares de imigrantes
ilegais, refugiados e outros que aproveitaram a copa para mudar de país. Parece
que adotamos a política do “quanto mais gente, melhor”.
Para compensar o despreparo e a
falta de planejamento, mais concessões e uma postura leniente foi adotada em
uma cidade que é Patrimônio da Humanidade. As autoridades curvaram-se diante da
invasão dos hermanos que se
acastelaram nas praias, usando-as como dormitórios e banheiros. Sob pressão dos
moradores, o Terreirão e o Sambódromo foram cedidos como área de estacionamento
e camping, já que estavam também nas praias.
Nenhum país sério daria permissão
para tanto abuso como nós demos. A isenção de impostos do faturamento da Copa, que
permitiu que bilhões de reais que fossem embora, é um verdadeiro ultraje. Basta
se olhar as próximas sedes (Rússia e Qatar?), nenhum país minimamente
responsável aceitaria os termos impostos pela FIFA.
A privilegiada posição
geopolítica que a Alemanha ocupa no continente europeu, o que também nos foi
apresentada no futebol, deve-se a um minucioso planejamento, à logística, à
ação calcada em orçamentos prévios. O trabalho com afinco é, desde cedo, levado
a sério, enquanto aqui é vista como coisa de otário.
Frequentemente acompanho
entrevistas de arquitetos e urbanistas renomados que pensam a cidade, que ficam
atentos à nossa geografia, ao nosso ambiente, à população que nela se insere,
de modo a que seja possível uma vida com qualidade. Inúmeras vezes eles mostraram
a inviabilidade da execução de obras sem planejamento, sem logística, gastando-se
um dinheirão, sempre fazendo e desfazendo a obra, dilatando-se prazos e
encarecendo o trabalho. Tudo foi denunciado e caiu no vazio.
Aprender deve ser um exercício diário nas nossas vidas. Penso que nossas autoridades podem tirar proveito do que deu certo, pensando no que a Alemanha nos ofereceu, e abolir definitivamente o jeitinho que damos nas nossas soluções. Precisamos ser um país sério, para finalmente conseguir exportar uma imagem real, sem maquiagens. Fazendo da Copa vista na TV e a que aconteceu uma só.
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