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A partir do artigo de Luiz Garcia, nosso sensato e sempre
oportuno jornalista, sob o título “Da favela ao bairro”, resolvi contribuir com
algumas reflexões.
Sempre me constrangeu morar no chamado asfalto e vislumbrar
o colar de favelas que circundam a nossa linda cidade, porém trazer este
assunto à tona não é fácil. Neste mundo ultra politicamente correto qualquer
questionamento acerca de qualquer tipo de minoria é visto como xenofobia,
racismo, fascismo, nazismo e qualquer outro “ISMO” da pior estirpe.
Perturbava-me a maneira como os moradores, a partir do vácuo
deixado pelo poder público, viam no tráfico e nos traficantes, alguém que
pudessem auxiliá-los ou até impor certa ordem, nem que fosse pelo terror. Num
complô sigiloso, procuravam viver da melhor maneira possível, apesar do pavor
das mães que seus filhos pudessem ser cooptados pelos ganhos fáceis do tráfico.
A partir do nosso Secretário Beltrame, administrador
exemplar, ciente das atribuições do seu cargo, movido pelo espírito cívico e
não eleitoreiro, conseguiu-se que algumas favelas fossem pacificadas. Assim
sendo, foi detonado o estopim para se fazer a apologia das favelas.
Não é importante que o esgoto corra a céu aberto, que as
casas sejam minúsculas e que a partir da gravidez precoce das filhas novas
casas sejam empilhadas, que as encostas sejam cobertas de lixo e que, mesmo que
os garis sejam retirados do asfalto (é frequente vermos os porteiros dos
prédios varrendo as ruas), não se consegue dar conta do lixo.
Incensando-se as favelas, dois objetivos são atingidos: o
primeiro é que aparentemente se eleva a autoestima dos moradores e a segunda é
aplacar a consciência dos nossos políticos (estou me referindo aos que ainda a possuem).
Não precisarão se preocupar com políticas de habitação e de transporte.
Milhões são gastos em teleféricos, tenta-se levar cultura às
favelas, que são aspectos importantes
para quem vive na comunidade, porém o essencial não é feito. Dizem que a cidade não é mais partida, trazem
mensagens de uma igualdade que não existe. Favela não é moradia digna é uma
falta total de opção e um grande atestado de incompetência no que se refere às
políticas de habitação e transporte. É mais vistoso um teleférico e menos
trabalhoso do que a execução de obras de saneamento.
Do ponto de vista
ecológico, o desmatamento é preocupante, o calor é cada vez mais sufocante,
pois a cidade, estrangulada entre uma muralha de edifícios cada vez mais altos
(as empreiteiras agradecem, as torres do Porto Maravilha estão aí) e os morros
sem a sua vegetação provocam mudanças climáticas regionais. Toda a população
sabe que as favelas crescem de modo horizontal e vertical, mas nossos políticos
nunca sabem nem veem nada.
Para completar e encobrir toda a falência do poder público
no quesito moradia surge a “boa notícia” de turistas visitando favelas, o mais
espetacular jeito de viver.
Penso nos moradores, na invasão de sua privacidade, no
receio deles, no constrangimento ao serem expostos a milhares de pessoas
totalmente desconhecidas, enfim serem participantes da mais nova modalidade de
Big Brother, aquela que, sem se inscreverem, recebem o seguinte título: a
sétima economia do mundo exibindo a sua miséria.