Finalmente conquistamos um primeiro lugar! Desta vez, em um item de real relevância, pois acabamos
de receber uma “honrosa” classificação dada pela Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico. Somos o primeiro lugar em bagunça na sala de aula.
Os professores perdem vinte por cento do seu tempo disponível em classe para
combater a indisciplina. São destinadas às atividades pedagógicas sessenta e
sete por cento do horário escolar. Há muitos e muitos fatores que dão origem a
esse gravíssimo problema, mas não posso deixar de mencionar que a bagunça é
algo institucionalizado em nosso país.
A minha preocupação da vez é a bagunça ambiental. De algumas
décadas para cá, a população das cidades cresceu de 15 milhões para 180 milhões
de habitantes. Formaram-se metrópoles e duas megacidades, tudo na base do
famoso e detestável arranjo “vamos fazer, depois a gente vê como fica”, fruto
de um imediatismo infantil, onde nem o momento atual é observado, quanto mais a
preocupação com um verdadeiro planejamento que permitirá ampliações futuras de
modo a atender demandas populacionais.
O espaço público é quase sempre bombardeado com o intuito de
favorecer algum segmento da sociedade. Planejamentos voltados para o bem da
população, de modo a oferecer qualidade de vida são raríssimos. Atropelam-se as
leis que regem proteção ambiental, assim como a preservação estética e ética da
cidade.
Atualmente, há propostas de elevação do gabarito em várias zonas
da cidade. A Câmara dos vereadores do Rio aprovou projeto de lei que estabelece
incentivos para a construção de centros de convenções no andar térreo dos
futuros edifícios destinados à hotéis. Vinte e dois parlamentares tiveram a
coragem de assinar o projeto de lei complementar 79A /2014 que certamente
contribuirá para o adensamento urbano.
Que esse projeto tenha sido idealizado pela associação
Brasileira da Indústria de Hotéis não é nenhum fato surpreendente, inclusive há
uma indicação para que se destine até seis pavimentos para exposições e eventos.
O que eu considero uma tristeza, para não dizer um escárnio, é a falta de
atenção ao Plano Diretor da Cidade que traça as linhas para uma política de
desenvolvimento urbano. O planejamento do município não pode ser alheio ao uso
e ocupação do solo que estão bem delineados no Plano Diretor.
O Instituto dos Arquitetos do Brasil se posicionou de modo
bastante crítico e veemente ao projeto que exibe diretrizes em desacordo ao
Plano Diretor. Tenho assistido, com grande incredulidade, às mudanças que se
processam na cidade e que inutilizam as comunidades dos arquitetos e urbanistas,
que deveriam constituir os pilares para modificações necessárias, visto que o
adensamento populacional é uma realidade.
A verticalização das ações desses parlamentares é impressionante.
Parece-me que legislam para o vácuo, além de desconsiderar os profissionais que
entendem do assunto, nem por um instante se cogitou de submeter o projeto à
audiência Pública com a participação da população e das associações que
representam a sociedade, afinal somos nós que vamos arcar com as consequências.
O Porto Maravilha como um todo me preocupa. Sei que está
difícil o desenvolvimento do poder construtivo desse local, parece-me que o Porto
não obteve o sucesso esperado. Há muitas propostas para este local, como
incentivos fiscais para a construção de prédios. Estes possuirão torres
altíssimas e os diferenciais bastante tenebrosos como a possibilidade de
flexibilização quanto à existência de garagens. Outro fantasma é o discutível
sala e quarto, conhecidos também como “já vi tudo” ou JK (janela e quitinete).
Qualquer local, por mais bonito que seja, infestado de
automóveis e veículos de serviço está fadado à falência estética. Todos sabemos
que, hoje em dia, o automóvel é o objeto de desejo mais almejado da população.
Pode faltar tudo, menos o automóvel. Creio que a minha preocupação é
pertinente.
Nós vivemos mergulhados nas desordens institucionais, as
leis não são para todos, parece que alguns são atendidos até no que é absurdo e
outros são tão vilipendiados que chegam a desconhecer o significado da palavra
cidadania. A falta de observância às leis e regras, tão comuns na nossa vida
cotidiana, parecem absolutamente inofensivas, no entanto nos remetem aos
primórdios da vida, às leis taleônicas, às”
Terras de Marlboro”, ao salve-se quem puder, ao que não me importa o outro.