O assunto é de uma complexidade imensa, mas gostaria de
abordar alguns pontos que tornam o estudar um suplício para grande número de
alunos.
A observação dos currículos me dá a impressão de que o
volume de informações e conhecimentos que se pretende que o aluno saiba é enorme
em detrimento do pensar, estabelecer relações, ter juízo crítico e criar. Não
existe a preocupação em se atrair a criança para o que está próximo a ela, pois
ao se iniciarem as atividades escolares, o desenvolvimento cognitivo é
favorecido por atividades da vida cotidiana. A metodologia é distante das
propostas do mundo atual que é desenvolver o pensamento. Além disso, estarão os
professores preparados e motivados para novas abordagens de ensino? Não podemos
nos esquecer de que há muito tempo a remuneração dos professores é vergonhosa, o
que afasta profissionais que optam por outras carreiras.
Outro fator importante diz respeito ao exacerbado número de
compromissos imposto às crianças: horário escolar, deveres de casa, prática de
esportes, cursos de línguas estrangeiras, consultas médicas, etc., sem contar
com os estafantes congestionamentos do
trânsito que certamente são perturbadores e contribuem para um desgaste físico
e mental.
Igualmente importantes na vida das crianças são as mudanças
da organização familiar. A estrutura da família obedece a padrões
diferenciados: casais que trabalham fora, casais que se separam e os filhos
passam a ter novos irmãos provenientes dos casamentos anteriores dos pais, casais
homoafetivos, mulheres que sustentam e cuidam de seus filhos sozinhas, etc.
Essas mudanças afetam a vida das crianças e novos desafios emocionais surgem
diante de uma mente em desenvolvimento. Nessa cultura atual tudo parece natural
para os pais, mas não é, porque o mundo interno infantil se torna assoberbado e
sem possibilidades de enfrentar a multiplicidade de situações que o mundo externo
lhe oferece.
Como consequência do exposto acima, vemos as crianças
ansiosas, sem conseguir concentrar a atenção, hiperativas, praticantes de bullying. Muitos pais percebem isso e as
encaminham ao médico que revela se tratar de déficit de atenção e
hiperatividade. É possível que algumas crianças possuam este déficit, porém o
que me parece é que se trata de um quadro de forte ansiedade. Crianças
inquietas e aflitas sofrem e não conseguem bom rendimento escolar.
Não estou dizendo que em outras épocas as crianças não
padecessem de ansiedade, até porque certo nível de ansiedade é necessária à
vida, porem, atualmente, chama a atenção o expressivo número de crianças
ansiosas. Penso que o tempo dos pais, devido ao excesso de trabalho, é exíguo, e
então, do ponto de vista afetivo e relacional, eles não têm condições de atender
às necessidades das crianças mais aflitas, que sentem o desconforto, mas não
conseguem lidar com ele. Diante desse impasse os pais também sofrem.
As saídas que as crianças encontram para seus padecimentos, pelo
menos de momento, infelizmente, chamam-se iPad, Facebook, iPod, iPhone e
derivados, se refugiando na conectividade.
Finalmente, ao chegarem ao ensino médio, nova batalha se
impõe, o ENEM, e aí novas configurações emocionais surgem. Criados sob a égide
do consumo, os jovens percebem no topo
da pirâmide os jogadores de futebol e as “top models”, e na parte inferior, os
que com muito esforço conseguiram vencer todos os entraves, os médicos, advogados
cientistas, pesquisadores, professores (destes, nem dá para se falar, os coitados),
profissionais que chegam ao pós-doutorado, que lutam por um retorno financeiro compatível com as
necessidades de uma vida com razoável conforto. Entretanto, a frustração é
paralisante, pois o retorno financeiro é irrisório visto o tempo e a dedicação
investido.
Portanto, a pergunta é: vale a pena estudar? É só olhar as
praias em dias ensolarados durante a semana e a frequência noturna aos bares,
aí termos a resposta.